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Vítimas de perseguição na Volks seguem sem reparação

Um ano depois de montadora admitir violações aos direitos humanos de operários na ditadura militar, nada mudou

Júnior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
20/01/2019 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Um ano depois de a Volkswagen admitir oficialmente perseguição e tortura a operários da planta de São Bernardo durante a ditadura militar (1964-1985), inquérito aberto pelo MPF (Ministério Público Federal) para apurar os abusos e as violações aos direitos humanos dos metalúrgicos que trabalhavam na empresa na época segue sem conclusão e as vítimas, sem reparação.

Em dezembro de 2017, a Volks divulgou relatório reconhecendo que a firma consentiu com perseguições aos metalúrgicos da planta de São Bernardo durante os anos de chumbo, inclusive confirmou a existência de listas negras com nomes de funcionários que integravam o movimento sindical e partidos políticos. Porém, negou que tal conduta tenha sido praticada de forma institucional e alegou que a postura se resumia às decisões do então segurança da firma, Adhemar Rudge, fato este que fez com que a montadora descartasse pagar indenizações individuais aos perseguidos.

Na época, o procurador responsável pelo inquérito, Pedro Machado, criticou o caminho adotado pela companhia, mas ponderou que o relatório seria objeto de análise. “Se realmente esta for a opção da empresa, isto é, de resumir a questão à atuação de subordinado (Rudge), de não assumir responsabilidade, penso que o caminho adotado é decepcionante”, criticou o procurador, há um ano.

O Diário procurou novamente o promotor e, por meio de nota, o MPF informou que o procurador recebeu a perícia feita pela Promotoria e o levantamento da Volks, mas que os relatórios ainda “estão sendo analisados e cruzados com as provas e demais elementos colhidos no inquérito civil” e que, “quando houver novidades, serão amplamente divulgadas”. O MPF destacou ainda que nenhuma ação civil foi ajuizada porque “a meta é resolver a questão extrajudicialmente”.

DISCURSO
O metalúrgico aposentado Lucio Antonio Bellentani, 74 anos, era ferramenteiro da Volks durante a ditadura e foi uma das vítimas das perseguições. Em dezembro de 2017, contou ao Diário ter sido torturado pelos policiais do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) dentro do departamento pessoal da empresa. Sem nem ter recebido um pedido de desculpas sequer, Bellentani lamenta o fato de o caso ainda não ter sido concluído.

“Eu me sinto extremamente frustrado. Acho um absurdo inexplicável essa atitude da Volks que, agora, diz que mudou sua atitude, mas para mim não houve absolutamente nenhuma mudança, só no discurso”, criticou. O ex-ferramenteiro afirmou ainda que há processo de negociação com a montadora, sem previsão de ser concluído, para que a empresa financie a construção de memorial em homenagem às vítimas das violações dos direitos humanos e também auxilie financeiramente a investigação de fatos semelhantes e que teriam ocorrido em outras empresas. Eles também exigem um pedido de desculpas públicos por parte da Volkswagen.  




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