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Estado esquece viúva do caso Barão de Mauá
Por Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
08/09/2008 | 07:00
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Ela quer justiça. Há oito anos Maria Francesca Gigliotti Riviello, 39 anos, convive com o descaso do poder público. Em abril de 2000, ela perdeu o marido em uma das maiores tragédias ambientais do País. O caso Barão de Mauá foi descoberto com a morte de Geraldo Riviello, única vítima fatal em uma explosão que teve ainda outro técnico ferido e que revelou a contaminação do residencial, construído sobre um antigo lixão industrial em Mauá. Hoje, além da dor da perda, a viúva convive com o esquecimento. O Estado não lhe pagou indenização nem encontrou os culpados pela morte do companheiro de uma vida.

Técnico em manutenção, ele trabalhava no subsolo de um dos prédios quando o fogo causado por gases que evaporavam da terra destruíram o sonho de uma família. "Naquele dia, ele saiu de casa e fiquei com um aperto no coração. Recebi a ligação poucas horas depois. Disseram que um acidente muito grave havia acontecido. E foi tão grave que o encontrei em uma cama de hospital todo cozido, sem pele e gritando de dor", conta.

Ao ser comunicada da explosão, Maria, que mora em Santo André, pegou o carro e foi para Mauá sem saber o que procurar. Desesperada, ficou rodando até que o irmão ligou para avisar que Geraldo Riviello estava internado no Hospital Brasil, em Santo André. "Ele não queria que eu entrasse para vê-lo, mas insisti. Nós construímos uma família e estávamos juntos há 17 anos. A visão que tive foi chocante. Ele estava em carne viva, com o rosto inchado e morrendo de dor. Falamos pouco. Depois, ele foi sedado", lembra.

Foram quatro dias de agonia. Internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), o técnico ficou isolado por um vidro para evitar infecções. A família conta que os médicos tentavam amenizar as queimaduras com soro fisiológico, mas a pele não absorvia. A explosão atingiu 90% do corpo.

"Sabia que o estado dele era grave, mas imaginava que ele pudesse viver. Ele era o meu amor, a pessoa que escolhi para a minha vida. Meus pés foram cortados naquele momento. Minha estrutura desmoronou. Foi tudo tão traumático que quase não pude velar meu marido. Quando cheguei ao IML (Instituto Médico-Legal), o funcionário disse que o corpo dele estava destruído."

O tempo não amenizou o sofrimento. Pelo contrário. A tragédia deixou a família arruinada financeiramente. E a empresa onde Riviello trabalhava quase foi à falência. "Fiquei oito meses sem conseguir contratar um funcionário. Ainda tenho muitas dificuldades, preciso escolher qual conta pagar no começo do mês. Meu irmão assumiu os estudos dos meus filhos (Bianca, 18 anos, e Leonardo, 11), que estão traumatizados e com problemas na escola. Acabaram com a nossa vida por dinheiro. Aquele lugar é um inferno. Tudo poderia ter sido evitado se tivessem estudado o terreno. Mas a Cofap deve ter vendido por um preço barato", acusa Maria.

A ação ingressa na Justiça de Mauá, em 2002, contra a Prefeitura de Mauá e a construtora Soma não surtiu efeito até agora. A família Riviello pediu R$ 1,5 milhão de indenização, mas o processo ainda não foi sentenciado. "Isso só me faz ter certeza de que a vida não tem valor para essas pessoas. Os moradores reclamam de bens materiais, mas o meu marido perdeu a vida. A Justiça deve ser para todos, mas para a minha família deveria vir de forma mais rápida."




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