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Projeto social oferece aulas de judô a 200 crianças em Ribeirão

Em 14 anos de existência, ação já formou 5.000 crianças na modalidade esportiva

Por Bianca Barbosa
Especial para o Diário
16/09/2018 | 07:00
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Todas as terças, 35 crianças chegam pontualmente às 8h30 na Academia Nery, no Centro de Ribeirão Pires. Os olhinho pesados de sono dão lugar a sorrisos animados assim que a aula de judô começa. O grupo de 200 alunos integra projeto social criado em 2004 pelo sensei Marcelo Nery, 42 anos. Em 14 anos, a ação já formou 5.000 crianças em diversos tipos de artes marciais. E a formação integral conta com 180 vagas disponíveis para crianças com idade entre de 6 e 17 anos.

Tudo começou há 23 anos, como hobby, em academia improvisada no fundo da casa dos pais. Após ficar desempregado na indústria química, Nery resolveu se dedicar ao projeto social. “Larguei tudo e me dediquei totalmente às aulas. Como algumas crianças não podiam pagar, abri 20 vagas para quem era de Ribeirão Pires e Rio Grande.”

Durante os anos, o projeto formou 27 faixas pretas em judô. Entre os mestres graduados está Eliandro Siqueira, 41. “Treinei quando criança em outra academia, cheguei ao projeto com faixa laranja, e me graduei aqui”, revela o ex-metalúrgico. Ele abdicou da carreira na indústria para se dedicar à arte marcial. “É uma profissão gratificante. O reconhecimento das crianças é a melhor coisa para mim”, contou.

Siqueira fez dupla com Nery no Pan Americano que ocorreu na Costa Rica neste ano. “Fomos pela Seleção brasileira, não obtivemos um resultado muito bom, mas tivemos a oportunidade de representar o País”, completou.

Quem também sonha em representar o Brasil em uma competição internacional é Rafael Costa, 7. O pequeno revela já ter aprendido diversos golpes de judô e também palavras japonesas, no entanto, assume que precisa de dedicação extra na escola. A mãe, a auxiliar de recursos financeiros Milene Costa, 36, ressalta o reflexo do projeto no desempenho escolar dos dois filhos. “Ele e o meu filho mais velho fazem judô. Os dois melhoraram bastante depois do projeto. São crianças focadas. Não tenho o que reclamar em nada”, contou.

Outra mãe, a professora Nina Prado, 51, concorda. “É um projeto de referência e as crianças se sentem à vontade aqui. Meu filho sempre foi um bom aluno, mas as aulas daqui trouxeram autoconfiança. Ele consegue se expressar mais, é mais seguro”, falou.

SUPERAÇÃO - Muita gente desconhece o judô, que consiste na auto defesa, com golpes para derrubar o oponente, sem socos ou chutes. “Assim como a vida, quantas vezes a gente não é derrubado e tem que arranjar forças para se levantar de novo e continuar lutando? É um ensinamento para a vida. Não passou no vestibular, estuda e tenta de novo. Foi demitido, procura outro emprego.” Segundo o sensei, a modalidade prepara o jovem para o futuro. “Ele pode até não se tornar um campeão nos torneios, mas será campeão na vida”, disse orgulhoso.

COMO PARTICIPAR - Conforme Nery, para a criança participar, basta que esteja matriculada em escola pública e tenha entre 6 e 17 anos. É cobrada taxa simbólica de R$ 90 a cada seis meses para custear salário dos professores, kimonos (uniformes) e campeonatos. “Para passar de faixa no judô, por exemplo, a gente olha o boletim escolar, cobra um relatório familiar – no qual os pais dão uma nota de zero a 10 para o filho –, e avalia o desempenho nas atividades da academia. Tudo isso somado, dá uma média para conseguir a faixa.”

Apesar de o projeto ser beneficiado pela lei de incentivo ao esporte do Estado, que dá a oportunidade de receber o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de empresas, conforme Nery, poucas doam. “Elas não aderem. Acho que têm medo, por falta de informação e de divulgação. Já recebemos de algumas, mas foi um, dois meses, e pronto. Não é uma ajuda continuada”, explicou. 




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