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Criminalidade estimula a união de vizinhos no Grande ABC

Sensação de insegurança motiva criação de grupos de WhatsApp entre moradores no intuito de evitar roubos e furtos

Por Bia Moço
09/09/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


A sensação de insegurança, proporcionada pela constante criminalidade, tem intensificado a união entre os vizinhos do Grande ABC na tentativa de evitar roubos e furtos. A tecnologia virou aliada, por meio dos grupos de WhatsApp, no resgate da tarefa de ‘cuidado recíproco’ entre moradores de determinados bairros.

Na região, a aproximação entre pessoas de uma mesma comunidade já era realidade por meio do programa da PM (Polícia Militar) Vizinhança Solidária em quatro cidades: Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema. No entanto, com o avanço da preocupação em relação ao crime, foram necessárias novas ferramentas para intensificar a ‘vigia’ nos bairros.

Em Santo André, por exemplo, cinco bairros – vilas Scarpelli e Floresta, Valparaíso, Bom Pastor e Pinheirinho – se uniram, além do Vizinhança Solidária, em um único grupo de WhatsApp para facilitar os alertas sobre possíveis atitudes suspeitas, roubos e furtos.

O administrador de empresas Augusto Cuesta Hernandez, 57 anos, mora na Vila Scarpelli e, com o grupo, sente que ajuda os vizinhos e que sua casa está segura. “Sempre peço para que olhem minha casa quando estou viajando e olho a de quem pede também. Acredito que assim conseguimos nos assegurar um pouco mais contra os bandidos.”
No entanto, um colega de bairro, que preferiu não se identificar, ressaltou que nem todos os vizinhos colaboram. “Tenho medo de falar nestes grupos, até porque não sabemos da índole de todas as pessoas que ali estão. Aliás, nem conhecemos a maioria dos vizinhos. É complicado.”

Na Vila Humaitá, onde o programa da PM ainda não vigora, a vizinhança utiliza o aplicativo do celular na tentativa de se proteger. O grupo do WhatsApp já conta com 300 moradores. O próximo passo, segundo eles, é contratar o serviço de guarita fixa com vigia das 19h às 7h.

Ana Paula Ferrareze, 34, mora na Vila Humaitá desde que nasceu, mas afirma nunca ter sentido tanto medo. “Roubam durante o dia. Não tem mais hora. No ponto de ônibus tem arrastão todas as manhãs. Está insustentável a situação.”

Já em São Bernardo, o bairro Nova Petrópolis ostenta caso de sucesso do Vizinhança Solidária. Desde que o programa da PM foi inserido, em dezembro de 2016, a criminalidade registrou queda de 80%, conforme o coordenador do programa e integrante do Conseg (Conselho de Segurança), Walter Resende Filho, 60. Segundo ele, a medida é eficaz desde que haja união da vizinhança. “As pessoas reclamam que não tem PM passando nas ruas, mas não entendem que a polícia trabalha de acordo com a demanda. O problema é que a população não faz boletim de ocorrência e espera que a polícia adivinhe os crimes. Justamente para isso que existe o programa, para que os vizinhos se ajudem e chamem o 190”, explicou.

A PM justificou que o programa encontra-se em fase de aperfeiçoamento na região, “sempre focando no diálogo com a comunidade local, especialmente por meio dos Consegs (Conselhos Comunitários de Segurança), e apela para que a população colabore com informações”.


Bairro planejado também quer aderir ao programa

Embora o Parque Espacial, em São Bernardo, tenha sido planejado para minimizar os efeitos da criminalidade, tendo em vista a existência de cancelas nas quatro entradas, como um condomínio fechado, moradores ressaltam problemas com a criminalidade.

Casal de moradores do local entrevistado pela equipe do Diário e que preferiu não se identificar relata ter vivenciado momentos de “pânico” em fevereiro do ano passado, quando teve sua casa invadida por criminosos. “Estavam uniformizados com logo de empresa famosa. Disseram que vieram fazer um serviço e, quando abri o portão, anunciaram o assalto. Meu marido, a empregada e eu ficamos por horas trancados no banheiro da suíte. Levaram tudo”, lamentou a senhora.

A moradora destacou ainda que outras casas do ‘condomínio’ foram invadidas nos últimos 12 meses. Segundo ela, uma das coisas que mais incomodam é que as cancelas nas guaritas e presença de vigias não têm surtido efeito. “As cancelas ficam abertas e entra quem quer. A pracinha (Praça Juliano Versolato) vive cheia de jovens usando drogas, bebendo e ouvindo música alta. E o que o poder público faz? Nada. Os guardas daqui também não.”

Já o morador Maurício Gasperini, 49 anos, considerou que, depois que as guaritas foram instaladas, em 2009, a sensação de segurança aumentou, apesar de concordar com o problema da praça. “O espaço fica cheio de jovens. Embora me sinta seguro aqui, sei que tem assalto e passam muitas motos olhando as casas por aqui.”
Questionada, a Prefeitura de São Bernardo informou que a GCM (Guarda Civil Municipal) faz rondas periódicas pelo bairro e que o serviço foi intensificado com instalação de base da Romu (Ronda Ostensiva Municipal).

Para especialista, projetos só surtem efeito quando há engajamento

Para o professor de Direito e coordenador do Observatório de Segurança Pública da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), David Siena, é preciso conscientizar a população para que os resultados de projetos como o Vizinhança Solidária sejam percebidos. Além disso, o especialista alerta para a necessidade de haver o programa em bairros periféricos, não apenas em localidades de classe alta.

“O projeto pode ser classificado como programa de polícia comunitária, o que eu acho bem bacana. Esse modelo busca a prevenção do delito. A polícia deixa de atuar de forma meramente reativa e busca a prevenção. Só que, para que isso ocorra e tenha eficácia, é preciso da participação popular efetiva”, explicou Siena. Ele acredita que os moradores podem ter papel mais ativo dentro da Segurança. “A ideia de polícia comunitária não nasceu no Brasil, já vem sendo trabalhada desde 1960 nos Estados Unidos e Canadá, e está bem consolidada fora do País. É uma política pública perfeita. Mas é claro, tem de analisar a forma como está sendo aplicada. Se realmente há esforço dos gestores e da população.”

Para ele, a aproximação entre polícia e população não pode se limitar aos bairros que concentram pessoas com maior poder aquisitivo. “Tem de estar implementado em toda a região. Inclusive periferias”, criticou. 




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