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O inverno da esperança
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
14/06/2010 | 07:00
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"Estrelas preenchem o céu, então caem para inundar ruas e praças. Quando chove, até a mais insignificante poça é um mapa do universo." Este é um trecho de O Amor Começa no Inverno (Editora Arx, 224 págs., R$ 29,90), do galês Simon Van Booy.

Ou melhor, assim é o livro inteiro, uma colcha de retalhos em que cada frase é um mapa do amor. A obra é composta por cinco contos. Pieguismos à parte, o romantismo que ele exala não é fruto da paixão inesperada ou do amor heróico. Não é folhetinesco nem água com açúcar.

O amor que Van Booy trata é um sentimento que é feito de sombra e de luz, que se acopla ao cotidiano e o aceita mesmo quando o tinge das cores mais sóbrias.
Esse é o terceiro livro do escritor. Foi vencedor do prêmio International Frank O'Connor Prize de 2009. Sua primeira obra lançada no Brasil, no ano passado, é A Vida Secreta dos Apaixonados.

O primeiro conto, de título homônimo ao livro, fala sobre um violonista e uma vendedora. Ambos sofreram perdas terríveis na infância e carregam o trauma até a vida adulta. Quando se encontram, se interessam e passam a viver juntos.

As experiências pelas quais os dois passaram, como descreve o protagonista, "não diminuíram nossa felicidade, guiaram-na, aprofundaram-na e nos encheram de uma paixão da qual precisaríamos para sustentar nosso amor nos dias que estavam por vir."

O arremate é: "Um gentil lembrete de que aquilo que temos já está perdido." Os outros contos, um pouco herméticos, menos inspirados, segue a linha das simplezas. Uma pediatra, que tornou-se médica de crianças para salvá-las - em função de um trauma de infância - descobre em diários de um velho médico uma maneira de sarar os prejuízos que sua alma sofreu quando era menina.

O terceiro é feito de reminiscências e encantamento. Um garoto embarca de volta à viagem que fez com um gondoleiro, quando era criança, numa piscina em Las Vegas. E se sente triste por sentir um espaço da sua história faltando.

O Ir e Vir de Estranhos, quarto texto, fala sobre ciganos que se estabelem a beira-mar na Irlanda. O último conta a história de um semiautista que descobre uma filha num ringue de patinação e muda de vida.

Aridez - O inverno, o mar gelado e a neve são as paisagens do cotidiano de Van Booy e seus personagens. O calor que mantém suas vidas acesas vem da suavidade: o silêncio, um braço estendido, a contemplação do vazio e a busca do nada.

Não para quem se inspira pelo amor perfeito ou pela saga dos triângulos amorosos, esse livro é a medida ideal para quem busca um sorriso pelo que vem mais fácil e está próximo: o momento em que uma paisagem, um anônimo ou a história do outro se descortinam ao seus olhos e refletem a importância que se deve dar a essas pequenas coisas que compõem a vida.




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