Depois que a imagem de uma bexiga esvoaçante murchou na gigantesca tela da Arena do Cobo Center, uma chuva de borboletinhas de papel caiu sobre centenas de jornalistas que assistiam a apresentação da Ford na edição 2011 do Salão do Automóvel de Detroit, que estará aberto ao público de 15 a 23 de janeiro.

A cena, intercalada entre discursos dos executivos da montadora, foi uma clara provocação contra a rival General Motors, que tentou sair na frente na corrida para desenvolver um veículo 100% elétrico ao anunciar há três anos o Volt. Só que a Ford se considera em melhor posição, mesmo não tendo cacarejado tanto quanto a concorrente.

Se paira no ar uma clara guerra de nervos entre as eternas rivais montadoras norte-americanas sobre o predomínio dos elétricos, ambas, porém, sinalizam que o futuro próximo será dos carros compactos alimentados por fontes renováveis de energia - ainda que nas ruas dos Estados Unidos atualmente só rodem os carrões que consomem muito combustível fóssil.

Com a parceria entre Chrysler e Fiat ainda engatinhando, Ford e GM ditam as tendências no mercado norte-americano, seguidas pelos asiáticos e europeus. Analistas apontam que em menos de um ano o galão da gasolina nos Estados Unidos estará custando US$ 4. Um ano atrás, estava em menos de US$ 2 - preço que dificilmente voltará. Com isso, os dias das banheiras estão contados.

Mas, ao contrário de projetos mirabolantes, a Ford afirma que a sua estratégia está baseada em modelos compactos já aprovados pelo consumidor, em versões elétricas, como por exemplo o Focus. Na Arena do Cobo Center, um espaço mítico para lutas de boxe, a montadora apresentou a linha de veículos com a qual pretende dar sua contribuição ao mundo menos dependente do petróleo.

Entre as novidades está o Ford Focus Electric, que estreia no final do ano nos Estados Unidos, além do C-Max Energi, híbrido plug-in (usa propulsão elétrica e motor a combustível apenas para recarregar as baterias, como o Volt, com autonomia de 800 quilômetros), e o C-Max Hybrid, que fará sua estreia na América do Norte em 2012 e, na Europa, em 2013.

Desenvolvido sobre o novo Focus, o Focus Electric busca oferecer autonomia capaz de cobrir a maior parte dos hábitos diários de rodagem dos norte-americanos - cerca de 50 quilômetros por dia. O tempo de recarga é de três horas.

O C-Max Energi é baseado no C-Max convencional - veículo multiuso de cinco passageiros comercializado na Europa e que também passará a ser vendido nos Estados Unidos.

O C-Max Hybrid combina motores elétrico e a gasolina para rodar e visa proporcionar mais economia que o Ford Fusion Hybrid, o sedã que já é vendido no Brasil. Ele também utiliza a arquitetura híbrida powersplit - sistema de bateria de íons de lítio menor e mais leve. "A Ford entendeu que oferecer oportunidades de escolha aos clientes é o caminho que vai impulsionar a nascente de veículos elétricos", afirmou Alan Mulally, CEO da Ford. "Por isso, está lançando de uma só vez três modelos nesse segmento."

Segundo a Ford, sua nova geração de veículos elétricos introduz funcionalidades e tecnologias, incluindo versão do sistema de conectividade do motorista MyFord Touch.

Desenvolvido especialmente para elétricos, o sistema tem gerenciador de recarga econômica fornecido pela Microsoft e aplicativo de smartphone chamado MyFord Mobile, disponível na América do Norte, que ajuda os proprietários a controlar os veículos plug-in remotamente.

Executivos brasileiros não confirmam, mas como o C-Max tem a plataforma do Focus, talvez a minivan tenha chance de ser comercializada no mercado nacional. Ainda mais porque a Ford deixou claro em Detroit que sua estratégia é cada vez mais focada em carros globais, que, com adaptações locais, atendam ao consumidor em qualquer quadrante do globo terrestre.

A Ford apresentou também o conceito Vertrek. O utilitário esportivo adianta as linhas da próxima geração do Kuga feito sobre a base do novo Focus. O modelo deve substituir o atual Kuga europeu e o Escape norte-americano. O motor do Vertrek é 1.6 Ecoboost com tecnologia start-stop.