Com dois anos e um mês de existência, o HC (Hospital de Clínicas) de São Bernardo, idealizado pelo prefeito Luiz Marinho (PT), coleciona alto valor despendido e baixo retorno à população na comparação com o número de cirurgias realizadas no período. Levantamento feito pelo Diário mostra que, em 23 meses (entre dezembro de 2013, data da inauguração, e outubro, último dado fornecido pelo governo), somente 12% do total de procedimentos cirúrgicos prometidos foram cumpridos, enquanto se gastaram R$ 124 milhões no período.

No dia 13 de dezembro de 2013, com as presenças da presidente Dilma Rousseff (PT) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Marinho gabou-se de que seu hospital teria capacidade para realizar 1.500 cirurgias, 1.500 internações e 10 mil consultas por mês. A estrutura consumiu R$ 240 milhões dos cofres municipal, estadual e federal (29% a mais do orçado inicialmente), sendo que a média de custeio mensal seria de R$ 7 milhões (70% do aporte por conta da União). Ou seja, se cumpridas todas as promessas do prefeito de São Bernardo, em 23 meses o HC teria em seus registros 34,5 mil cirurgias feitas, o mesmo número de internações e 23 mil consultas cadastradas. No mesmo período, R$ 161 milhões teriam de ser aplicados para manter o complexo hospitalar municipal. Mas o que se verifica é apenas o valor do custeio se aproximando das projeções iniciais.

Entre dezembro de 2013 e outubro, 4.243 cirurgias foram realizadas (12,3% do total estimado). A média é de 184 procedimentos por mês – número bem aquém das 1.500 cirurgias mensais bradadas nos discursos de autoridades na inauguração do prédio. Por outro lado, os R$ 124 milhões consumidos (em contrato com a Fundação do ABC, gerenciadora do HC) representam 77% de tudo que Marinho aguardava gastar para manter o equipamento de Saúde. Ainda foram 6.930 internações (20,1% do total estimado) e 37.170 consultas (16,16%).

Na comparação de números em 2015 – quando o governo esperava ter 100% da capacidade do HC à disposição, mas não cumpriu –, o desempenho teve pequeno avanço. As 2.774 cirurgias entre janeiro e outubro representaram 18,5% da meta estabelecida inicialmente. O gasto, por sua vez, quase atingiu o cronograma feito ainda em 2013. No ano passado, a Prefeitura de São Bernardo depositou R$ 64,4 milhões para manter a estrutura – o objetivo traçado era despender R$ 70 milhões em dez meses (ou seja, o montante executado representa 92% da planilha original).

O HC de São Bernardo funciona atualmente com 90 leitos de internação e 20 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Marinho prometeu que até dezembro 180 vagas estariam à disposição no complexo hospitalar, construído justamente para atender demanda de cirurgias (o primeiro atendimento é realizado em outras unidades de Saúde da rede municipal).

A administração de Luiz Marinho não respondeu aos questionamentos do Diário a respeito do baixo número de cirurgias realizadas na comparação com a promessa feita pelo prefeito dois anos e um mês atrás. Os dados foram obtidos via Lei de Acesso à Informação.