Economia Titulo Balanço
Produção de veículos cai 22,8% em 2015

No ano passado, 716,9 mil unidades deixaram
de ser feitas no País, o equivalente a 1.964 por dia

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
08/01/2016 | 07:23
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Denis Maciel/DGABC


A produção de veículos no Brasil teve queda de 22,8% no ano passado na comparação com 2014, segundo balanço divulgado ontem pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Em números absolutos, o total de unidades fabricadas caiu de 3,146 milhões para 2,429 milhões. Isso significa que, em cada dia de 2015, 1.964 automóveis, caminhões e ônibus deixaram de ser montados nas fábricas do País.

A retração no setor é decorrente da recessão na economia brasileira, o que faz diminuir a procura por veículos novos. No ano passado, as vendas recuaram 26,6%, chegando a 2,154 unidades – desempenho similar ao de 2007. Em termos de produtividade, a indústria recuou aos níveis de 2006. Atualmente, o estoque das montadoras chega a 271 mil carros. Em circunstâncias normais, seriam necessários 36 dias para esvaziar os pátios. “A crise de 2015 não tem precedentes em termos de profundidade e tem junção com aspectos políticos. Essas questões políticas influenciaram a confiança e contaminaram a economia”, avalia o presidente da Anfavea, Luiz Moan.

Vice-presidente da entidade, Ana Helena de Andrade cita a insegurança por parte de investidores e consumidores como um dos principais responsáveis pelo desaquecimento do segmento. “A queda de confiança fez com que as pessoas planejassem, mas não concretizassem a compra de veículos”, exemplifica.

Diante da demanda menor, as empresas do setor tiveram que demitir para adequar a produção. Ao longo de todo o ano, 14.732 postos de trabalho foram fechados nas montadoras, o que representa queda de 10,2% no nível de emprego. O estoque chegou a 129,8 mil empregados, mesmo contingente registrado em maio de 2010, quando as vendas de veículos zero-quilômetro registraram aumento de 18,1% no acumulado de 12 meses – graças ao incentivo do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) reduzido.

Entre os pesados, a situação foi ainda pior: a produção de caminhões caiu 47,1% em 2015. Se considerado apenas dezembro, ante o mesmo mês em 2014, a diminuição foi de 51,7%. Em relação aos ônibus, foram fabricadas 34,7% menos unidades no ano passado.

Para Moan, o fato de o nível de emprego ter caído menos, proporcionalmente, do que os licenciamentos e a produção, reflete a preocupação das empresas do setor em manter a mão de obra. “Até por este motivo que, no ano passado, buscamos a aprovação do PPE (Programa de Proteção ao Emprego)”, complementa. Ele se refere ao mecanismo lançado no ano passado pelo governo federal e que permite que as empresas atingidas pela crise reduzam em até 30% a carga horária e o salário pago aos funcionários. Em contrapartida, o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) complementa metade do valor suprimido. Na prática, o operário atingido pela medida recebe 15% a menos.

Segundo o executivo, 35,6 mil funcionários do setor são elegíveis ou já aderiram ao PPE – só na região, 25 mil fazem parte. Outros 5.100 estão em lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) ou em férias coletivas.

EXPORTAÇÕES - As vendas para o Exterior impediram que a situação das montadoras brasileiras fosse ainda pior em 2015. Houve aumento de 24,8% nas exportações na comparação com 2014. Os empresários projetam crescimento nesse tipo de negócio em 2016 em razão da recuperação do mercado argentino, da assinatura de acordo de livre mercado com o México e do dólar alto.


Setor defende redução de impostos

O presidente da Anfavea, Luiz Moan, defende a adequação dos impostos sobre os veículos no Brasil. “Não estamos falando de desoneração, e sim de um ajuste. No Brasil, a carga tributária é de aproximadamente 43%. Nos Estados Unidos, os impostos médios são na ordem de 8% e, na Europa, 16%. Quem está errado?”, questiona.

A alta carga de tributos é repassada para o consumidor na forma de aumento de preços, o que desestimula ainda mais o consumo, especialmente em uma época de economia retraída.

Para o consultor automotivo da ADK Automotive Paulo Roberto Garbossa, é essencial que o governo federal defina claramente as diretrizes da economia nacional. “A regra do jogo ainda não foi determinada. Ninguém sabe o que vai acontecer, então, ficam todos receosos. É preciso definir questões como política de juros, financiamento a clientes de baixa renda, ajuste fiscal e reforma tributária.” Por outro lado, o especialista avalia que dificilmente haverá acordos sem que haja soluções no campo político.

PROGNÓSTICOS - Para 2016, a Anfavea prevê aumento de apenas 0,5% na produção total de veículos no País, puxado, principalmente, pela elevação projetada de 8,1% nas exportações. No mercado interno, a entidade estima queda de 7,5% nas vendas ao fim do ano.
 




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