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O Haiti tem de ser aqui

Um cidadão branco, procurado pela Polícia, condenado pela Justiça de seu país, entra no Brasil ilegalmente, com documentos falsos.

Por Carlos Brickmann
15/01/2012 | 00:00
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Um cidadão branco, procurado pela Polícia, condenado pela Justiça de seu país, entra no Brasil ilegalmente, com documentos falsos, e ganha o direito de ficar. Cidadãos negros, trabalhadores, vítimas da miséria e de uma terrível tragédia no Haiti, estes só entram a conta-gotas, ao ritmo de 90 pessoas por mês. A discriminação terá algo a ver com a cor da pele? Que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, explique: por que o branco pôde, por que os negros não podem?

Quem já teve a vida salva pelo dr. Adib Jatene sabe o bem que a imigração fez ao Brasil. Os índios atendidos pelo russo Noel Nutels sabem que a imigração foi boa. O bem que imigrantes e suas famílias fizeram a nosso país é imenso. E também é imenso o mal causado ao Brasil pela discriminação. Tivemos a tese do embranquecimento, de busca de imigrantes europeus que clareassem nossa pele. Houve o veto da ditadura do Estado Novo a judeus perseguidos pelos nazistas - por ordem do governo, deveriam ser negados os vistos a "indivíduos de origem semita", por indesejáveis (e pessoas notáveis como Aracy Guimarães Rosa, esposa do grande escritor, enganaram os ditadores e concederam os vistos).

Por que negar socorro aos haitianos? Por que transformar gente em cotas? Por que salvar alguns e condenar outros? Por que não podem vir, trabalhar, viver, alegrar-se, festejar, render graças ao Brasil que os acolhe? Só pela cor da pele?

A presidente Dilma não pode transigir nessa questão de princípio e de interesse nacional, por mais que seu ministro Cardozo o exija: deixe este povo entrar!

QUATROCENTÕES X IMIGRANTES

O ministro José Eduardo Martins Cardozo, autor da política de conta-gotas para a imigração haitiana, deve imaginar que, com seu nome, é paulista de 400 anos. Esquece que recebe ordens da filha de um imigrante búlgaro, da família Rousseff. Esquece que São Paulo tem ligações mais profundas com um descendente de imigrantes alemães, nascido fora do Estado, d. Paulo Evaristo Arns, do que com Sua Excelência o hoje ministro. Esquece que a irmã de d. Paulo, a dra. Zilda Arns, foi a cabeça e o corpo da Pastoral da Criança. E morreu no terremoto do Haiti quando, aos 75 anos, como sempre a serviço, ajudava os haitianos.

VELHOS AMIGOS

O advogado Flávio Crocce Caetano, 34 anos, é o novo secretário de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça. Caetano foi companheiro de escritório e advogado do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Foi também seu chefe de Gabinete. Não apenas negou informações sobre a morte de Vladimir Herzog ao jornalista Audálio Dantas, segundo conta Ricardo Kotscho, que por isso brigou com o ministro ("meu velho ex-amigo José Eduardo Cardozo, por quem eu tinha muito respeito" - ver em http://resistir.info/brasil/vlado_3a_morte.html), como só respondeu a seus telefonemas depois que Kotscho publicou a história.

ALÔ, ALOIZIO!

Lembra daquela empresa chinesa que, segundo o ministro Aloizio Mercadante, investiria US$ 12 bilhões no Brasil para produzir Ipads até o Natal de 2011? Depois se descobriu que o investimento não era de US$ 12 bilhões, mas de uns US$ 4 bilhões, e que o dinheiro não seria da empresa, mas do BNDES; e, finalmente, viu-se que o Natal passou, o ano passou, e o Ipad que chegou é o importado, mesmo. Aliás, a firma nem é da China: é de Formosa. Sua razão social não é Foxconn, mas Hon Hai Precision Industry Co. E é tão boa patroa que neste início de ano 300 de seus empregados ameaçaram suicídio coletivo. Explicações da Foxconn, depois de pressionada por sua parceira americana Microsoft: não houve 300 ameaças de suicídio (só 150!) E a questão, garante, já foi resolvida.

BOAS NOTÍCIAS

1 - A Câmara dos Deputados contratou uma empresa para fazer o cálculo estrutural do projeto de ampliação do Anexo 4. A ampliação resolverá problemas importantíssimos para todos nós: aumentará o número de vagas no estacionamento da Câmara e permitirá que Suas Excelências, os nobres parlamentares, possam usufruir de gabinetes mais espaçosos, dando mais conforto às multidões de assessores (naturalmente, apenas àqueles que aparecerem no serviço). Nada de muito caro: é a gente que paga. A obrinha está orçada em R$ 270 milhões.

2 - Lembre: já faz mais de um ano que os desabamentos nas serras fluminenses mataram 918 pessoas e deixaram 8.900 desabrigados. O governador Sérgio Cabral, do PMDB, prometeu entregar cinco mil casas. Liberou as verbas, pegou dinheiro com o Governo Federal e entregou zero casas. Nenhuma. Nada.

3 - Já comemorou a decisão americana de liberar o álcool brasileiro de sobretaxas? Então vamos à saideira: não apenas é o Brasil que importa álcool dos Estados Unidos (e não o contrário), como o volume de importações é recorde: mais de um bilhão de litros em 2011, contra 74 milhões importados no ano anterior. Detalhe: o álcool americano, feito a partir de milho, custa muito mais que o brasileiro. A diferença é que lá eles produzem, apesar do custo, enquanto aqui os produtores ficam esperando medidas de apoio do Governo e mais empréstimos oficiais, a juros bem baixos e a prazos bem longos.

Qual a idade do caro leitor? E, nessa idade, ainda acredita em boas notícias?




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