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Samba-enredo traduz alegria do Carnaval
Cristiane Bomfim
Do Diário do Grande ABC
03/02/2007 | 20:07
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Não é fácil compor um samba-enredo. É o que garante quem faz os sambas que, ritmados pelas baterias, sacodem as arquibancadas durante os desfiles de Carnaval. Além da inspiração, que nem sempre aparece quando o compositor espera ou precisa, o tema definido pela escola e a disposição das alas que vão entrar na passarela complicam o trabalho do letrista. E é com a poesia das canções que invadem as avenidas que o Diário inicia essa série de reportagens sobre o Carnaval.

Brigar com a inspiração na hora de compor. Pular de alegria quando a composição é escolhida para puxar o desfile de uma escola. Lidar com a frustração quando perde a disputa. É assim a rotina de Antônio Zeferino Xavier, 49 anos, desde que fez seu primeiro samba-enredo, em 1987. Em vinte anos de carreira, Xavier já colocou na avenida cerca de 70 sambas-enredo. Muitos deles em parceria com José Deolindo Neto, 60 anos.

Juntos, Xavier e Deolindo são, atualmente, uma das duplas mais antigas de sambistas da região. “São muitos anos envolvidos com o samba. A música corre na nossa veia. É coisa de família”, explica Xavier.

Depois de definido o enredo pela escola de samba, os dois se reúnem e perdem dias para escrever a composição perfeita. “O mais difícil é achar o ponto de partida”, conta Deolindo. E, segundo eles, a experiência faz com que, a cada ano, os sambas fiquem melhores. “Há quem diga que os sambas-enredo são todos parecidos, mas quem diz isso não entende do assunto. Não podemos ficar bravos”, revela Deolindo. Mas, de acordo com o parceiro, a cada Carnaval fica mais difícil compor um bom tema. “Muitas vezes eles são parecidos por escolha das escolas de samba que preferem as melodias viciadas para atraírem o público. Muitas têm medo de ousar”, afirma.

Xavier conheceu Deolindo em 1985. “Um amigo em comum nos apresentou”. Um ano depois criaram o grupo Geração. Chegaram a gravar dois álbuns, “Somos parceiros desde então. Temos muita afinidade”, explica Xavier. Hoje, ele divide o tempo entre o trabalho de representante comercial e o samba. Além de compor, ele é o presidente da Ala dos Compositores da Escola de Samba Rosas de Ouro, da Capital. Este ano, a Renascente de São Bernardo vai entrar na avenida com um samba feito pela dupla: Dom Obá Segundo. Um príncipe negro no rio antigo, O rei da Ralé.

Alexandre Rodrigo Nocera, o Xandinho, e Rodrigo da Rocha Giollo, o Mestre Peu, não sofreram influência da família para entrar no samba e participar, com composições, do Carnaval. Mesmo assim, em 2007, dez escolas de samba do Grande ABC e de São Paulo vão tocar músicas da jovem dupla na avenida. “Minha família ainda me critica muito. Acham que eu dedico muito tempo ao samba”, conta o compositor.

Xandinho, 25 anos, escreveu os primeiros sambas- enredo em 2002. “Escrevi três e é lógico que não ganhei”, sorri. A primeira agremiação que entrou na avenida puxada por um samba sde sua autoria foi a Comunidade Independente do Imirim, em 2004. De lá para cá, 17 escolas já tocaram suas composições.

Foi em 2005 que Xandinho conheceu Mestre Peu, 24 anos, e a parceria começou. “Escrevemos para ganhar. O samba-enredo é nosso filho e nós sempre achamos que é o melhor. A prendemos muito com outros compositores”.



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