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Aidan afirma ter herdado do PT 'cidade abandonada'
Leandro Laranjeira
Do Diário do Grande ABC
09/11/2009 | 07:08
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Prestes a completar seu primeiro ano de mandato à frente da Prefeitura de Santo André, Aidan Ravin (PTB) avalia que apesar de ter herdado como herança do PT uma "cidade abandonada", aos poucos vem conseguindo mudar essa situação.

"O início foi realmente difícil, até porque foi vendida uma realidade (pelo PT) diferente a da encontrada aqui. O dinheiro deixado em caixa estava comprometido. Mas como dizia na campanha, Santo André voltaria a sorrir. E isso está acontecendo. Santo André já está com um sorriso diferente", considera.

Nesta entrevista exclusiva ao Diário, o chefe do Executivo andreense revela que a área da Saúde será o principal desafio para a continuidade de seu mandato. De antemão, adiantou novidade a partir de fevereiro: o projeto Cidade Interativa, cuja missão será a de resolver em cada bairro as demandas mais urgentes.

Aidan mostrou sua decepção com a burocracia existente no poder público e admitiu tristeza pelo fato de não ter conseguido entregar os uniformes para os alunos da rede municipal de ensino. Ele também falou dos problemas enfrentados com a oposição e com aliados, e comentou as mudanças em sua vida após virar prefeito.


DIÁRIO - Prestes a completar um ano à frente da Prefeitura, qual a avaliação do mandato?

AIDAN RAVIN - A responsabilidade é muito grande quando você assume um governo, especialmente em uma cidade como Santo André, a sexta maior do Estado. São muitos os detalhes. Como assumimos depois de longo período de mandato de um partido só, 12 anos, e existia um jeito de trabalho com o qual não concordávamos, tivemos de mudar muitas situações e adaptar as pessoas à nova gestão. Hoje, além de haver integração entre os setores do Paço, há mais comprometimento por parte dos funcionários. Mas o começo foi realmente muito difícil. Vendeu-se uma realidade diferente da encontrada aqui, de que o novo governo teria R$ 90 milhões em caixa para gastar. Mas este dinheiro estava carimbado, comprometido. Tivemos de fazer auditoria para avaliar cada contrato, não para ser algo denunciante, e sim para nos defender de eventuais problemas futuros. Obtivemos sucesso em vários deles. Revertemos, arrumamos, melhoramos e alguns tivemos de extinguir. Isso deu norte para a nossa administração. No geral, conseguimos mostrar que viemos para trabalhar, não para outra situação.

DIÁRIO - Além de contratos irregulares da gestão anterior, denunciados ao Ministério Público, qual a herança deixada pelo PT em Santo André?

AIDAN - Encontramos uma cidade abandonada, inclusive nas questões mais simples, como poda de árvores, que não eram feitas. Avalio que a Saúde poderia ter sido melhorada. Foram feitas reformas, mas esqueceram do atendimento feito pelas pessoas, algo que estamos investindo pesado. Além disso, precisávamos de uma identidade. Antes, a cidade era muito atrelada ao partido que estava na administração. As mudanças promovidas nas cores dos ônibus e dos pontos são exemplos. Tiramos o vermelho do PT para colocar o branco, amarelo e azul do município. Parece bobagem, mas não é. E vamos imprimir essa marca em escolas, prontos socorros e próprios públicos em geral.

DIÁRIO - No que Santo André está melhor hoje?

AIDAN - As pessoas estão felizes pela saída do PT. Sou constantemente parado nas ruas por pessoas que vêm me agradecem e desejar sorte. Tivemos de manter muitos contratos antigos para a cidade não parar. Mas só em dez meses de gestão, já observamos mudança no atendimento em UBSs e prontos socorros. A troca da vegetação, agora rasteira, deu mais visibilidade à cidade e mais segurança ao povo. É evidente que gostaríamos de ter feito muito mais. Mas, na Educação, por exemplo, revertemos situação importante. Aproveitamos salas grandes, que tinham parte ociosa, para dividi-las e aumentar a quantidade de vagas. O Poupatempo da Saúde é algo que já está encaminhado. Teremos três Upas (Unidades de Pronto Atendimento) construídas para próximo ano e mais três do governo federal. As creches antes eram tapumes, e hoje estamos mudando essa realidade. São situações ainda não sentidas no primeiro ano porque não deu tempo de implantar totalmente, mas isso mudará durante o mandato. Destaco também o trabalho do Fundo Social, com a campanha do agasalho batendo recordes (140 mil peças arrecadadas contra 85 mil no ano passado, segundo o governo), casamentos comunitários e trabalhos voltados às crianças e à terceira idade.

DIÁRIO - O sr. disse que gostaria de ter feito mais. O que o impediu neste primeiro ano?

AIDAN - O maior problema foram as licitações. Tentamos disponibilizar vans para transporte de crianças especiais e dez liminares foram obtidas para impedir o processo. Poderíamos ter feito de qualquer jeito, implantar, alegar urgência, mas queremos fazer corretamente. E isso demora, pois é preciso obedecer regras. O mesmo ocorreu com os uniformes da rede municipal, cuja licitação foi questionada pelo Tribunal de Contas e somente há pouco foi liberada. Aliás, essa foi a parte que mais me entristeceu. Até porque distribuição de uniforme não é campanha política, e sim segurança, igualdade, cidadania e preservação. Nos próximos anos não irá faltar.

DIÁRIO - Mas as principais questões foram encaminhadas?

AIDAN - Não se consegue implementar um programa de governo no primeiro ano, principalmente com orçamento feito por outro partido. Mas obtivemos grandes avanços. O Poupatempo da Saúde foi levado adiante mesmo sem orçamento. A questão do lixo também foi importante. Tivemos de enfrentar briga danada para conseguir a ampliação do aterro. Agora, lutaremos por usina de lixo de última geração para queimar esse resíduo. Além disso, não cortamos nenhum serviço essencial ou paralisei projetos para começar da estaca zero apenas para dizer que estava colocando marca diferente. Seria prejuízo à cidade. Há também a questão dos servidores públicos, os quais começaram a ser ouvidos depois de muito tempo. Queremos resolver os precatórios. Não é porque foi aprovada PEC com novas regras de pagamento que suspenderemos as negociações. Com relação ao plano de carreira, atrasou porque faremos algo completo. E antes de ir à Câmara, o próprio funcionalismo opinará a respeito.

DIÁRIO - Qual o principal desafio para segundo ano?

AIDAN - O desafio é todo dia. Sempre há algo novo quando colocamos o pé na Prefeitura. Nenhum dia é igual ao outro. E, por incrível que pareça, quando você está indo com um projeto para frente, tem dez puxando-o para trás. Mas a Saúde é um desafio muito grande. Aumentamos o orçamento da Pasta, de R$ 186 milhões para R$ 307 milhões, tornando-o o maior do governo. Sem esquecer do Poupatempo da Saúde, o qual queremos inaugurar em março. Também teremos novidade a partir de fevereiro, com o projeto Cidade Interativa. Dividiremos Santo André em 14 regiões e faremos um trabalho específico para resolver as demandas mais urgentes. Assim, fica mais fácil solucionar o restante. Levaremos toda a infraestrutura da administração, após fazer pesquisa de casa em casa para levantar os problemas e executar as obras necessárias. Depois nos reuniremos com a população para saber o que pensam e quais os problemas a serem solucionados em médio e longo prazos.

DIÁRIO - Até há pouco tempo, o sr. dizia que a oposição não havia superado a derrota nas urnas. Isso já ocorreu?

AIDAN - É difícil você admitir a perda de uma coisa boa depois de tanto tempo. Mas acredito que já começaram a perceber que se passou um ano da eleição. Quiseram, por diversas vezes, parar a cidade, mas não permitimos que isso acontecesse ao esclarecermos pontos e mostrar a verdade. A eleição à Prefeitura foi limpa e transparente. É que quando você tem 48,9% (dos votos) no primeiro turno, imagina que 1,2% ocorrerá naturalmente. Nunca passa pela cabeça que isso cairá para 44% em um segundo turno e, de repente, o outro lado subir de 21% para 54%. Mas aconteceu.

DIÁRIO - O racha na oposição influencia de alguma forma o governo. Chega a favorecer?

AIDAN - Essa situação é complicada para eles. Sempre classificarei o PT como oposição ao meu governo, independentemente de como estejam internamente. Gostaria apenas que fossem oposição consciente, e não ficassem envenenando situações, arrumando confusões em locais onde estamos avançando para solucionar problemas. A oposição tem de apontar falhas e criticar, mas também precisa mostrar soluções.

DIÁRIO - Ao longo do ano, o sr. teve de contornar problemas relacionados à base aliada, especialmente com DEM e PSB. Como está a situação hoje?

AIDAN - Alguns acreditam que por integrar a base aliada podem fazer tudo, sem contar que em dados momentos não pensam na cidade como um todo, mas apenas em seus bairros. Quando era vereador, achava que se virasse prefeito também poderia fazer tudo. Só que existe licitação, orçamento e situações que devem ser respeitadas. Houve dificuldade, sim, em entender que ser base aliada é muito mais difícil do que ser oposição. Se falar que esta situação está resolvida, estarei mentindo. Estamos conversando democraticamente. Mas em breve resolveremos esse impasse.

DIÁRIO - Qual a marca que Aidan Ravin quer deixar como prefeito de Santo André?

AIDAN - A de que com trabalho é possível se fazer algo para o bem do povo, apesar do desgaste político em nível nacional. Assim, conquistarei pessoas novas para a política, com vontade de melhorar a cidade cada vez mais.

DIÁRIO - De vereador a prefeito em quatro anos. É mais fácil ser prefeito ou vereador?

AIDAN - [longa pausa] É mais gostoso ser prefeito [risos]. Você tem a oportunidade de executar seu projeto. Hoje, tenho visão geral da cidade e minha percepção política está mais apurada e aguçada. Estou mais maduro e com mais cabelo branco, embora esteja mais tranqüilo. A dificuldade é que em todo lugar que vai é abordado e cobrado, e precisa tentar explicar que não fez determinada coisa porque teve de priorizar outra questão, mais emergencial.

DIÁRIO - O resultado da eleição do próximo ano em Santo André pode ser termômetro da atual gestão ou não vê relação?

AIDAN - Campanha para deputado estadual e federal nada tem a ver com campanha a prefeito, e nem é termômetro para avaliar o desempenho do atual prefeito. Em 2006, a cidade elegeu apenas um deputado estadual (o petista Vanderlei Siraque), que, por sua vez, perdeu a eleição ao Executivo dois anos depois. Se fosse termômetro, ele seria prefeito agora ou mesmo o partido dele teria eleito mais nomes da cidade.

DIÁRIO - O sr. consegue conciliar o cargo de prefeito com a carreira de médico (ginecologista e obstetra) ou abandonou a profissão momentaneamente?

AIDAN - Fiz poucos partos neste ano, cerca de 20. No ano passado, o mínimo era 25 por mês. Caiu bastante devido ao fato de não poder atender. Quero ampliar esse número, até porque é uma das coisas mais gostosas e gratificantes. Mas não estou frustrado, até porque a política também permite o contato com o público. Em dezembro faço 22 anos de profissão. Foram mais de 10 mil partos, e me orgulho em saber que há mais de 800 crianças registradas com o nome Aidan na cidade.

DIÁRIO - O Aidan Ravin conseguiu virar a página na cidade, como dizia na campanha?

AIDAN - Sim, em 26 de outubro de 2008. Agora, preciso de ajuda para escrever essa página, essa história. Por isso peço ideias de melhorias. Não me incomodo com críticas, mas quero opiniões que venham a ajudar também. Não adianta mostrar um lugar que todo mundo está vendo que está sujo. Mas como vamos limpar aquilo? Meu governo não é para o Aidan, para os secretários ou para os vereadores, e sim para a população. Na eleição, dizia que Santo André voltaria a sorrir. E isso está acontecendo. Santo André já está com um sorriso diferente. Percebo a alegria no rosto das pessoas.




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