Memória Titulo Memória
João Macena, o moço que veio de Mãe D’Água – PB

João Macena Neto veio menino de tudo da cidade de Mãe D’Água de Dentro...

Por Ademir Medici
29/11/2015 | 07:00
Compartilhar notícia


João Macena Neto veio menino de tudo da cidade de Mãe D’Água de Dentro, no interior da Paraíba. Aqui sofreu o preconceito que todo nordestino sofria – e sofre. Seguiu em frente. Driblou as diversidades. Fez carreira profissional. Constituiu uma linda família. Venceu.

Nascido em 1946, ele chegou a São Bernardo em 1951, portanto, com 5 anos. Veio com a mãe, os irmãos e um tio. Aqui já estava o pai, que chegara pouco antes.

Demoraria 40 anos para que Macena retornasse à sua cidade natal, a pequena Mãe D’Água, hoje com menos de 5.000 habitantes. São Bernardo agora era a sua cidade por adoção, um amor que preserva e que o emociona.

Macena é dono de uma memória única. Cita números de telefones de firmas em que trabalhou, endereços, nomes, situações. De tal ordem que o nosso único trabalho é ligar o gravador e ir dividindo com vocês histórias das mais saborosas.

Amanhã a gente continua. E, por certo, teremos oportunidade de usar mais edições para contar a história de um sempre jovem Macena que, além de tudo, é dono de um bom-humor que cativa.

A ilustração focalizando o atirador Macena e o jovem senhor Macena é de autoria do infografista Agostinho Fratini, da Editoria de Artes do Diário. Há uma diferença de meio século entre os dois retratos, já que Macena serviu o glorioso Tiro de Guerra 02-298, de São Bernardo, no ano da graça de 1965.

Morador de rua

Na Paraíba, meu pai tinha uma bodega e um hotel. Bodega é um empório, uma venda. E o seo José (pai) foi morador de rua.

Morador de rua era todo homem da cidade. Dizia-se ‘morador de rua’ porque as cidades tinham uma rua só.

A virada de 1949 para 1950 foi um tempo muito seco na Paraíba. João Ferreira, meu avô – de quem herdei o nome – possuía um sítio em Mãe D’Água. E por causa da seca, meu pai e uns amigos resolveram que iriam para o Mato Grosso. Diziam que lá se ganhava dinheiro com rastelo. Demorou quase um mês para chegar. Não havia estradas.

Mesmo quando viemos para São Paulo, em 1951, foi uma viagem de 12 dias, em pau-de-arara, com aquele banco de igreja de crente sobre a carroceria. Mas viemos depois. Primeiro foi a viagem de meu pai ao Mato Grosso. Permanecemos na Paraíba.

Nasce o Ibirapuera

Meu pai foi parar na casa de um ‘paraíba’ no Mato Grosso, meio parente da minha mãe. O sujeito tinha feito mal a uma moça no Nordeste (ou bem, depende do ponto de vista). Não quis casar, o tal de Manoel Doutor, e foi embora com outra para o Mato Grosso. Ao ver meu pai, imaginou que ele tinha ido atrás dele por vingança. Não era nada disso. Mas até provar...

Depois, o conterrâneo quis que meu pai fosse buscar a família. Meu pai não quis. Acabou não ficando. Não se acostumou. Voltou, agora rumo a São Paulo. Trabalhou um tempo na base aérea de Bauru, mas não como piloto, que ele não era. Trabalhou nas obras de construção da base.

Depois, finalmente, São Paulo. Chegou à Capital no fim de 1950, começo de 1951. Estavam derrubando os eucaliptos para fazer o Parque do Ibirapuera. No bolso levava 1 cruzeiro e 10 centavos.

Já em São Paulo, alguém o reconheceu:

– Você não é o Zé Macena?

– Sou.

– E o que está fazendo aqui?

– Estou voltando do Mato Grosso.

Era um conhecido da Paraíba que trabalhava com caminhão e que ia buscar os trabalhadores no sítio. Caminhão, lá, era chamado de carro.

O vendedor de mel

Só sei que aquele homem trouxe meu pai para São Bernardo. Ele veio parar aqui no quilômetro 18 da Via Anchieta, na Rua Flavio Fongaro. Ali havia um ‘paraíba’ que tinha uma fábrica de mel de abelha. Fabricava todo tipo de mel. Meu pai começou a trabalhar ai vendendo mel.

Lavava roupa para os companheiros, cozinhava para eles e vendia mel de abelha naqueles litros de leite União. Conduzia uma sacola em um ombro com 24 litros, no outro ombro outra sacola com mais 24 litros e mais 24 litros na cabeça. Vendia por aí.

Um dia estava no Sacomã, em São Paulo. Alguém lhe perguntou se por lá passava ônibus para o Meninos, como ainda era conhecido Rudge Ramos. Meu pai não tinha certeza, mas disse que se passasse a jardineira era só montar e seguir.

Logo viemos para cá. Dona Isaura, minha mãe, minhas irmãs Luzia e Maria das Neves – imagine, ‘neves’ naquele calor da Paraíba –, meu irmão José e um tio, Alexandre Ferreira de Macena, o único da família dos 18 irmãos a servir o Exército. Embarcou para a Segunda Guerra. Quando chegou a Alagoas, a guerra acabou. Retornou para casa. Não combateu. Mas virou tenente do Exército e foi reformado como se tivesse combatido.

Em São Bernardo nasceria nosso irmão caçula, o Luiz.

Amanhã em Memória

Damos um salto nas memórias do João Macena Neto para 1965. Ele vai nos mostrar os colegas do TG de São Bernardo e tirar uma dúvida nossa. Depois, retornamos onde paramos, com a chegada dos Macena em São Bernardo, em 1951: “Fazia um frio do cão.”

Diário há 30 anos

Sexta-feira, 29 de novembro de 1985 - ano 28, nº 5994

Manchete – Governo anuncia pacote de mudanças.

- Mais impostos para altas rendas.

- Leite gratuito e ampliação da merenda.

- Desestatização de 17 empresas.

- Cortes nas mordomias.

Personagem – Fernando Ramos da Silva, o Pixote, completava 18 anos e garantia: mudou de vida. O menino ator que contracenou com Marília Pera agora estava casado e trabalhava como ajudante de caminhão. Queria apagar a imagem de delinquente. Reportagem de Walter Venturini com fotos de Luciano Vicioni.

Diadema – Posto do Inamps muda para a Avenida São José, 464.

Em 29 de novembro de...

1530 – D. João III nomeia Martim Afonso de Souza para vir ao Brasil descobrir e fazer doações de terras para as pessoas que trouxesse na sua expedição.

1915 – Em serviço de sua profissão, esteve em Santo André o dr. Américo Pinheiro e Prado, advogado do foro da Capital.

- A guerra. Do noticiário do Estadão: ‘Combates de artilharia na frente belga’.

1930 – Edital da delegacia de polícia de São Bernardo convida todos os operários sem trabalho que quiserem embarcar para o interior do Estado ou para outros pontos do território nacional, em busca de emprego, a comparecerem à repartição. O governo forneceria passes e facilitaria os meios de colocação aos desempregados.

- Fundada a Associação Paulista de Medicina.

Município Paulista

- Hoje é o aniversário de Promissão, elevado a município em 1923, quando se separa de Penápolis; e de Mirante do Paranapanema: 1954 (separando-se de Santo Anastácio).

Santos do Dia

- Santo Saturnino é uma das devoções mais populares na França e na Espanha. Sua vida pode ser confirmada em importantes documentos sobre a vida cristã na região da Gália, datados do ano 450. Esses documentos apontam Saturnino como primeiro bispo de Toulouse.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza

- Iluminada

- Brás de Véroli

- Paramão 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;