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tratamento da pedofilia

Para especialista no assunto, o medo de sofrer retaliações
impede que vítima busque ajuda; doença é estigmatizada

Por Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
03/06/2012 | 07:00
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Pedofilia não é apenas a perversão que leva um adulto a sentir desejo sexual por crianças. Trata-se de doença que não tem cura e precisa de tratamento. Porém, a popularização do assunto nas páginas policiais contribui para que violentadores de crianças sejam confundidos com doentes.

A cada 100 pessoas que molestam crianças ou adolescentes, 40% são portadoras da doença. A informação é do psiquiatra e coordenador do Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Danilo Baltieri. A pior consequência dessa distorção é não oferecer tratamento adequado aos que padecem da doença. "Dar rótulo de pedófilo a todos impede a redução da incidência criminal. Generalizar cria sério problema de saúde pública, pois coloca indivíduos que cometeram crimes sexuais no mesmo patamar que os doentes."

Na segunda-feira, o professor de Ensino Fundamental José Vilson de Sousa, 46 anos, foi preso em Mauá acusado de produzir, armazenar e simular fotos e vídeos contendo material pornográfico com crianças e adolescentes.

Segundo o especialista, o pré-julgamento, somado à condenação popular, agrava o quadro de saúde daqueles que sofrem em silêncio com sintomas. O preconceito desencoraja pacientes a revelarem os sintomas à família e buscar tratamento. Além disso, há o medo de ser denunciado. "Pedofilia é a doença mais estigmatizada da Medicina", diz o psiquiatra. Muitos apenas têm fantasias masturbatórias e eróticas com crianças. Outros, além de imaginar, cometem o ato sexual e são agressivos.

O desejo incontrolável acarreta culpa, vergonha, angústia. O tratamento envolve psicoterapia e medicações. Os remédios tentam corrigir as alterações no funcionamento de determinadas áreas do cérebro. Estudos apontam que a pedofilia tem pré-disposição genética e que abusos sexuais sofridos na infância potencializam os sintomas. Geralmente, a doença atinge mais homens do que mulheres, ainda sem razões claras. A proporção é de nove casos para um.

O psiquiatra defende o tratamento apropriado ao doente, mas não condena a reação emocional da população. "Não somos contra a prisão e sim contra a falta de tratamento adequado dentro e fora das penitenciárias. O crime sexual contra crianças é abominável e até os portadores da doença sabem disso", explica.

Fatores ambientais podem desencadear o surgimento da doença, que comumente aparece entre 23 e 35 anos. São eles: consumo excessivo de álcool, dependência química, ansiedade, depressão e situações de extremo estresse.

Família tem papel determinante para recuperação

Contar à família sobre os sintomas é um dos maiores desafios. Cerca de 50% dos portadores de pedofilia são casados. No Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da FMABC os familiares são convidados a integrar o tratamento multidisciplinar. O resultado melhora a qualidade de vida. "Muitas vezes a família abandona o paciente. Mas precisamos que sejam tratados juntos e ajudem a conter os impulsos. É um esforço mútuo, deles e dos profissionais. Caso contrário, a prevenção terá buracos", explica o coordenador do ambulatório, Danilo Baltieri.

Por mês, são feitos cerca de 30 atendimentos no ambulatório, que funciona às segundas-feiras. O interessado tem de ter encaminhamento da rede municipal.




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