Como a pesquisa é baseada em documentos históricos, a primeira peça analisada nao poderia deixar de ser a carta de Pero Vaz de Caminha, "escrita de porto seguro de Vera Cruz com data de 1º de maio de 1500 a El-Rei d. Manuel", dando conta do "achamento" da nova terra que viria a ser o Brasil. Segundo o autor, o encontro inicial de europeus com os índios "revestiu-se de um claro clima de festa". Quando os primeiros índios vieram a bordo das caravelas houve troca de objetos e confraternizaçao para espanto de Caminha ao ver brancos e índios "mesturados".
Importante ressaltar que a trilha sonora da primeira festa pública em nosso país foi o som rural português. "Havia, aliás, uma explicaçao para esse fenômeno da presença dos homens do campo entre as tripulaçoes nas naus portuguesas (...): e a explicaçao estava no êxodo rural que enchia a Lisboa de despontar dos 1.500 desocupados, prontos a aceitar qualquer oferta de emprego."
Mas logo os jesuítas trataram de conter a espontaneidade dessa perigosa combustao entre desterrados e índios, impondo as datas religiosas e oficiais da Coroa como os únicos motivos aceitáveis para reunioes coletivas. A missao dos religiosos, comandados pelo padre José de Anchieta, era muito clara: absorver a cultura dos locais para depois aniquilá-la. Para isso, segundo apurou Tinhorao, os padres aprenderam a língua dos nativos e se apropriaram de suas músicas para ensinar-lhes versos destinados a desviá-los de suas tradiçoes.
Tinhorao trata de pontuar essas e outras informaçoes com transcriçoes dos documentos originais, que, por vezes, chegam a ser muito divertidas. Um bom exemplo ilustra essa feliz iniciativa do autor, que torna o volume de leitura agradável e acessível. O capítulo seis, Contribuiçao Holandesa de Nassau: o Boi Voador, contempla o período de 1630 a 1654 e destaca o impagável episódio protagonizado pelo príncipe holandês Maurício de Nassau. Com o "rasteiro" objetivo de recuperar o dinheiro investido na construçao de uma ponte sobre o rio Capiparibe, por meio da cobrança de pedágio, Nassau bolou uma festa-espetáculo. Anunciou que, na inauguraçao da obra, seria mostrado um "boi voador". Mandou encher de palha o couro de um boi, pendurou-o em uma corda e o fez sobrevoar a multidao de pagantes.
Outro atrativo sao as ilustraçoes raras, bem contextualizadas por Tinhorao: Frans Post e Zacharias Wagener para o período holandês; Antonio Francisco Soares, com os desenhos dos pouco conhecidos carros alegóricos das festas pelo casamento do príncipe dom Joao VI com a princesa Carlota Joaquina, em 1786; e Carlos Juliao, que retratou as coroaçoes de reis do Congo no século XVIII; gravuras inéditas em livro de Debret para o século XIX; além de Augustus Earle, Taunay e Chamberlain.
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