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Um ‘think tank’ no Grande ABC
Por Aristogiton Moura
professor convidado da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), presidente do Instituto Carlos Matus de Ciências e Técnicas de Governo e pesquisador do Observatório de Políticas Públicas
31/01/2020 | 00:01
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Vivemos tempos de profundas transformações causadas pelo advento da internet e o uso de redes sociais. Este fenômeno, que impacta sobremaneira o nosso modo de vida, ou seja, a forma como vivemos, trabalhamos, nos relacionamos, também contribui para aumentar a dificuldade das pessoas e organizações transitarem num mundo cada vez mais conectado, em que o jogo mudou, seja na política, seja no nosso dia a dia. Tudo isso ainda mais facilitado pelo avanço dos dispositivos móveis a ela conectados. Tratei deste tema em nota técnica publicada na 10ª Carta de Conjuntura do Observatório Conjuscs.

É por meio da tecnologia que estamos nos relacionando com a família, os amigos e os parceiros sentimentais, como também estudamos, compramos, vendemos e realizamos transações econômicas. Esta nova realidade está desconstruindo as formas organizativas e os relacionamentos que anteriormente gravitavam fora do ambiente digital, e que vinham mantendo o mundo real e o status quo político até então conhecido e percorrido pela geração no poder.

A despeito disso, ainda hoje, a gestão pública e a política fazem uso de mecanismos tradicionais de enfrentamento meramente operacionais, ou, quando muito, táticos. Atuam diretamente na problemática tal como ela se manifesta, se mostrando, muitas vezes, incapazes de se antecipar às crises e responder de forma adequada às demandas e problemas já instalados. Ao reproduzir conhecimentos estabelecidos e não ajudar a melhorar os quadros políticos e governamentais, com aporte de conhecimentos inovadores e disruptivos, isso faz com que as universidades sejam parte dessa problemática.

O problema não é de inteligência. Contamos com profissionais, professores, pesquisadores, intelectuais e políticos reconhecidamente inteligentes. O problema é o fato de eles contarem somente com mecanismos, teorias e conhecimentos para atuar em instâncias tradicionais, como governos, associações de classe, empresas ou universidades, que, na maioria das vezes, não encontram espaço para reflexão e inovação. Uma alternativa seria constituir um centro de ideias e inovação para desenvolver a capacidade de explicar a nova realidade com novos vocabulários e ajudar a fazer a transição entre a economia e a política tradicionais do Grande ABC para este novo contexto, apoiar a resolução de impasses e encontrar soluções adequadas aos problemas complexos que afetam a sociedade. Instituir um mecanismo que concentre a inteligência disponível, esparsa em universidades, centros de pesquisa, governos, imprensa e similares em um think tank. Este é um laboratório de ideias, um gabinete estratégico, um centro de pensamento ou um centro de reflexão. É uma instituição ou grupo de especialistas de natureza investigativa e reflexiva cuja função é a reflexão intelectual sobre assuntos de política social, estratégia política, economia, assuntos de segurança pública, de tecnologia, de cultura, entre outros. O 2017 Global Go To Index Report considera think tank como ‘organizações de análise e compromisso de pesquisa sobre políticas públicas’.

O entendimento mais comum sobre think tank é que são espaços que produzem recomendações para governos e para a sociedade em geral, oferecendo instrumentalização técnico-política para decisões em diversas áreas de políticas públicas, como educação, saúde, segurança, gestão, meio ambiente, relações internacionais etc. Os think tank se engajam em defesa ativa de políticas públicas e de denúncia de problemas públicos.

A crise que afeta o Grande ABC e sua economia, por si só, já justificaria um esforço organizado de universidades, governos e sociedade para sua constituição. A implantação do think tank envolve mais que um redesenho ou modernização organizativa de instituições existentes. Implica a formação de consciência sobre a importância política de se instituir um centro dessa natureza para a sociedade, que conte com uma equipe especializada treinada e formada em ciências e técnicas de governo e em estudos de futuro. Implica, ainda, um desenho fino de uma estratégia de viabilização técnica e principalmente política que deverá se materializar em uma rede de pessoas e organizações capazes de dar sustentação a esse processo, tornando-o o mais imune possível às flutuações políticas, tanto administrativas quanto partidárias.

Este é o primeiro passo, o desenho da estratégia e da estrutura e o convite às pessoas e organizações. Essa convocatória e a qualidade com que for aplicada serão o teto de qualidade e de alcance desse sistema crítico para o desenvolvimento do Grande ABC. 




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