O caso ganhou repercussão na época por causa da denúncia de A.. Ele disse que estava deitado ao lado dos amigos no momento em que eles foram assassinados a tiros em um matagal na estrada do Montanhão, em São Bernardo. O adolescente só sobreviveu porque teria se fingido de morto após ser atingido por dois disparos.
Os soldados Ivair Roberto de Souza, Isaías Mendonça Silva, o cabo Wagner Augusto Pinheiro e o tenente Emerson Roberto de Cisto – que estão detidos no Presídio Romão Gomes, na capital –, teriam abordado o grupo momentos antes no Centro da cidade. Sem motivos aparentes, teriam ordenado aos garotos que entrassem na viatura, indo para a estrada do Montanhão.
O episódio mudou definitivamente a vida do adolescente. Há quase dois anos ele está afastado dos familiares e amigos, como determina o Programa de Proteção a Testemunhas. O porta-voz do seu novo cotidiano é o promotor Nelson Pereira Júnior, que será responsável pela acusação dos PMs. Ele recebe relatórios mensais sobre as atividades que vêm sendo desenvolvidas pelo garoto.
“O conteúdo do relatório é sigiloso. Só posso afirmar que na parte material está tudo bem. Ele (A.) vem desenvolvendo atividades educacionais e profissionalizantes”, disse o promotor.
Pereira Júnior, no entanto, se disse preocupado com o estado emocional de A.. Segundo ele, o adolescente ainda guarda “marcas profundas” do episódio. “É nítido que ele precisa de acompanhamento psicológico mais intenso. Ele demonstra claramente que não conseguiu superar tudo o que aconteceu.”
Sobre o julgamento, o promotor acredita que o depoimento de A. será prova incontestável para a condenação dos policiais. Eles serão acusados pela prática de dois homicídios qualificados e uma tentativa. A pena mínima é de 12 anos para cada caso.
Os parentes dos adolescentes mortos esperam o julgamento da próxima quinta-feira com apreensão. A costureira Flordelice Elias da Silva, 45 anos, mãe de Daniel, disse que se encontra regularmente com a mãe dos outros garotos para acompanhar o andamento do processo. “Só de conseguirmos levar esses policiais a julgamento já é uma grande vitória, mas acredito que a Justiça será feita e eles serão condenados”, disse.
A reportagem do Diário não conseguiu manter contato com o advogado de defesa dos policiais, Marcos Ribeiro de Freitas. Em agosto do ano passado, ele reuniu o depoimento de 32 pessoas, que testemunharam no Fórum e garantiram que os policiais estavam em outro local no momento do crime.
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