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Nana Caymmi presenteia pais em CD
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
27/04/2009 | 07:00
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Nos compassos da cantora Nana Caymmi, a sofisticação harmônica sustenta interpretações passionais sobre as desventuras e delícias do amor. Dona de timbre vocal grave e extenso, retornou aos estúdios após dois anos de afastamento para lançar o CD Sem Poupar Coração (Som Livre, R$ 28 em média), o 29º da discografia em quase cinco décadas de trajetória profissional.

O disco representa a vitória da artista sobre a tristeza e o luto, após uma fase de turbulências. Em agosto de 2008, ela teve de lidar com a perda dos pais: o medalhão da MPB Dorival Caymmi e a ex-cantora Stella Maris. O patriarca da família morreu dia 16 de insuficiência renal e falência múltipla de órgãos e, apenas dez dias depois, a mulher sucumbiu aos problemas coronarianos.

A veterana não gosta do termo "homenagem" e prefere classificar o trabalho como "presente" ao casal que norteou seus passos na vida e nos palcos. Ela faz questão de deixar claro que não pretende render-se à melancolia, à indulgência musical ou ao saudosismo. Por conta disso, o álbum é composto majoritariamente por canções inéditas e o repertório, formado por 14 faixas, deixa pouco espaço para versões, exceção feita à singela modinha Senhorinha, de Guinga e Paulo César Pinheiro, em que o pianista, maestro e arranjador Cristóvão Bastos demonstra virtuosismo.

A ‘bolachinha' traz ainda releitura de Não se Esqueça de Mim, de Roberto e Erasmo Carlos, pérola romântica que conta com a participação do Tremendão e integra a trilha sonora do folhetim global Caminho das Índias.

Entre os representantes da recente safra de composições está o samba-canção Bons Momentos, feita sob medida para a intérprete. "Velar o que já sepultou não tem cabimento. Te apraz lembrar o que passou, apontar os erros/Eu já sei, não vais perdoar", diz um dos trechos da letra, que expõe as dores do fim de um relacionamento com notável sensibilidade e lembra os clássicos de Dolores Duran.

O alegre maracatu Diamante Rubi, pontuado pelas flautas de Danilo Caymmi e Ricardo Pontes, destaca-se à primeira audição e exalta o prazer dos encontros amorosos e das paixões que se iniciam. Há performances inspiradas em boleros como Dúvida e a faixa-título, que tem a assinatura de Dori, outro integrante ilustre da família musical, e sintetiza as virtudes do disco: intensidade e franqueza.

Segura e experiente, Nana explora a extensão vocal e emociona na delicada valsa Confissão. Mesmo quem não gosta do estilo da contralto é forçado a reconhecer que Sem Poupar Coração é refinado, mas não parece insosso ou pedante. Demonstra sensibilidade, mas não apela para o sentimentalismo barato, aquele que inspira uma parcela significativa dos sucessos radiofônicos. Enfim, trata-se de alento para quem procura música autêntica e atemporal.




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