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Dekasseguis enviam mais dinheiro ao Brasil
Por Do Diário do Grande ABC
24/04/1999 | 13:00
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Estimulados pela alta do dólar no Brasil, os dekasseguis (brasileiros que trabalham no Japao) estao enviando mais dinheiro para seus familiares no país. Na sexta-feira, o Departamento Econômico do Banco Central (Depec) divulgou que as transferências de recursos dos brasileiros residentes no exterior para o País, no primeiro trimestre, fecharam em US$ 604 milhoes, ou seja, 32,16% a mais do que no mesmo período do ano passado. Altamir Lopes, chefe do Depec, disse que esse resultado é conseqüência da desvalorizaçao do real e foi puxado, principalmente, pelos dekasseguis.

Segundo dados do Centro para Informaçoes e Apoio ao Trabalhador no Exterior (Ciate), entre 1990 e 1996 a remessa anual média de dólares dos brasileiros no Japao foi de US$ 3,5 bilhoes. No ano passado, essa quantia caiu para US$ 1,7 bilhao.

"Com a desvalorizaçao do real, no início do ano, boa parte dos brasileiros que estavam prestes a fazer o caminho de volta resolveu ficar um pouco mais no Japao e está mandando uma quantidade maior de dinheiro para cá", admite Massato Nimomiya, presidente do Ciate.

Salários menores - Durante 1998, os dekasseguis viveram na pele a crise econômica asiática, responsável por muitas demissoes e, sobretudo, diminuiçao das horas extras. Com isso, os salários médios desses trabalhadores foram bem reduzidos. "Quem ganhava US$ 3,5 mil começou a receber da noite para o dia aproximadamente US$ 2 mil", explica Sérgio Morinaga, presidente da Associaçao dos Imigrantes no Brasil (Asibras).

Mulheres, que até abril nao podiam trabalhar à noite, agora podem fazê-lo legalmente nos mesmos cargos dos homens. "Obviamente, ganhando menos", afirma Kazuo Shindo, da agência Sunmax, que encaminha brasileiros para fábricas no Japao. "Se os homens ganham US$ 2 mil numa empresa, no mesmo cargo as mulheres recebem entre US$ 1,2 mil e US$ 1,5 mil", ressalta Shindo.

Assim, a sobra de dinheiro dos dekasseguis (depois de descontada moradia, alimentaçao e impostos) caiu bastante. "Também nao podemos nos esquecer de que, com a crise econômica brasileira, o dinheiro que chega ao País está sendo usado pela maioria das famílias para cobrir despesas domésticas e nao, necessariamente, em investimentos imobiliários, como ocorria muito há quatro ou cinco anos", prossegue Morinaga.

Outros preferem deixar o dinheiro que sobra em poupanças no Japao, como a família de Luiz Ossamu Suzuki, que tem cinco irmaos e seis sobrinhos naquele país. "Mesmo diante desse momento propício, nenhum deles está enviando dólares para o Brasil", admite.

Suzuki avalia que o receio com a economia brasileira ainda é muito grande e seus familiares têm achado melhor poupar em bancos locais. Prova disso é que no bairro da Liberdade, em Sao Paulo, a Koga Imobiliária nao teve aumento nas compras de imóveis por parte dos dekasseguis desde o início do ano.

Yuko Kobayashi, diretora da empresa, explica que quem vem comprando imóvel no bairro sao os chineses.

Em Mogi das Cruzes, cidade da regiao metropolitana de Sao Paulo com uma grande populaçao de descendentes de japoneses, o mercado imobiliário também nao registra crescimento nas vendas para esse público: "Só quem fica mais de cinco anos no Japao é que consegue guardar dinheiro para investimentos desse tipo", garante Sojhi Kiyokawa, proprietário de uma imobiliária local.

No seu entender, atualmente a maior parte dos dekasseguis apenas sobrevive no Japao e está realmente enviando dinheiro para ajudar familiares desempregados no Brasil.




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