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Doentes continuam sem remédio
Por Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
02/04/2011 | 07:12
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Mais uma vez os pacientes que se dirigiram ontem até a Farmácia de Alto Custo do Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, precisaram enfrentar a fila para receber a mesma notícia das outras semanas: falta medicamento. Segundo usuários, remédios para tratamento de epilepsia, câncer de próstata e mal de Parkinson continuam em falta, mesmo após as denúncias publicadas pelo Diário a partir de fevereiro. Usuários que precisam da medicação reclamam da falta de prazos.

A dona de casa Sonia Munhoz Castro, 40 anos, saiu irritada após não conseguir retirar o remédio para a filha, que faz tratamento para evitar convulsões há sete anos. Neste ano, o médico receitou nova droga, Lamotrinogina, um antiepiléptico também utilizado para tratamento de transtorno afetivo bipolar. "Dá agonia vir aqui e depender deles. É a terceira vez que volto", reclamou. Segundo Sônia, a medicação é vendida por pelo menos R$ 300 nas farmácias.

Uma aposentada que preferiu não se identificar disse que o Sifrol (Dicloridrato de Pramipexol), usado em tratamentos contra o mal de Parkinson, também estava em falta. A mãe dela faz tratamento há um ano. Já é o terceiro paciente que o Diário flagra com os mesmos problemas na porta do hospital. "É de uso contínuo. Não posso parar de tomar e não sei o que fazer."

De acordo com usuários, o problema acontece desde o fim do ano passado. Cada caixa da medicação, que age como inibidor de deficiências motoras, custa cerca de R$ 72. O Estado informou semana passada que o medicamento estaria nas prateleiras a partir de ontem.

Indignada com a falta de previsão da normalização do fornecimento, a auxiliar administrativa Elaíde Geraldo, 49, procurou a Ouvidoria do Estado para registrar a queixa. Porém, não recebeu retorno.

Na farmácia, ela liga todos os dias em busca de respostas. "Eles não vão ficar livre de mim." O pai de Elaíde, Pedro Saragioto, 79, faz tratamento contra o câncer de próstata há cinco anos e deveria ter tomado a medicação em 22 de março.

Cada injeção de Zoladex custa R$ 1.500 e deve ser tomada a cada três meses. À auxiliar, atendentes disseram que a compra foi realizada e que o laboratório tem 20 dias para entregar.

Na semana passada, a Secretaria de Estado novamente descumpriu o prazo fornecido, declarando que a entrega seria regularizada na terça-feira. No começo de março foi a vez da falta do Calcitriol, utilizado por pacientes com problemas renais.

Falta de medicação pode fortalecer tumor 

O urologista da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Roberto Juliano Vaz esclareceu que há outros medicamentos que podem ter o mesmo efeito que o Zoladex, mas não recomenda a alteração. "É preciso estudar caso a caso separadamente. No entanto, não é prudente trocar o remédio no meio do tratamento. Isso pode ter consequências em relação à resposta do tumor."

A falta da medicação, que também é utilizada por mulheres com endometriose ou mioma, pode causar a volta do tumor caso a rotina de tratamento não seja regularizada. "É um conceito usado desde a década de 1950. Ele age no bloqueio da produção do hormônio masculino (testosterona) não só para o tumor parar de crescer, como também para fazê-lo regredir", explicou.

PROVIDÊNCIAS
Desta vez, a secretaria informou, por meio de nota, que o laboratório que atrasou a entrega de Zoladex prometeu regularizar a entrega na semana que vem, sem dia estipulado.

Sobre o lote do Sifrol, para tratamento de mal de Parkinson, o Estado reiterou a ocorrência de uma reação do alumínio da embalagem com a medicação, o que motivou a retirada do lote das prateleiras por ameaçar a saúde dos usuários.

A nota diz que o laboratório vencedor do novo pregão para compra do medicamento regularizou seus estoques e prometeu entregar o medicamento também na próxima semana.

Apesar da denúncia da usuária, o Estado garantiu que o estoque do remédio Lamotrigina não está zerado. Ele é usado para controlar crises convulsivas.




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