Setecidades Titulo Diário Comunidade
Casa dos Velhinhos perde fundadora

Dona Adelaide viveu os últimos anos na entidade, em São Bernardo

Por Angela Martins
Do Diário do Grande ABC
31/01/2012 | 07:00
Compartilhar notícia


A Casa dos Velhinhos Dona Adelaide amanheceu mais triste. A fundadora da instituição beneficente, Adelaide Faria Graciano, faleceu no domingo pela manhã, aos 80 anos, vítima de complicações decorrentes de diabetes e pressão alta. Ontem, a numerosa família, amigos, funcionários da entidade e internos renderam homenagens e deram adeus à benemérita.

O enterro aconteceu no Cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo, às 11h. Mesma cidade onde, há 25 anos, Adelaide fundou a Casa dos Velhinhos. O trabalho de apoio a idosos carentes, entretanto, começou muito antes disso. Há mais de 60 anos ela já cuidava de pessoas da terceira idade na própria residência.

A história de caridade de Adelaide começou logo após sua chegada ao Grande ABC, em meados da década de 1950. Ela, o marido e seis filhos - uma delas adotiva - vieram de Agudos, Interior de São Paulo, para Santo André. Analfabeta, aprendeu a ler com trechos da Bíblia. Na Instituição Assistencial Nosso Lar conseguiu emprego de faxineira. Tempos depois, Adelaide tirou a carteira de motorista com a ajuda de diretor da entidade e passou a trabalhar no setor de transporte.

"Naquela época surgiu o desejo de ajudar os velhinhos desamparados", explica a filha, a faxineira Sueli Graciano, 54 anos. O jogador de futebol aposentado Eli Graciano, 50, um dos filhos da matriarca, conta que, após a mudança da família para São Bernardo, uma vizinha pediu a Adelaide se poderia cuidar de uma idosa doente. A mulher passou a morar junto com a família. Outros apareceram.

Sem estrutura para atender a todos que precisavam de um lar, Adelaide contou com a ajuda de vizinhos e amigos. Até mesmo um pedido via programa de rádio foi feito, na esperança de arrecadar doações. A estratégia deu certo e o trabalho ficou conhecido na cidade. Na década de 80 um terreno foi cedido pela Prefeitura de São Bernardo para abrigar os velhinhos de Dona Adelaide.

Após anos à frente da entidade, a idade avançada obrigou-a a deixar a presidência da instituição, em 2000. Três anos mais tarde, a fundadora passou a integrar o quadro de residentes permanentes da Casa, onde permaneceu até o dia anterior à sua morte.

Asilo abriga 36 idosos em situação de vulnerabilidade

Atuando com a capacidade máxima de internos - 36 pessoas, sendo 24 mulheres e 12 homens -, a Casa dos Velhinhos Dona Adelaide sobrevive, basicamente, de doações. De acordo com a presidente da entidade, Maria Helena da Silva Martins, a fila de espera hoje é de 200 pessoas.

"Fazemos eventos para arrecadar fundos, temos bazar, e a Prefeitura de São Bernardo mantém convênio, mas não temos condições, hoje, de ampliar nosso atendimento. Nossa folha de pagamento é alta, temos 30 funcionários", lamenta Maria Helena. O atendimento é priorizado nos casos de idosos que vivem sozinhos e estão em condições de vulnerabilidade social.

A ‘alma' da casa se foi. Mas, para os internos, a amizade e o carinho por Dona Adelaide serão eternos. "Era uma grande amiga. Sentirei muito sua falta", declara a aposentada Maria Helena Wolf, 67 anos, que há seis vive na Casa. Assim como ela, todos ali ficarão saudosos do sorriso com que a fundadora os recebia. "Era colega de quarto dela. Adelaide sorria muito e dançava sempre. Era uma amiga maravilhosa", diz Maria Júlia Ferreira das Dores, que, aos 103 anos, fez questão de se despedir de Dona Adelaide.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;