Cultura & Lazer Titulo Memória televisiva
'Vídeo Show' não é mais o mesmo
Por Mauro Trindade
Da TV Press
29/01/2009 | 07:00
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Vídeo Show é um desperdício de talento, de beleza e de arquivo. O programa da Globo, criado em 1983, já passou por diversas fases, sendo a mais marcante quando foi apresentada pelo carismático Miguel Falabella. Mas a decisão de privilegiar a diversão mais ligeira e enaltecer as atrações da própria Globo esvaziou o programa de conteúdos mais instigantes. É uma pena, já que, mesmo ao seu modo, é um dos poucos espaços para a memória televisiva dentro da própria TV.

É difícil acreditar que o público do horário vespertino esteja apenas interessado em saber quantos tapas determinada atriz recebeu durante uma novela. Primeiro porque a ideia de ‘público' é cada vez mais estratificada e depois porque seu interesse não se encerra naquilo que está no ar. Memória é a palavra-chave.

Quem gosta de TV relembra com carinho antigas novelas, seriados, especiais e reportagens. Há um vínculo afetivo do telespectador com o que já foi exibido. Na TV norte-americana, episódios de antigas séries se tornam ‘clássicos'. Essa ligação, porém, não é explorada pelas emissoras brasileiras, como se a única coisa que importasse é o que está no ar agora ou o que esteve nos últimos anos.

Essa lógica foi desmontada com a mais recente reapresentação de Pantanal, que demonstrou que um antigo folhetim pode se tornar, de novo, um relativo sucesso. A chegada das séries nacionais e estrangeiras ao DVD demonstra esse interesse, assim como discos rígidos embutidos nos novos aparelhos de DVD, decodificadores de sinal a cabo ou via satélite e televisores, que podem gravar horas e até mesmo dias inteiros de programação.

Esse interesse pelas antigas séries já é capitalizada pela Globo Marcas, com seus DVDs, e em um ‘mercado negro' de fitas VHS de novelas que se estende do Brasil aos Estados Unidos.

Há uma possibilidade de que Vídeo Show se torne uma espécie de revista de celebridades eletrônica, mais próxima do formato dos noticiários do canal norte-americano E!, com muitas matérias sobre casamentos e separações, vestidos, festas e lançamentos.

Mais uma vez é apostar na vertigem do momento, no último escândalo e no acontecimento mais marcante dos últimos tempos. Que deve durar até amanhã.

A amnésia, a celebração do efêmero e a notícia como espetáculo moldaram a própria imagem da televisão, incapaz de se ver no espelho, com medo de envelhecer. Novas aplicações de botox no Vídeo Show não vão impedir o angustiante vazio de viver sem passado. É pena, porque o programa tem os profissionais acertados e o acervo quase perfeito para a tarefa. Seria melhor que tentar preencher a programação vespertina com games e celebridades. E Angélica merecia companhia melhor que a dos três macacos do Vídeo Game. Ou ‘micos'.




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