Símbolo do Natal, já que é o responsável por levar presentes às crianças em seus lares, o Papai Noel encara, todos os anos, a mesma missão: alegrar o dia da garotada e manter viva a magia da data. No entanto, embora o Bom Velhinho, como é carinhosamente conhecido, conserve características típicas – barba branca, roupa e gorro vermelhos, botas pretas, trenó e renas –, pode contar com personalidade diferente entre seus representantes.

Este é o caso dos atores Vitor Sanches, 63 anos, e Bernardo Aquiles Burgus, 69, que atuam como Papai Noel em dezembro há pelo menos uma década. Enquanto um deles interpreta o ‘vovô descolado’, com direito a piercings e tatuagem, o outro representa a tradição do Noel carinhoso e risonho, cheio de amor para dar. Em comum, os dois acreditam que interpretar o personagem significa “dividir algo com alguém”.

Por trás da fantasia, Sanches é o descolado pai de família, artista plástico e professor. Morador de São Caetano há 18 anos, ele tem 94% do corpo tatuado, além de brincos e piercings – inclusive nos mamilos e dente. Quando veste a roupa vermelha, dá vida ao ‘Papi Noel’, versão do Bom Velhinho que não deixa de lado a realidade. “Temos de mudar nosso País. Desejo que neste Natal as pessoas tomem consciência, e desejo mudança para o Brasil, principalmente na Educação, que hoje falta.”

Com o corpo desenhado por 25 tatuadores, sendo 65% dos desenhos criados por ele mesmo, Sanches afirma que só não tatuou o rosto por causa do trabalho como Papai Noel, desempenhado em um shopping da Capital. “Sou um gibi e cada parte minha conta uma história. Assim como meu personagem, que em suas duas formas, aprende e ensina”, afirma.

O bom e descolado velhinho discorda ainda da atitude de pais que obrigam as crianças a tirar foto com o Noel, já que considera “péssima atitude”. Mas nem tudo é crítica. Emocionado, Sanches deixa as lágrimas caírem ao contar uma história que tocou seu coração, quando teve vontade de adotar uma criança. “Há uns dias, uma entidade carente e um orfanato levaram as crianças ao shopping onde trabalho para tirarem foto. Uma das meninas, já grande, me abraçou e pediu para que lhe desse uma família. Chorei muito e fiquei com isso guardado. Como eu queria poder dar isso a ela”, lembra.

O ‘Papi Noel’ destaca que já ganhou prêmio e teve o nome no Livro dos Records da Ucrânia como o Papai Noel mais tatuado do mundo. Fora isso, se orgulha em participar de desfiles na São Paulo Fashion Week (Semana da Moda de São Paulo).

MAGIA
Já Burgus, que está há dois meses atendendo a criançada no São Bernardo Plaza Shopping, no bairro Ferrazópolis, só enxerga a magia do Natal. Morador do Parque dos Pássaros, em São Bernardo, o engenheiro civil aposentado deu início à carreira como Noel há 15 anos, quando passou a atuar de forma voluntária em casas de repouso e entidades carentes. “De forma profissional, faz três anos que atuo como Papai Noel. Mas não tem diferença. Muda o local, mas o papel é sempre o mesmo.”

Para ele, dar vida ao Bom Velhinho significa levar carinho, alegria e atenção ao próximo. Embora o público-alvo da festa sejam as crianças, ele destaca também a emoção dos adultos com a festa. “Os pais às vezes relutam, mas quando chegam perto de mim voltam a ser criança.”

Para ele, a época do Natal transforma as pessoas. “Meu trabalho é emocionante. A população se confidencia, chora, pede. Não sei o que faria se não fosse o Bom Velhinho. Ho ho ho e Feliz Natal a todos.”