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'Ele é um monstro', dizem irmãos de Eloá

Ronickson e Everton Douglas lembraram que Lindemberg era tratado como filho pela família

Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
15/02/2012 | 07:00
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Em momentos distintos nos depoimentos à Justiça ontem pela manhã, no Fórum de Santo André, os dois irmãos de Eloá Cristina Pimentel classificaram Lindemberg Alves, 25 anos, acusado de matar a garota após 100 horas de cárcere privado em 2008, como monstro. Apesar do murmúrio da plateia, o réu sentado, com os braços estendidos e as mãos cruzadas, não esboçou nenhum tipo de reação.

No segundo dia de julgamento do caso Eloá, o policial militar Ronickson Pimentel dos Santos, 24, irmão mais velho da vítima, foi o primeiro a prestar depoimento - e o último das cinco testemunhas de acusação do réu.

Visivelmente emocionado, chorou pelo menos três vezes ao lembrar da irmã e da tragédia. Uma delas foi, ao ser questionado pelo advogado assistente da acusação, José Beraldo, sobre a doação de órgãos da irmã. "Foi uma atitude linda de minha mãe", disse, com a voz embargada. Após um gole de água, definiu Lindemberg como "um monstro, louco e agressivo. É capaz de tudo", classificou, com voz firme.

Por cerca de uma hora, Ronickson prestou depoimento aos olhares atentos dos sete jurados - cinco homens e uma mulher. Embora nunca tivesse aprovado o namoro da irmã, que começou aos 12 anos, disse que também nunca se intrometeu - até porque viveu por três anos no Rio de Janeiro, onde era fuzileiro naval.

Segundo a testemunha, Lindemberg tinha um comportamento na frente da família de Eloá completamente diferente da postura que adotava na rua. "Ele era brigão e bem explosivo, principalmente quando jogava futebol", exemplificou.

Ao ser indagado sobre a então amizade do irmão mais novo com Lindemberg, Ronickson novamente se emocionou. "Meu irmão se fechou. Não temos mais a cumplicidade. Ele sente um pouco de culpa pelo que ocorreu com a Eloá, afinal foi ele quem a apresentou para o Lindemberg", disse, ao ressaltar ainda que a sua família foi "traída".

O mesmo sentimento de desprezo foi demonstrado pelo irmão mais novo, Everton Douglas, 17, arrolado como testemunha do juízo - após a advogada do reú o ter retirado como testemunha de defesa (veja reportagem nesta página).

"Tenho hoje um sentimento de dó, de pena, pela pessoa que ele é. Para mim, é um monstro. Um ser insignificante", desabafou o ex-melhor amigo de Lindemberg. Também qualificou o réu como "estourado e agressivo".

Ao longo do depoimento, Everton Douglas usou cinco vezes a palavra "infelizmente" quando indagado sobre sua amizade com Lindemberg ou fatos relacionados com os momentos do cárcere. "Infelizmente, minha vida nunca mais foi a mesma", afirmou. O irmão mais velho, já sentado na plateia, manteve as mãos na cabeça abaixada .
Advogada manda juíza ‘voltar a estudar'

Advogada de Lindemberg Alves, Ana Lúcia Assad tem atraído os holofotes para si no julgamento de seu cliente. Ontem, se superou ao provocar a juíza Milena Dias, a quem recomendou "voltar a estudar", após ter uma pergunta indeferida. A promotora Daniela Hashimoto interveio ao dizer que aquilo era "desacato".

Antes, durante o depoimento do advogado Marco Antonio Cabello, às 10h30, já havia se estranhado com a magistrada. "Para acusação, tudo; para a defesa, nada", falou, novamente por ter uma pergunta indeferida por Milena. "Então, vamos enforcar o Lindemberg", emendou.

Na hora da pausa para o almoço, às 13h, a advogada não conseguiu almoçar em padaria próxima ao Fórum de Santo André. Populares que acompanhavam o movimento do lado de fora hostilizaram a advogada, que precisou de ajuda da Polícia Militar para poder ir fazer a sua refeição.

No fim do dia, Ana disse rapidamente que está sendo "prejudicada". Ao lado de representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) da cidade, criticou mais uma vez a atuação da imprensa e disse que graças aos jornalistas teme pela sua vida. Por isso, fez requerimento para usar colete à prova de balas. "Minha vida está sendo prejudicada graças a mentiras que estão sendo publicadas com meu nome", disse. Prometeu agora falar só no fim do julgamento. (Elaine Granconato e Cadu Proieti)

Mãe diz que não vê arrependimento no réu

Mãe da adolescente Eloá, Ana Cristina Pimentel não viu arrependimento nos olhos de Lindemberg Alves Fernandes. "Não o vejo como monstro. Simplesmente, ele matou minha filha. É um assassino", desabafou para dezenas de jornalistas, tão logo deixou o tribunal e após acompanhar o depoimento do filho mais velho.

Isolada desde segunda-feira, quando, surpreendemente, foi arrolada como testemunha pela advogada de Lindemberg, Ana Cristina ficou distante de tudo e de todos, ou seja, incomunicável. "Ela (advogada) só fez isso para tirar a gente da plateia", afirmou a recepcionista, que pôde ontem, finalmente, olhar nos olhos do acusado de matar sua filha. O réu abaixou a cabeça.

Em manobra jurídica para confundir a acusação e afastar os familiares dos olhos dos jurados, Ana Lúcia Assad aguardou a entrada da mãe de Eloá, no tribunal, para abrir mão dos depoimentos dela e do irmão mais novo da vítima. Sentada na cadeira da testemunha, Ana Lúcia, vestida de preto, exclamou: "Não acredito!".

No dia anterior, a própria advogada pedira pela substituição de duas testemunhas pela mãe e pelo irmão. A juíza Milena Dias constou em ata ontem que, no primeiro dia, em conformidade ao princípio da ampla defesa, deferiu o pedido ainda que formulado de "forma extemporânea". A princípio, a promotora Daniela Hashimoto manifestou-se contrária ao pedido da advogada, mas foi removida da ideia. "Eu vou embora", ameaçou Ana Lúcia, ao induzir cerceamento de defesa. (Elaine Granconato)

Pelo fórum

VETERINÁRIA

No depoimento emocionado de Ronickson Pimentel dos Santos, ele contou que a irmã Eloá Cristina Pimentel morreu com o sonho de ser veterinária. Depois, comentou sobre o vazio que ficou na família. "Meu filho nasceu há sete meses. Estamos buscando força", afirmou.

FAMÍLIA

Desde o primeiro dia, uma das irmãs de Lindemberg acompanha da plateia o julgamento - ela não fala com os jornalistas. Na segunda-feira, em determinado momento, utilizou uma assistente para levar um bilhete dela à advogada Ana Lucia Assad.

RECADO

Ontem, foi a vez do réu utilizar a assistente da advogada de defesa para levar um recado, desta vez verbal, ao jovem que acompanhava sua irmã na plateia - procurado ele não quis se identificar ao Diário.




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