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Máquinas caça-níqueis forma cenário da violência
Por Artur Rodrigues e
Gabriel Batista
Do Diário do Grande ABC
16/01/2006 | 08:11
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Aumento no índice de homicídios e crimes violentos é um dos reflexos da presença de máquinas caça-níqueis. A conclusão é do deputado Romeu Tuma Júnior (PMDB), autor do projeto de lei que proíbe os aparelhos no Estado. “Elas (as máquinas) causam violência e homicídios. Em disputa entre pontos de jogos, tivemos até notícias de crimes hediondos”, conta o deputado, sobre a época que era delegado da Seccional Sul da capital.

Para atingir o objetivo de acabar com os caça-níqueis, a proposta, se aprovada, vai enfrentar alguns entraves. O interino da Delegacia Seccional de São Bernardo, Basílio Samofaloz, diz que “é fácil” apreender todas as máquinas, mas que o difícil é arranjar onde deixá-las.”Acabam sendo depositadas nas mãos do próprio contraventor, que recuperam a memória do aparelho e voltam a cometer o delito”, informa o delegado Basílio. Ele conta que o setor correcional da Seccional de São Bernardo apura atualmente duas denúncias de policiais civis que teriam recebido propina relacionada aos caça-níqueis.

O crime organizado também se estrutura na base dos caça-níqueis. O deputado Tuma Júnior conta que, quando era delegado na capital, chegou a constatar a presença de três máfias diferentes relacionadas ao mesmo esquema de caça-níqueis. “Fui designado para dirigir um inquérito que envolvia as máfias espanhola e italiana. Eles se juntaram e vieram para o Brasil, onde passaram a atuar em conjunto com indivíduos que exploravam jogo de bicho. Começaram a usar esses pontos de jogo de bicho para instalar as máquinas e tinham o objetivo final de explorar esses locais para a venda de drogas”, relata.

A mistura explosiva que causa aumento na taxa de criminalidade ocorre em locais que mesclam jogo e bebida, como na maioria dos bairros de periferia do Grande ABC. “Em locais como Diadema, que já tem a Lei Seca, a proibição dos caça-níqueis refletirá muito positivamente”, pontua. Ele rebate as críticas de que a lei é redundante, já que jogos de azar são proibidos no Brasil. “A lei proíbe a exploração de máquina caça-níquel e ponto. Hoje, se depende de um laudo para dizer se a máquina é jogo de azar”.

Hoje, apreender caça-níqueis é prática rara no Grande ABC. O major José Farina Quesada, do Comando da Polícia Militar na região, afirma que os policiais militares têm obrigação de apreender as máquinas quando as avistam. A PM, porém, não tem feito apreensões de aparelhos caça-níqueis, de acordo com o major. Ele afirma que, caso haja indícios de policiais militares recebendo propina relacionada ao jogo de caça-níquel, o Comando da PM na região vai atuar como corregedoria. “Mas nenhum policial militar foi afastado por essa causa nos últimos anos”, diz Quesada.

Para o deputado Tuma Júnior, outro ponto importante do projeto de sua autoria é a multa e a expropriação da máquina. “No mundo inteiro, para atingir organizações criminosas, tem que atingir o bolso. Na lei de entorpecentes, por exemplo, se você usar carro para traficar, perde o veículo”.

SSP – A Secretaria de Estado da Segurança Pública não informou à reportagem quantas máquinas caça-níqueis a polícia apreende no Grande ABC a cada mês ou ano. Também não respondeu se a Corregedoria das polícia Civil e Militar puniu algum policial por recebimento de propina de donos ou distribuidores de caça-níqueis em 2005. Por fim, não forneceu estimativas de quantas máquinas estão em funcionamento hoje nem sobre as cifras movimentada por esse jogo.

Em nota, a Secretaria afirmou que qualquer medida que auxilie na prevenção ou no combate ao crime é bem-vinda, e que a Polícia Civil atua na investigação de denúncias de crime contra o consumidor, envolvendo máquinas caça-níqueis. A secretaria estadual informou ainda que, se comprovada a existência de participação de policiais no crime, eles serão punidos conforme a “Via Rápida”.



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