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Feiras crescem com cupom e sorteio
Hugo Cilo
Do Diário do Grande ABC
06/03/2005 | 18:52
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O mundo das feiras livres do Grande ABC passa por processo de transformação. O setor que viveu tempos de glória há cerca de 20 anos, hoje busca alternativas inusitadas para garantir a fidelidade do consumidor e fazer frente à concorrência dos sacolões e das grandes redes de hipermercados. Vale de tudo. Sorteio de tevês e carrinhos de feira, descontos especiais, cobertura de ofertas de concorrentes, troca de cupons por produtos – do tipo "junte dez e ganhe mais um" –, além de trabalho à noite para facilitar a vida do cliente (ver texto nesta página). E a estratégia dá certo. Em vez de grandes campanhas publicitárias, as propagandas são feitas na garganta, literalmente.

Dados do Sindicato dos Feirantes do ABDMRP – não inclui São Caetano, que possui sindicato próprio, e Rio Grande da Serra, que não tem feirantes e é atendida por comerciantes de outros municípios – indicam que, após o impacto negativo do "boom" de hipermercados e sacolões, há cerca de 15 anos, o setor voltou a crescer de forma considerável e atualmente passa por um dos melhores momentos. E não é de hoje. O mercado de feiras, que fatura na região cerca R$ 3 milhões mensais, cresceu 40% nos últimos cinco anos, tanto em número de feirantes e consumidores quanto em volume de vendas. Só em 2004, a expansão atingiu 10% na comparação com 2003.

Prova disso é o número de profissionais cadastrados nas prefeituras da região: 2,6 mil, que faturam em média R$ 1,2 mil cada por mês e atendem 100 mil clientes. Entre os municípios atendidos pelo sindicato, somente Mauá ainda oferece registro para novos feirantes – nos demais, as cotas estão completas.

Santo André lidera o ranking das cidades com maior número de feiras e feirantes. São 1,1 mil profissionais espalhados por 10 feiras diárias, que reúnem de 15 a 100 barracas. Conquistar um espaço nesse concorrido mercado hoje somente por meio de transferências. Diadema vem logo atrás, com 600 feirantes e cinco feiras, Em São Bernardo e Mauá, há 900 feirantes (450 em cada cidade), em quatro feiras por município. Ribeirão Pires possui cerca de 100 feirantes em quatro feiras. Rio Grande da Serra recebe feirantes de outras cidades.

Para o presidente do Sindicato dos Feirantes da região, Odair Roberto Loureiro, o setor está muito longe da crise, embora a situação pudesse estar melhor. "A concorrência dos hipermercados fez muitos de nós tremerem, mas hoje estamos rindo da situação. Enquanto eles (os hipermercados) contam com ajuda do governo e com incentivos de todos os tipos, nós estamos reconquistando na ‘unha’ aqueles que um dia acreditaram que as feiras estavam em decadência", diz.

Para o presidente do Sindicato dos Feirantes do Estado de São Paulo, José Torres Gonçalves, a maré boa do setor não privilegia somente o Grande ABC, mas é uma realidade estadual. Torres confirma o bom desempenho do mercado regional, mas afirma que iniciativas públicas têm ajudado a impulsionar o setor em todas as regiões. Hoje, 100 mil pessoas dependem diretamente de feiras livres em todo o Estado.

Na capital, por exemplo, o universo das feiras livres cresceu 30% em 2004 na comparação com o ano anterior, por conta da decisão da Prefeitura de abrir novas vagas para feirantes. Isso fez com que a cidade passasse a ter 15 mil feirantes registrados. Foram 4 mil novos profissionais só no ano passado.

Quando o assunto é concorrência com os hipermercados, Torres ironiza. "Os supermercados estão até nos ajudando. Quanto mais eles tentam investir nesse ramo, mais as pessoas procuram as feiras. Temos a grande vantagem de ser especialistas em produtos específicos, ao contrário do que acontece com os supermercados. Eu, por exemplo, vendo batata há 35 anos. Ninguém entende mais disso que eu. Conheço só de bater o olho", diz, ressaltando também a tradição. "O comércio de rua de frutas, verduras e carnes é conhecido por oferecer produtos mais frescos."




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