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Fazendeiro acusado de matar sindicalista começa a ser julgado
Do Diário do Grande ABC
04/06/2000 | 15:26
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O julgamento de um poderoso fazendeiro, acusado de ser o mandante do assassinato de um sindicalista, em 1991, começará nesta terça-feira, na Corte de Apelaçoes do Estado do Pará, informou um dos advogados de acusaçao, Henri Burin des Roziers.

"Houve obstáculos inimagináveis até chegar a este julgamento que, depois da prisao de Jerônimo Alves Amorim, em novembro passado, em Cancún (México), foi adiado por três ocasioes", disse des Roziers, padre e advogado francês ameaçado de morte em várias ocasioes, na regiao.

Este padre que trabalha como advogado dos camponeses 'sem-terra' em Xinguará e Rio Maria (no Sul do Pará) disse, numa entrevista por telefone, que "tudo foi feito de última hora. É totalmente anormal que os juízes tenham sido trocados, em menos de dois meses. Há apenas quatro dias, a última juíza que iria julgar o caso pediu para sair", afirmou.

"Estou inquieto com o que pode acontecer. Haverá muitas tentativas para que este julgamento nao seja concluído. O que terá acontecido com os 21 jurados, dos quais sete serao escolhidos por sorteio na terça-feira, na Corte de Apelaçoes de Belém?", se pergunda des Roziers.

"Já nao corro nenhum risco, sou conhecido demais. Estive várias vezes ameaçado de morte desde 1987", afirmou. "Recusei a proteçao da polícia, pois estou sendo protegido permanentemente por um membro de minha congregaçao, que me acompanha a todos os lugares", disse.

Segundo o religioso, o processo se desenvolverá num clima de tensao porque o acusado goza da proteçao da polícia e de determinados setores da classe política local. "É muito difícil acabar com a impunidade da elite rural", afirmou des Roziers, 69 anos.

Em março, o matador de aluguel que matou o sindicalista Expedito Ribeiro de Souza fugiu da prisao, apesar de ter sido condenado a 25 anos de prisao, em 1995.

"Houve omissao e cumplicidade do governo local ", acusou entao a Comissao Pastoral da Terra (CPT), vinculada à Igreja Católica.

"O advogado da defesa, Américo Leal, de extrema direita, odeia a Igreja e vai atacar a CPT e a mim", previu o padre. Uma lista de dez pessoas 'marcadas para morrer' circula na regiao, a 800 km de Belém. Nela, está o nome de des Roziers.

As 'intimidaçoes' já começaram e cinco sem-terra foram assassinados em maio na regiao, considerada a mais violenta do Brasil, nos conflitos agrários.

O fazendeiro é acusado de outros dois assassinatos de camponeses, além da do dirigente sindical de Rio Maria. Amorim esteve foragido durante cinco anos e foi preso no final de novembro de 1999 por agentes da Interpol em Cancún, com uma ordem de prisao emitida depois da detençao do assassino de Expedito, que confessou ter sido pago pelo fazendeiro.

Atualmente, há 4,8 milhoes de sem-terra no Brasil. 300 mil deles estao instalados em acampamentos precários, alguns há mais de três anos.




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