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‘Sou a principal oposição em São Caetano’

Sobrinho de Luiz Olinto Tortorello, três vezes prefeito de São Caetano e morto em 2004, Thiago Tortorello levará o nome do lendário político são-caetanense às urnas

Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
04/05/2020 | 00:01
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Claudinei Plaza/DGABC


Sobrinho de Luiz Olinto Tortorello, três vezes prefeito de São Caetano e morto em 2004, Thiago Tortorello (PRTB) levará o nome do lendário político são-caetanense às urnas neste ano com o desafio de, finalmente, trazer um êxito eleitoral a uma das mais tradicionais famílias da cidade. Pré-candidato à Prefeitura neste ano, ele avalia ser o principal oposicionista real ao governo do prefeito José Auricchio Júnior (PSDB) e o único que pode levantar as bandeiras do tortorellismo. Thiago relembra como passou a gostar de política e se diz preparado para administrar a cidade que, por 12 anos, esteve nas mãos de seu tio.

Como surgiu a discussão de colocar seu nome como candidato a prefeito de São Caetano? 

Fui convidado para assumir a presidência do PRTB em São Caetano em 18 de junho de 2019. Nesta data eu me filiei com a determinação de ser presidente do partido e candidato a prefeito. O PRTB tem postura de lançar candidatura em algumas cidades e eles têm São Caetano como prioridade.

Desde a morte de Luiz Olinto Tortorello, em 2004, houve certa dispersão política na família Tortorello, Como está essa situação agora?

Não vejo divisão na família. Não é verdade que a família não esteve unida depois da morte do Luiz. É preciso ponderar que não foi somente a cidade que perdeu seu líder, a família também perdeu. Ele era o político da família, centralizava muito bem esse papel. A família acabou não tendo uma pessoa líder na área política. Alguns tentaram. O Marquinho (Tortorello)  foi deputado duas vezes (1999 a 2002 e 2003 a 2006). Mas não tivemos essa vontade de lançar um candidato majoritário. Não é que todo mundo virou e falou que eu seria candidato. Foi algo natural, foi acontecendo. Se não tivesse esse convite do PRTB, não seria pré-candidato. Agradeço a oportunidade no PRTB, até porque sei que, em São Caetano, teria pouco espaço em partidos do Centrão. Não coincidia com a postura de oposição (ao governo) que a família Tortorello adotou. 

O senhor sempre nutriu vontade de ingressar na política? 

Sempre tive muito pé no chão. Eu amo política. Comecei a gostar de política por causa do meu tio. Na primeira eleição que ele disputou para prefeito, em 1988, eu ia para a escola de perua Kombi. No trajeto, a perua rodava praticamente todos os bairros e eu ia reparando na cidade. Essa eleição me marcou muito. Eu comecei a me interessar para valer por política ali. Eu tinha 9 anos, lembro de muita coisa ali. Mas a minha primeira experiência com política mesmo foi em 1985, na eleição entre o Fernando Henrique (Cardoso) e o Jânio Quadros (para prefeitura de São Paulo). Eu me lembro perfeitamente que a gente assistia aos debates juntos. Eu, meu tio Luiz, meu tio Pádua, meu pai (Jayme) e meu primo Luiz. Foi na minha casa. Aquilo ficou marcado na minha memória. Eu via os comentários do meu tio com meu pai. Tenho flashes daquele dia até hoje. Aquela eleição estava praticamente ganha pelo Fernando Henrique e houve aquela virada fantástica do Jânio. Ele, todo folclórico, chegou e desinfetou a cadeira que o Fernando Henrique havia sentado. Minha primeira lembrança de política foi em 1985. Em 1986 meu tio se elegeu deputado. Em 1988 ele foi candidato a prefeito, ganhou, e me marcou de vez. Eu nunca tive essa ambição de ser o candidato, de ser prefeito, ser isso ou aquilo. A política é jogo de xadrez. Não adianta eu ter capacidade sem partido para concorrer. Se não fosse convite do PRTB nada disso seria possível.

Por que já disputar a Prefeitura sem experiência em pleitos de deputado ou vereador?

Será a primeira vez que saio candidato a alguma coisa. Eu já participei de primeiro escalão em São Caetano (no governo de Paulo Pinheiro, DEM), em Santo André (na gestão de Paulo Serra, PSDB), prestei consultoria em outras cidades. Mas nunca disputei um cargo eletivo. Na minha forma de ver, é mais trabalhoso e exige mais preparo você ser secretário do que vereador. Essa questão da inexperiência é relativa. Eu nunca disputei cargo eletivo, mas tenho experiência na administração pública. O fato de eu ir direito como candidato a prefeito surgiu por combinações de situações. O cenário político de São Caetano está muito instável. São Caetano hoje não tem líder político.

Nem mesmo o atual prefeito, José Auricchio Júnior (PSDB)?

Eu não considero. Pela má gestão dele e pelos problemas jurídicos que ele enfrenta. Todo mundo sabe da situação jurídica dele. Não considero que haja líder político do gabarito do Luiz Tortorello. Não tem ninguém que chega nem perto. Há espaço no cenário político porque a população pede renovação e certa credibilidade que a família tem na cidade. Alio a renovação com o tortorellismo.

Luiz Tortorello morreu há 16 anos. O senhor acredita que o tortorellismo está presente na cidade mesmo depois desse tempo? 

Está presente sim. A gente anda na rua, as pessoas comentam, contam alguma história, alguma passagem com ele. Surpreendentemente, mesmo 16 anos depois da morte dele, a figura dele está muito presente nas pessoas, em especial nas mais simples. Eu estou conhecendo mais o Luiz Tortorello por meio das histórias que as pessoas contam do que ele mesmo falava para a gente. Ele vivia 24 horas a política. Dormia pouco, cerca de cinco horas por dia. Pouco vivia a vida pessoal. Como ele era cristão, foi seminarista, ele não alardeava, simplesmente ajudava. Depois de morto, eu me surpreendo com as histórias que tenho escutado.

Depois da morte do Luiz, seu pai, Jayme, tentou a Prefeitura. O Marquinho acabou não renovando seus mandatos na Assembleia. O senhor assimilou possíveis erros cometidos na hora da passagem desse bastão? Sente que a família está preparada para emplacar uma figura política? 

Eu sinto isso. Desde o ponto de vista do âmbito pessoal como também do âmbito do cenário político. As pessoas vêm conversar comigo, contar as necessidades. Já nos procuram sabendo que somos oposição. É combinação de fatores que vai deixando a gente animado para ganhar.

O senhor se coloca como terceira via na eleição?

Não me considero a terceira via. Eu sou o principal oposicionista na cidade. Respeito muito os outros agentes políticos. Mas eles têm passado político na cidade. Eles vieram do tortorellismo (Auricchio, Pinheiro e Fabio Palacio, do PSD, tiveram as carreiras políticas ligadas ao governo Tortorello), mas foram parceiros de primeira hora do prefeito Auricchio. Por isso não acho que eles são tortorellistas (em referência a Pinheiro e Palacio). São mais auricchistas do que tortorellistas. Com a ausência física do Luiz, eles acabaram cedendo todo capital político ao atual prefeito. Não nesta gestão, claro, mas nas gestões anteriores. O Fabio e o Paulo foram vereadores da base do Auricchio. O Fabio foi líder do governo lá atrás. Por isso eu, de fato, sou a oposição. Não estava nesta época (de governo Auricchio, que começou em 2005). Fiz minha graduação no Exterior, estudei lá (na Espanha). Até pelo distanciamento físico não fiz parte de nenhuma gestão anterior até a gestão do Paulo, que ele me convidou para ser secretário (de Direitos da Pessoa com Deficiência ou Mobilidade Reduzida). Com o atual prefeito eu nunca trabalhei.

Quais bandeiras o senhor vai defender?

Observando os vícios do cenário político nacional, vejo que em São Caetano não há diferença. Não poderia defender outra bandeira a não ser a probidade, a transparência. Por causa da pandemia, esses dois itens precisam ficar mais destacados. A questão da gestão pública responsável também, ainda mais agora com as contas cada vez mais no vermelho. A situação (da pandemia) só vai piorar. Há muitos contratos sem licitação sendo feitos. Claro que é por causa da pandemia, mas vejo que, na frente, uma coisa ou outra vamos encontrar. Tenho receio do rombo econômico que o próximo prefeito vá pegar.

Como as figuras mais políticas da família Tortorello vão se engajar na sua campanha?

A conversa é a de que eu serei o candidato a prefeito e outra pessoa da família saia para vereador. Tudo leva a crer que seja o Marquinho. Ele está como presidente do Avante e acho que será candidato a vereador. Com muita chance, aliás. Vejo que as pessoas estão esperando um pouco, até por causa do coronavírus. Até as convenções os partidos vão decidir. A questão jurídica do atual prefeito também gera esse sentimento de aguardar o cenário. No Avante não é diferente. Espero que eles se entendam lá. No PRTB, tive a vantagem de ter autonomia. 

Há segurança política que o PRTB não vai retirar sua candidatura a prefeito no futuro?

Tenho todas as garantias. Quando escolhi o PRTB eu estava conversando com mais três partidos. O PRTB me deu garantia de que eu seria o presidente e pré-candidato a prefeito. Se eu quisesse ser o presidente sem ser pré-candidato a prefeito, eles não entregariam o partido. Senti muita segurança no partido. Foi o casamento perfeito. O PRTB queria um candidato como eu e eu queria um partido como o PRTB. Eu tenho toda liberdade de dirigir o partido da forma que acho melhor.

O senhor está no partido do vice-presidente da República, Hamilton Mourão. Como espera a ajuda dele na campanha? Conta com apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido)? 

Montamos um bom time. Sobretudo fizemos uma coligação com o Aliança pelo Brasil. Eles não conseguiram se formalizar como partido. Mesmo se tivessem, haveria a parceria. Eu considero o Aliança pelo Brasil como partido. Eles nos procuraram e nós procuramos também. O alinhamento vem desde lá de cima, com o presidente Bolsonaro e o vice-presidente Mourão, com grande entrosamento. A coligação seria natural para as eleições municipais.

Sua candidatura será bolsonarista, então?

Temos de pensar no cenário municipal. Colocar rótulo é complicado. Hierarquicamente, meu chefe maior partidário é o vice-presidente da República. Como o vice-presidente tem bom relacionamento com o presidente, eu e todos os diretórios precisamos ter esse bom relacionamento. Eu estou firme com o Mourão. Se o Mourão está firme com Bolsonaro, todos estamos firmes com o Bolsonaro. Não vejo como uma candidatura bolsonarista. É do PRTB com apoio da Aliança pelo Brasil e vejo que teremos apoio do Mourão e do Bolsonaro. Muita gente me conhece desde criança em São Caetano e não presta atenção no cenário nacional e vai votar em mim. 




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