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USCS analisa água do Rio Doce

Após segunda expedição a Mariana, especialista destaca dificuldades de reconstrução da área

Por Yara Ferraz
30/10/2016 | 07:00
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Angela Maria Villalobos/Divulgação


 Após segunda expedição pela Bacia do Rio Doce, região de Mariana, Minas Gerais, palco da mais grave tragédia ambiental do País, há um ano, a especialista em recursos hídricos e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Marta Ângela Marcondes, ressalta, com tristeza, a situação encontrada. Entre as principais preocupações da docente, estão o fato de o fundo do rio ainda estar tomado pela lama, de animais selvagens estarem consumindo a água, aparentemente em condições impróprias e, das dificuldade de reconstrução do bioma.

A viagem, feita em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, foi motivada pela coleta de 18 amostras de água em extensão de 680 quilômetros. O recurso hídrico será comparado com o material recolhido há um ano, data da primeira expedição. O resultado do trabalho, que durou quatro dias, será divulgado no fim da semana. Professora Marta destaca com propriedade os estragos ainda graves causados pelo rompimento de barragem da Samarco. Embora o cenário não seja mais o de tragédia, como o encontrado há 12 meses, a presença dos resíduos sólidos, que praticamente acabaram com a vida do rio, é marcante. “Em pontos em que a água estava aparentemente limpa, ao apoiar nas pedras, a mão sai da cor de barro. Isso mostra que a presença dos rejeitos ainda é muito grande até no entorno. Além disso, há grande parte dessa lama no fundo do rio”, contou.

Outra preocupação que surgiu foi o consumo da água pelas espécies que vivem no Parque Estadual do Rio Doce, onde a equipe observou diversos animais selvagens, como a anta, capivara e até mesmo o lobo-guará, ameaçado de extinção. “O principal problema é que o rio passa dentro do parque e esses animais tomam essa água. Ainda não dá para medir o efeito que isso tem para a fauna, mas é preocupante.” Restos de árvores e acúmulo de lixo, verificados pela equipe, evidenciavam que, apesar do tempo que passou, a força do rompimento da barragem ainda está presente no cotidiano dos moradores e em todo o curso do rio. “Em Governador Valares, tinha uma espécie de lixão. As pessoas estão abandonadas à mercê da própria sorte. Muitos dos moradores se interessaram bastante pelo que estava sendo feito. Os depoimentos foram emocionantes”, revelou Marta.

Na maior parte do trajeto, os pesquisadores de depararam com caminhões, que retiravam o lixo e os escombros de diversos pontos da bacia. Para a professora, o fato é considerado negativo. “Ninguém sabe onde estão descartando isso, e se está sendo feito de maneira correta.” Em diversos locais percorridos, foi possível observar que o nível do rio estava muito acima. Em pelo menos dois deles, grande vegetação já nascia, o que, ao contrário do que possa parecer, é algo extremamente negativo. “Significa que o rio está morrendo naquele ponto e estamos perdendo parte daquele leito”, alerta a especialista. “Da outra vez, senti que tudo estava em um estado catastrófico. Agora, vi que apesar do cenário triste, as pessoas ainda têm esperanças de que aquilo seja reconstruído. Pode ser que isso aconteça, mas não vai ser do mesmo jeito”, concluiu.

ESPERANÇA
Apesar da situação do rio, a professora tem esperança em um dos pontos da coleta. No início da bacia, o Rio Piranga é um dos principais afluentes e, segundo ela, pode ter ajudado na limpeza da água. “É bem no começo do Rio Doce, onde dois grandes rios iniciam a sua formação. A amostra de água parecia bem limpa e o próprio rio tinha características diferentes do restante. Era bem nítido, a olho nu, a parte do Rio Doce, onde se observa grande quantidade de barro e aquela água mais puxada para o marrom”, afirmou Marta.

Expedição terá relatório estatístico
Além do resultado da qualidade da água, os dados coletados na expedição a Mariana também vão possibilitar a realização de relatório estatístico. A responsabilidade destes dados são da professora titular de Bioestatística e Psicometria da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Regina Albanese Pose, que também acompanhou a viagem. “Vai ser feita análise multivariada de dados. Vamos ter que levar em consideração, nesses pontos específicos que sofreram alterações, o que se aplicou ao entorno deles.”

As amostras passam por análise feita no laboratório da USCS por equipe formada por professores e alunos. Nem todo material coletado possui a aparência de água suja, porém, para a professora e bióloga Marta Marcondes, isso não significa que o recurso hídrico esteja em bom estado. Será verificada se a quantidade de metais pesados, de microorganismos, se o nível de oxigênio, de nitrato, entre outros, estão dentro dos parâmetros exigidos pela Legislação do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Dos 18 pontos analisados no ano passado, 16 apresentaram IQA (Índice de Qualidade da Água) péssimo e dois obtiveram índice regular.




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