Política Titulo São Bernardo
‘Relação da gestão com a sociedade pode melhorar’, diz Paulo Dias
Por Leandro Baldini
Do Diário do Grande ABC
21/06/2015 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


Vereador de dois mandatos, Paulo Dias (PT) foi convidado pelo prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), para assumir o lugar da mais contestada secretaria da gestão petista. Cleuza Repulho (PT) está prestes a deixar a Pasta de Educação com coleção de problemas com pais de alunos e respondendo judicialmente a processo por superfaturamento de compra de mochilas e tênis.
Todo cenário faz com que Paulo Dias – aliado de longa data de Marinho, desde os tempos de sindicalismo – fale sobre seu futuro trabalho ‘pisando em ovos’. Mas em um ponto a crítica é certeira: o governo Marinho pecou no diálogo com a sociedade.

Em entrevista exclusiva ao Diário, o ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC cita o número de secretários técnicos do Paço e o baixo quórum de agentes políticos atuando no Paço. “Em relação a realizações, vejo o governo como imbatível. Mas, na relação com a sociedade, sinto que pode melhorar”, vislumbra o parlamentar.

Paulo Dias trata todos os temas relacionados à futura Pasta com muita cautela, sem querer aprofundar análise na atuação de Cleuza – com quem ele diz ter boa relação desde os tempos que a petista atuava em Santo André, na gestão de João Avamileno (PT), sindicalista como ele. Quer tempo para verificar se há superfaturamento na compra de uniformes, se continuará implementando política de inclusão de deficientes na rede. “Cleuza é muito competente na área técnica. Reconhecida nacionalmente. É difícil pontuar falhas”, esquiva-se.

De efetivo, Paulo Dias adianta que tentará apoio de todas as bases da sociedade para seu trabalho à frente da Secretaria de Educação – ele ainda não foi nomeado, está à espera da publicação oficial de Marinho. Suporte que ele garante que vai buscar até mesmo entre vereadores de oposição, que não esconderam contentamento com a queda – tardia, na visão deles – de Cleuza Repulho.

Como partiu o convite do prefeito Luiz Marinho ao sr. para assumir a Educação?

Havia algumas conversas pelo Paço que estavam soando estranho. Em reuniões e atividades, as pessoas começam a me perguntar algumas coisas desconexas. Ficava sem entender nada. Até que um dia o prefeito me chamou para conversar a sós e disse: ‘Paulo, você toparia trabalhar no governo?’ Respondi que sim, de imediato. Lembrei que não serei mais candidato a vereador e reafirmei positivamente. O prefeito, a princípio, não falou qual seria a Pasta, deixando a pergunta em tom mais abrangente. Passados uns dias, voltamos a conversar e aí afirmou que o trabalho seria na Educação, explicando que tinha analisado meu perfil para o setor. Ele disse que me conhecia há mais de 20 anos e que confiava na minha capacidade. Meu perfil é mais político, em comparação ao demais secretários, tecnicamente capacitados. Acho que tínhamos perdido esse toque nas ruas. Em relação a realizações, vejo o governo como imbatível. Mas, na relação com a sociedade sinto que ele pode melhorar.

Qual foi a sua reação quanto ao desafio na Pasta?

Recebi com preocupação e, ao mesmo tempo, muito orgulhoso. Para eu ser convidado, acredito que o prefeito conversou com bastante gente, tirou opiniões, além de fazer análises. Isso me dá muito orgulho, porque vim do Mato Grosso do Sul, com uma série de dificuldades na vida, que muitos têm. Comecei a trabalhar registrado aos 15 anos. Só consegui fazer faculdade depois dos 30 anos. E agora, ser lembrado para chefiar uma Pasta desta envergadura é motivo de felicidade. Junto com isso, há também dor de cabeça violenta por conta do tamanho da responsabilidade. São muitos profissionais, em torno de 10 mil pessoas, e 90 mil estudantes da rede. Planos para desenvolver e integrar o setor. Ações que possam contribuir além da formação acadêmica.

Desde que o sr. foi convidado pelo prefeito, o que procurou fazer em relação ao setor da Educação?

Tenho estudado muito sobre as realizações da Pasta. Tenho buscado me inteirar bastante. E tenho procurado conversar bastante com diversas pessoas ligadas ao setor. Muitos, inclusive, têm me procurado: pais, professores integrantes da APM (Associação de Pais e Mestres). Estou fazendo um esforço para encaixar na agenda neste momento para estudar e entender um pouco. Pois estamos falando de uma grande empresa, com 10 mil funcionários diretos e indiretos. Além disso, são aproximadamente 90 mil alunos entre infantil e jovens e adultos. O Orçamento anual da área passa dos R$ 800 milhões. Então, estamos falando de uma tarefa muito grande, que exigirá diálogo, compreensão. Para, desta forma, colocar o perfil e assim que o prefeito entender, damos sequência.

Tem feito diálogo com a Cleuza Repulho, secretária demissionária do Paço. E como está sendo?

Eu sempre me dei muito bem com ela. Fui coordenador do Mova (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos), pelo Sindicato dos Metalúrgicos, em torno de 15 anos atrás, e conheci a Cleuza pelo trabalho que exercia como secretária da Educação de Santo André. E desde então meu trânsito sempre foi bom. Em São Bernardo, todas as informações que solicitei obtive respostas. Depois do convite do prefeito, conversamos umas três vezes e tudo foi muito bom e tranquilo. Ela disse que ficou feliz, achou interessante minha indicação e, por isso, acredito que não haverá nenhum problema para a transição.

O sr. deixa a cadeira na Câmara para o suplente Matias Fiúza. O que espera da atuação no Legislativo?

O Fiúza já foi vereador e foi muito bom em seu trabalho (na ocasião). Uma pessoa alegre, bastante amigo, além de trabalhador dedicado. Tenho certeza que vai poder ajudar bastante em relação a votação dos projetos importantes, além da articulação política.

Entre as ações que estavam sendo tocadas pela secretária Cleuza, havia o trabalho de inserção de deficientes nas salas de aulas, visando a inclusão. O sr. irá dar sequência a esse trabalho?

Eu não conheço a fundo esse trabalho ainda. O que tenho até o momento é avaliação de senso comum. A inclusão é um processo que vem do governo federal. Tem um perfil de deficiente que precisa estimular constantemente para ter vida independente. Quero fazer um estudo junto às famílias e conseguir avançar com que julgarmos juntos o que é melhor.

Um dos problemas do setor é em relação da defasagem de vagas nas creches. Como pretende trabalhar para melhorar isso?

O governo do prefeito Marinho tem buscado inúmeras ações para equacionar o deficit. No entanto, está aquém de conseguir avançar. O PNE (Plano Nacional de Educação), do governo federal, vem trazendo metas gradativas até 2021, que é atender 50% de toda demanda envolvendo as creches. São Bernardo está próxima de conseguir alcançar isso. Tivemos um desacerto, que foi a empresa Impacto Gôuvea, vencedora do processo de licitação de seis unidades, que acabou não cumprindo por problemas financeiros. Nos atrasou demais. Agora, são oito que estão sendo feitas ao mesmo tempo, com o objetivo de concluir até o ano que vem. Não será a solução, mas vai melhorar bastante e precisa ser continuada.

O sr. está prestes a assumir o lugar de uma das mais contestadas secretárias do governo Marinho, que, além da rejeição, foi acionada em processo de superfaturamento na compra de mochilas e tênis escolares em 2010 e 2011. Como avalia todo esse retrospecto?

A Cleuza é muito competente na área técnica. Reconhecida nacionalmente. É difícil pontuar falhas. A Educação representa muito dentro do orçamento da administração. Grandes problemas aparecem nos lugares mais extensos. Quero propor uma gestão com ampla troca de diálogo, partilhada. Onde possa ter a participação de muitos colaboradores, técnicos, vereadores da oposição. Levar um trabalho bem humilde, com verdadeira troca de experiência e assim procurar agregar as opiniões e ter possibilidade maior de acerto.

A cidade se viu em meio a escândalos com superfaturamento na compra de uniformes escolares. Sobre isso, o que o sr. pretende fazer? Vai rever?

Ainda não vi nada sobre o processo de licitação que envolva compra dos uniformes, não posso especificar muita coisa. Vou analisar tudo com um olho muito crítico. Se vier da China, do Panamá... O que eu quero analisar são todos os passos quanto à lisura e pode proporcionar qualidade aos alunos da rede. Quero discussão neste sentido e, às vezes, vemos que o diálogo foge disso, polemizando questões adicionais. 




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