Memória Titulo
O 1º de Maio. Um estádio. Patrimônio nacional

Lutar pelo tombamento, e não congelamento, do Estádio 1º de Maio, em São Bernardo, é o próximo passo da ONG Chácara Silvestre

Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
21/12/2008 | 00:00
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Lutar pelo tombamento, e não congelamento, do Estádio 1º de Maio, em São Bernardo, é o próximo passo da ONG Chácara Silvestre, que quer registrar para as atuais e futuras gerações a importância que significou para o Brasil o Estádio de Vila Euclides.

O estádio não tem características arquitetônicas monumentais, significativas ou diferenciais. Sofreu e sofre reformas e remendos desde praticamente a sua construção, na virada dos anos 1950 para 1960, quando era a praça de esportes dos trabalhadores da tecelagem Elni. Chegou mesmo a perder uma pista de atletismo exemplar que abrigou campeonatos nacionais e sul-americanos e recebeu atletas como o saudoso João do Pulo. Para pisar o gramado de Vila Euclides, e ali marcar um gol, em 1974, Pelé cruzou aquela pista, onde foram colocadas cadeiras para ampliar o número de assistentes.

A importância maior do estádio foi mesmo a de abrigar os metalúrgicos de São Bernardo e Diadema em 1979 e anos seguintes, quando das greves históricas realizadas no fim do regime militar. Uma história que caminha para os 30 anos.

Naquele tempo houve uma conjugação de esforços entre Lula, o presidente do sindicato, e o prefeito Tito Costa, que cedeu o espaço. O estádio lotou várias vezes. Atraiu a atenção da imprensa, inclusive internacional. Deu uma grande dor-de-cabeça ao regime, que para São Bernardo enviou agentes, espiões e os célebres helicópteros verde-oliva em vôos rasantes com policiais apontando fuzis e metralhadoras para a cabeça da multidão que gritava palavras de ordem e cantava o Hino.

A própria liderança sindical de hoje não tem como aquilatar, em toda a sua dimensão, o que foram aquelas manifestações. Rafael Marques da Silva Júnior, vice-presidente do sindicato neste 2008, cursava ainda o Senai, enquanto o vice-presidente de 1978 e anos seguintes, Rubens Teodoro, era um dos escudos mais competentes e fiéis do presidente Lula.

Rafael Marques tem sido a primeira ponte entre o SOS Chácara Silvestre e o sindicato. O movimento reuniu-se com o diretor há duas semanas. Pediu apoio à causa. Esclareceu dúvidas. A dúvida maior: o tombamento do estádio não significaria o seu congelamento? A partir do tombamento o Município não correria o risco de ser impedido de realizar obras no estádio?

A resposta foi imediata: não. Tudo pode ser feito, inclusive a criação do tão sonhado Museu do Trabalho e do Trabalhador nos baixos das arquibancadas. O estádio pode ser modernizado e ampliado para que as equipes locais de futebol continuem a disputar os campeonatos profissionais e amadores. Até porque o Estádio 1º de Maio de hoje não reúne as mesmas características do tempo em que Lula e companheiros comandavam as manifestações que inspiraram Chico Buarque a compor Linha de Montagem, em parceria com Novelli.

A grande importância do Estádio da Vila Euclides foi ter sido a casa do trabalhador. E o momento chegou de se contar essa história, oficialmente, para o Brasil inteiro saber que em uma época complicada e difícil da vida brasileira ali nasceu uma resistência, seqüência de uma linha que começava no sindicato, descia a Rua Marechal Deodoro, parava na Matriz da Boa Viagem, continuava até o Paço e dali subia as colinas da Vila Euclides.

O primeiro contato com o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) já foi feito. Agora é tomar novas providências para que o estádio se torne patrimônio cultural nacional e inaugure uma nova linha, desta feita enaltecendo o papel do trabalhador brasileiro.

Notas

- A ONG SOS Chácara Silvestre nasceu com o objetivo de preservar a última área verde urbana de São Bernardo, no bairro Nova Petrópolis. Vitoriosa, foi oficializada e mantém o nome, agora com outros objetivos, sempre em defesa do patrimônio cultural de São Bernardo e Grande ABC.

- A idéia do tombamento do Estádio 1º de Maio abre um leque na própria história do Iphan, que nunca tombou um equipamento referente à luta do trabalhador. Por isso, uma reunião está sendo agendada com o presidente do órgão, Luiz Fernando de Almeida, para convencê-lo da importância do pedido.

- O dossiê sobre o tombamento terá o depoimento de protagonistas importantes, entre os quais o presidente Lula, os juristas Tito Costa e Mauricio Soares e o escritor Antonio Possidonio Sampaio, cuja obra literária passa pelos acontecimentos registrados no estádio em seus mais movimentados dias.

- Faz parte do projeto convencer o prefeito eleito, Luiz Marinho, de instalar no Estádio o Museu do Trabalho e do Trabalhador.

- A foto que ilustra a coluna leva a assinatura do fotógrafo Helio Campos Mello e foi publicada no Álbum Memória de São Bernardo, que teve também fotos de Cristiano Mascaro e textos de Fernando Henrique Cardoso, Jorge da Cunha Lima e Tito Costa. O álbum foi editado pela Prefeitura de São Bernardo em 1981.

Bairro Pinheirinho

Hoje, 21 de dezembro, data em que a Paróquia Santa Rita de Cássia, do bairro Pinheirinho, em Santo André, comemora seus 40 anos de criação, será lançado na missa das 18h o livro que conta a história da caminhada desta comunidade: Santa Rita de Cássia, a Padroeira do Pinheirinho, de Humberto Domingos Pastore, com pesquisa inicial de Roseli Dias Ortigoso.

Padre Adenizio Leonardo Miranda, pároco do bairro, conta que foram impressos 400 livros, que serão comercializados a R$ 10 cada. A história foi extraída, principalmente, das atas escritas pela equipe do Apostolado da Oração.

News Seller

Domingo, 21 de dezembro de 1958 - Nº 33.

Política - Jornalista Guido Fidelis informa: em Utinga realiza-se hoje o plebiscito de consulta à população, que vai decidir se o distrito deverá obter sua autonomia, tornando-se um novo município ou deverá permanecer ligado a Santo André.

Por 506 votos de diferença, venceu o ‘Não'. Utinga não alcançou a emancipação. Detalhe: 65% dos eleitores não votaram.

Memória - Octavio de Oliveira fala da Santo André de outros tempos: em 1913, o primeiro automóvel.

DIÁRIO HÁ 30 ANOS

Quinta-feira, 21 de dezembro de 1978

Manchete - Aviões militares de Israel atacam no Sul do Líbano.

São Caetano - Servidores conquistam 40%.

Diadema - Moradores pedem asfalto para Avenida Assembléia.

Mauá - Estradas abandonadas prejudicam Sertãozinho.

Ribeirão Pires - Prefeitura distribuí 1.800 brinquedos a menores carentes.

Editorial - A ameaça da prorrogação (dos mandatos municipais) permanece.

Artigo - Jornalista Eduardo Camargo escrevia: "Ademar de Barros Filho estaria desenvolvendo gestões junto a Chagas Freitas, governador eleito da Guanabara, objetivando ressuscitar o antigo Partido Social Progressista (PSP), fundado pelo velho Adhemar de Barros e que de social e progressista, aliás, tinha muito pouca coisa".

Indústria - Unidade da Volkswagen em Taubaté, que vinha produzindo uma série de componentes para a unidade de São Bernardo, iniciou a produção dos seus primeiros veículos.

EM 21 DE DEZEMBRO DE...

1893 - Proposta a concessão de autonomia a oito núcleos coloniais paulistas, incluindo-se o de Ribeirão Pires, no município de São Bernardo. A emancipação seria decretada em 30 de dezembro do mesmo ano.

1911 - Criadas as Paróquia de Santo André e Ribeirão Pires.

1916 - Walter Gallo, memorialista, radialista e colecionador, nasce em Ribeirão Pires.

1931 - Gisela Leonor Saar, advogada e historiadora, nasce em Rio Grande (da Serra).

1963 - Mauá e Ribeirão Pires desmembram-se da Comarca de Santo André.

HOJE

Dia do Artista Profissional e Dia do Atleta.

SANTOS DO DIA

André Dung, Glicério, Pedro Canísio, Pedro Thi e Temístocles.




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