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Brasil volta a avaliar a hipótese de criar 'conselho monetário'
Por Do Diário do Grande ABC
18/01/1999 | 10:09
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Especialistas e políticos estao avaliando a hipótese de um "conselho monetário" (currency board) para estabilizar o real brasileiro, que desde sexta-feira passada flutua livremente.

Proposto primeiramente para a Indonésia e depois para a Rússia, no pior momento da recente crise econômica asiática, o conselho monetário consiste de um sistema de taxas de câmbio fixo, que relaciona uma moeda local à principal moeda de reserva do país, geralmente o dólar. Mas para garantir a convertibilidade da moeda local, o país deve dispor de reservas em dólares pelo menos iguais à massa monetária circulante, com uma taxa de câmbio determinada.

Esta soluçao foi salutar para vários países. Hong Kong a adotou em 1983 e alguns países bálticos e a Bósnia optaram por este sistema aconselhados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Para o Brasil, o exemplo mais eloqüente é o da Argentina, que em 1991 adotou "o plano de convertibilidade" do peso. Domingo Cavallo, ex-ministro argentino da Economia, que foi um dos principais incentivadores do conselho monetário em seu país, foi também um dos primeiros especialistas que neste final de semana aconselhou o Brasil a seguir o exemplo da Argentina. "O Brasil e os países da regiào devem implementar um regime monetário como o argentino", disse o ex-ministro a uma rádio local. Cavallo duvida que a livre flutuaçao do real possa estabilizar-se devido à volatilidade dos mercados financeiros.

O presidente argentino, Carlos Menem, levantou a possibilidade de "dolarizar" a economia do subcontinente americano, uma estratégia que, segundo os especialistas, implicaria uma harmonia dos sistemas de câmbio.

Um economista do respeitado MIT (Massachusetts Institute of Technology) dos Estados Unidos, Rudiger Dornbusch, também ofereceu a soluçao da convertibilidade fixa para a moeda brasileira, em entrevista ao jornal argentino Clarín. Existem apenas duas formas para sair da crise brasileira, segundo este especialista. Ou o presidente Fernando Henrique Cardoso anuncia esta semana um programa orçamentário espetacular, com privatizaçoes imediatas do que resta por vender, ou estabelece um conselho monetário, indicou Dornbusch. O economista acredita que se nao for uma destas soluçoes, o real continuará caindo, ocorrerao novas falências e o déficit orçamentário vai se aprofundar num momento em que a dívida está estabelecida em dólares.

Depois da decisao do Banco Central de deixar o real flutuar na sexta-feira passada, a moeda brasileira fechou o dia em 1,43 reais por dólar, depois de atingir um piso de 1,60 real por dólar, 16% abaixo de seu valor antes da crise.  No entanto, um conselho monetário nao deixaria o Brasil livre de uma severa austeridade orçamentária, muito pelo contrário.

Dentro desse esquema inventado pelos britânicos para a política econômica de suas antigas colônias, o país perde sua soberania monetária e já nao pode fixar suas taxas de juros. O Governo nao pode mais pedir empréstimos a seu Banco Central e muito menos emitir moedas e, portanto, deve manter um equilíbrio orçamentário ou pedir empréstimos no mercado.

Desde a explosao da crise nos países emergentes, que começou na Tailândia há 18 meses e propagou-se para a Rússia e o Brasil, o FMI mostrou-se muito reticente em relaçao ao estabelecimento de conselhos monetários, argumentando a fragilidade dos sistemas bancários dos países afetados e a fragilidade de suas reservas.




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