D+ Titulo EJA
Adolescentes retomam o futuro educacional

Complicações ao longo da vida fazem com que alunos busquem Educação de Jovens e Adultos

Por Tauana Marin
Diário do Grande ABC
09/09/2018 | 07:00
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Ninguém quer correr contra o tempo atrás de momento educacional perdido. Há diversas realidades e fatos que fazem com que jovens estudantes não completem os anos letivos e tenham que encontrar maneiras de ficar o mínimo possível para trás nessa responsabilidade da vida.

Retomar os estudos é o que desejam os adolescentes que cursam a EJA (Educação de Jovens e Adultos) nas redes municipal e estadual. Antes, o programa, que atendia, principalmente, adultos que não tiveram a oportunidade de concluir os estudos, hoje também é palco de estudantes mais novos que, por dificuldade de aprendizado, mudança de cidade, grande volume de faltas ou desinteresse, ficaram ‘atrasados’ em relação à idade.

Chamado popularmente de supletivo, o serviço forma os participantes mais rapidamente em relação à escola regular, cada ano sendo concluído no período de seis meses, justamente por conta do atraso preexistente. O programa acolhe jovens de 15 anos em aulas do Ensino Fundamental 1 e 2 (1º ao 9º ano) e, a partir dos 18, em classes de Ensino Médio, não tendo idade máxima.

Em celebração ao Dia Mundial da Alfabetização (data instituída em 1968 pela ONU e pela Unesco), festejado ontem, o D+ conversou com adolescentes que frequentam o programa na esperança de terem as mesmas oportunidades que qualquer outra pessoa na formação da carreira. Para se ter ideia, a região ainda conta, ao menos, com 66.030 pessoas que não leem e não escrevem. Em São Bernardo, o EJA possui 3.212 alunos, com 416 estudantes tendo menos de 18 anos. Em Santo André são 2.349 atendidos, e, desses, 260 têm faixa etária de 15 a 17 anos. Em São Caetano são 87 jovens com menos de 18 anos, de universo de 354 alunos. Já em Ribeirão Pires há 80 participantes das aulas, sendo um aluno menor de idade. As demais cidades não responderam até o fechamento desta edição.

CORRENDO ATRÁS - Nathália da Silva Vello, 17 anos, iniciou a modalidade nesta temporada no Centro Público de Formação Profissional Armando Mazzo, em Santo André, com o objetivo de concluir o 9º ano. A garota mudou de moradia, vinda de São Bernardo para Santo André, e não concluiu o ano letivo em 2017. “Como não poderia migrar de uma escola para outra no segundo semestre, diante da falta de vaga, optei por parar e refazer o 9º ciclo.” Ela conta que vários fatores contribuíram com seu atraso escolar, entre eles muitas faltas por conta de asma e bronquite (doenças recorrentes) e a dificuldade em português, por exemplo. “Principalmente por essas razões repeti o 2º e 4º anos e perdi o 9º por conta da mudança de município. Hoje tenho pressa em terminar os estudos para buscar meu primeiro emprego. Tenho sonhos que quero concretizar, como cursar Pedagogia ou Enfermagem”, comenta.

Na rotina que segue de segunda a sexta-feira, das 18h30 às 22h20, Nathália relata arrependimento das complicações. “Se pudesse voltaria no tempo e levaria a escola mais a sério enquanto mais nova. Mas não me chateio, porque amadureci. Não é hora de olhar para trás. Sempre pego nos pés dos meus irmãos mais novos para que estudem e se formem o quanto antes.” Como já vai completar 18 anos, pretende realizar o Ensino Médio também pelo EJA e terá os estudos básicos em um ano e meio.

Além de aulas como Português, Matemática, Inglês, Geografia, História e Artes, Nathália cursa a disciplina de Construção Civil. Isso porque, na unidade em que estuda, o curso profissionalizante é oferecido no intuito de ajudar também as pessoas a ingressarem no mercado de trabalho. Na Prefeitura de Santo André, por exemplo, também há cursos para Administração, Embelezamento Pessoal e Alimentação, dependendo da unidade que a pessoa curse a Educação de Jovens e Adultos.

Thaina Lima da Rocha, 15, de São Caetano, também optou pelo formato oferecido pela Escola Municipal Professor Vicente Bastos em sua cidade para minimizar o tempo perdido. Segundo ela, as faltas e, consequentemente, a dificuldade escolar contribuíram para que repetisse o 4º ano por três vezes. “Até ia na escola, mas como fazia o trajeto a pé, sempre chegava mais tarde, o que computava como ausência.” Estudar à noite e de forma diferente têm contribuído para que acompanhe os estudos e siga em frente. “Com as minhas dificuldades, lá consigo entender melhor a matéria”, explica.

Os projetos da adolescente incluem a vontade de ser advogada, tradicional carreira que requer muita dedicação e estudo. Ela sabe que poderia estar em outro momento da vida, mas tenta aproveitar ao máximo a nova chance acadêmica para realizar o sonho.
 




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