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Confrontos no Uzbequistão deixam pelo menos 30 mortos
Por Da AFP
14/05/2005 | 14:04
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Dezenas de corpos amanheceram neste sábado nas ruas de Andijan, cidade do leste do Uzbequistão, após a violenta repressão armada à insurreição de sexta-feira contra o presidente Islam Karimov. Ele anunciou oficialmente à imprensa cerca de 30 mortos, entre eles pelo menos nove soldados e dez rebeldes, e culpou pelo episódio os islamitas ligados ao grupo Hizb ut-Tahrir.

No entanto, a agência France Presse contou pelo menos 50 corpos nas ruas até as 12h deste sábado: 20 corpos na praça da administração regional, e a um quilômetro de lá, perto do cinema Tchoulkon, 20 a 30 corpos de civis, com marcas de balas. A maioria das vítimas era de homens e adolescentes. "Pelo menos 50 pessoas morreram", confirmou um médico do hospital central de Andijan, acrescentando que 96 civis chegaram feridos ao local, a maioria manifestantes e alguns membros das forças de ordem.

Apenas a rede de TV do governo está noticiando os acontecimentos nesta cidade do Vale de Fergana, a quarta do país, com mais de 300 mil habitantes, onde as transmissões dos canais estrangeiros como CNN e BBC estão suspensas.

Entretanto, o diretor da Appelatsia, organização uzbeque de defesa dos direitos Humanos, Lutfula Shamsutdinov, entrevistado por telefone, denunciou que 300 corpos foram retirados de Andijan por três caminhões e um ônibus. "Pelo menos um terço era de mulheres", disse.

Já havia depoimentos de que vários corpos teriam sido levados para fora da cidade pelas forças de ordem durante a madrugada. Segundo testemunhas, muitas pessoas morreram na sexta-feira quando voltavam para casa depois da manifestação de apoio aos rebeldes na praça da administração.

Em vários pontos da cidade, a revolta dos habitantes contra o governo é ainda maior do que antes da manifestação do dia anterior. A população se uniu na sexta-feira aos protestos de entre 60 e 100 rebeldes que tomaram uma guarnição e uma prisão de alta segurança, antes de se apoderar da sede da administração regional.

Em princípio a manifestação era contra o julgamento de 23 pessoas acusadas de propagar idéias islamitas e pedia a sua libertação, mas os novos manifestantes exigiam também reformas econômicas, mais democracia e a renúncia do presidente Islam Karimov, quando os soldados dispersaram a multidão a tiros.

Trata-se de uma das crises mais graves já enfrentadas pelo atual governo, que desde 1991 dirige com mão-de-ferro este país da Ásia Central, rico em gás e onde existe uma base militar americana. O presidente uzbeque, Islam Karimov, tentou minimizar a gravidade da atuação do exército durante uma entrevista à imprensa e atribuiu a culpa da rebelião a grupos extremistas islamitas da região, que também teriam atuado no vizinho Quirguistão.

Os rebeldes pediram a mediação da Rússia, mas Moscou disse que condena os extremistas e apóia Karimov. O chefe da diplomacia russa Serguei Lavrov destacou que se trata de um assunto interno.

Nesta sábado, o presidente russo, Vladimir Putin, conversou com o dirigente uzbeque pelo telefone, expressando sua preocupação com o que considera "tentativas de desestabilização dos países da Ásia Central", segundo comunicado do Kremlin citado pela agência Interfax. Os dois líderes teriam decidido continuar em contato para discutir a situação, segundo o documento.




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