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Maria Alcina faz festa de Santo André
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
14/12/2002 | 15:34
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Maria Alcina está à vontade com 30 anos de carreira e 53 de vida. O vozeirão da cantora que ousou nos anos 70 continua firme. Quem for neste domingo, às 15h, na Chácara Pignatari (av. Utinga, 136, Santo André. Tel.: 4997-4063. Entrada franca), verá um show de muita alegria, promete a cantora de Fio Maravilha, Paraíba, Alô, Alô e Calor na Bacurinha, esta que virou uma espécie de marca registrada.

Essas músicas acompanham a trajetória da cantora mineira nestas três décadas e sempre estão em seu repertório de shows. Se não eram engajadas politicamente nos anos de chumbo, o eram na atitude. “Formei um bom repertório, uma coisa de intuição, de vontade de cantar. A nossa geração não tinha que cantar o que mandava o figurino”, disse.

Tudo começou com Filho Maravilha (que em 1972 era Fio, homenagem de Jorge Benjor ao atacante do Flamengo). Alcina era crooner da boate Number One no Rio, quando Solano Ribeiro, ex-diretor do Festival da Canção da Record que naquele ano comandava o Festival da Canção da Globo, a viu e a convidou para participar. Ela escolheu a música e enfrentou a platéia.

Começava a nascer um espírito inquieto para o público. Alcina queria provocar, imbuída do espírito anos 60 de Woodstock, de Janis Joplin e cia., mas sobretudo da Tropicália e dos cantores ídolos da juventude oriundos dos festivais de música daquela geração (Caetano Veloso, Chico Buarque, Edu Lobo, Maria Medaglia, Elis Regina e outros).

Alcina não venceu o Festival, mas foi criado um prêmio de júri popular para a música. Nascia ali a cantora de vozeirão grave, a artista de plumas e balangandãs e a mulher que sofria com as duras penas da censura.

Em 1974, foi proibida em todo o território nacional. Segundo a Polícia Federal, por atentar contra a moral e os bons costumes. Enquanto alguns eram exilados porque eram oposição intelectual – e outros presos por agir fisicamente contra o regime militar – Alcina foi censurada por ter uma atitude. “O saudoso Osvaldo Sargenteli disse que eu consegui sobreviver a tudo sem ter me afetado profissionalmente”, disse.

Para sobreviver, cantava onde havia espaço. E eram poucos pois ninguém queria se envolver com quem tinha problemas com a censura. “Se não tinha um teatro, cantava em circo. Sem casa de show, cantava em puteiro. Não me abati e hoje sei que isso foi um divisor de águas na minha vida”, afirmou.

Alcina gravou pouco em 30 anos de carreira, cinco LPs. Teve seus dois primeiros reeditados pela Warner em junho deste ano e fez duas participações, uma com Funk Como le Gusta e outra com o grupo de rap Júri Popular. “Lancei poucos LPs, não tinha obrigação de gravar um por ano. Eu mantenho minha carreira à vontade. Depois de 30 anos, não preciso ficar correndo atrás. É gostoso ficar ao sabor dos acontecimentos. Tem gente que fica com uma voracidade de aparecer na mídia...”, disse.

A cantora não é saudosista, pelo contrário. Reconhece que o cenário cultural é outro, mas sente falta da efervescência de sua geração. “Isso é fundamental. A música que me permeava quando cheguei no Rio era Sem Lenço, Sem Documento. Hoje adoro o rap, acho que é um grande movimento como o que permeou toda a minha geração, a mesma atitude”, afirmou.

No show, acompanhada de trio com violão, sopro, bateria e percussão, Alcina cantará músicas em homenagem a Elis Regina (Tiro ao Álvaro), Clara Nunes (Iansã), e claro, Filho Maravilha (de vez em quando ela deixa escapar um ‘Fio Maravilha’), e Kid Cavaquinho.




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