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Sem vagas, Sto.André perde força política

Pela 1ª vez cidade da região fica longe dos Parlamentos estadual e federal; mais votados são forasteiros

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
13/10/2018 | 07:00
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Santo André sai enfraquecida quanto à representação política diante do resultado das urnas no domingo. Essa é a avaliação de ex-deputados, entre estaduais e federais, com domicílio eleitoral na cidade, depois de amargar cenário inusitado, ficando sem cadeira de deputado a partir de 2019. Os mais votados na esfera local para ambas as Casas foram candidatos chamados ‘forasteiros’. Essa situação é inédita na história da disputa por vaga à Assembleia Legislativa. O município tem assento no Parlamento paulista desde a primeira legislatura, iniciada em 1947, com Armando Mazzo.

A cidade já vinha reduzindo o número de cadeiras. Tanto é que em 2014 apenas Luiz Turco (PT) assegurou vaga de deputado por Santo André, apesar do universo de cerca de 570 mil eleitores – o petista teve 33,3 mil votos neste ano e não alcançou a reeleição. A estadual, quem mais se beneficiou foi Janaina Paschoal (PSL) – título de São Paulo –, advogada que protocolou pedido de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). Ela obteve 51,4 mil votos na cidade. Já na concorrência por assento à Câmara Federal, Eduardo Bolsonaro (PSL), filho do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), liderou o rol, com 34,6 mil.

Eleito federal por dois mandatos pelo PTB, Duílio Pisaneschi considerou que conjunto de fatores resulta neste prisma, desde pleito atípico, com prazo reduzido, à vinda de figuras de fora, que “depois não trazem nada de efetivo para a cidade”. “Muita gente vem fazer campanha aqui (pela proximidade com a Capital). Isso acaba ajudando nomes que nunca apareceram em Santo André. Ficamos órfãos, descalços.”

Após a estreia de Mazzo, foram eleitos em reduto andreense a estadual – ao menos um a cada legislatura –, como Antonio Flaquer, Fioravante Zampol, Oswaldo Gimenez, José Silveira Sampaio, José Amazonas, Lincoln Grillo, Crolinda Sampaio, José Cicote, Newton Brandão, Israel Zekcer, Professor Luizinho, Vanderlei Siraque e Carlos Grana. A federal, embora haja jejum de 16 anos, a lista também é extensa, tendo, entre eles, Mendes Botelho, Cicote, Luizinho e Celso Daniel.

Luizinho pontuou que o saldo “é muito ruim” para a cidade, que “preferiu carregar votos a nomes de fora”. Para ele, faltará “intercessão política para defender as necessidades” do município. “Tudo isso tem custo, traz consequências. Santo André sai prejudicada. Vejo como descuido. A cidade está dispersa, desencontrada, em onda de negação”. Citou pressão sua para viabilizar a UFABC (Universidade Federal do ABC).

Siraque analisou que a cidade está desorganizada e se transformando em satélite político de São Bernardo e de São Paulo. “Os de fora invadiram de bandeiras, contrataram os mais humildes e nunca trouxeram nada para o nosso povo, salvo exceções”. Já Grana pontuou que onda conservadora influenciou para abrir caminho a quadros de fora. “Santo André perdeu um pouco da força com isso. Acaba ficando um pouco sem identidade. Se perdeu capacidade de convencer da necessidade de eleger aqueles que são daqui. É muito ruim, e há lideranças para tê-los (assentos).”

Derrotas geram críticas a Paulo Serra

Raphael Rocha

A derrota de todos os candidatos andreenses na eleição de domingo deflagrou crise no governo do prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB). Os postulantes sustentados pela gestão não escondem o descontentamento com a estratégia do núcleo duro do Paço e, nos bastidores, criticam o chefe do Executivo pelo apoio a ‘forasteiros’ e a nomes de outras cidades da região.

O governo tucano, diferentemente de outros municípios, apostou na pulverização de candidatos: os vereadores Almir Cicote (Avante), presidente da Câmara, e Professor Minhoca (PSDB) concorreram a uma vaga de deputado estadual; o parlamentar Edson Sardano (PTB) e o ex-secretário Ailton Lima (PSD) tentaram assento na Câmara Federal.

A principal reclamação, segundo apurou o Diário, foi com o apoio do governo Paulo Serra à primeira-dama de São Bernardo, Carla Morando (PSDB), e a Thiago Auricchio, filho do prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB). Carla e Thiago foram eleitos deputados estaduais e, em Santo André, conquistaram 7.738 e 7.492 votos, respectivamente.

Na corrida à Câmara Federal, Paulo Serra também abriu portas para Alex Manente (PPS), de São Bernardo, reeleito deputado federal. O popular-socialista recebeu 13.956 votos de andreenses, montante maior do que Sardano atingiu no município: 10.193.

Sardano, inclusive, sofreu com figuras até de seu próprio partido. O vice-prefeito Luiz Zacarias (PTB) e seu filho, o vereador Lucas Zacarias (PTB), pediram votos ao casal Campos Machado (PTB), reeleito deputado estadual, e Marlene Campos Machado (PTB), que não obteve vaga no Congresso. Além deles, a gestão Paulo Serra pediu votos para José Aníbal (PSDB) e Geninho Zuliani (DEM) para deputado federal – só o democrata se elegeu.

Fontes ouvidas pelo Diário indicaram que o erro de estratégia ficou ainda mais gritante na comparação com administrações de outras cidades do Grande ABC. Em Diadema, por exemplo, o prefeito Lauro Michels (PV) centrou forças na eleição de seu vice, Márcio da Farmácia (Podemos), para a Assembleia Legislativa. A tática foi bem-sucedida. Em São Caetano, a despeito dos 136 mil eleitores, a cidade emplacou deputado após 16 anos. 




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