Cultura & Lazer Titulo
Pacote de CDs mostra quando a MPB namorou o jazz
Por Joao Marcos Coelho
Especial Para o Diário
21/10/2000 | 19:03
Compartilhar notícia


  Em um dado momento, nos anos 70, por causa da política, a barra pesou demais para a MPB. Comercialmente, entao, a coisa ficou preta. No início daquela década, quem pôde emigrou para os Estados Unidos; quem nao pôde - ou nao quis - fez parcerias com os músicos de jazz norte-americanos e sobreviveu de royalties (que lá sao recolhidos e pagos de fato) e de eventuais turnês pelo país.

Três dos 20 CDs do pacote Jazz Collection, da Sony, lançados ao mesmo tempo em que ocorre o Free Jazz, retratam esse momento particular em que a música brasileira namorou sério com o jazz, e vice-versa, é claro. E um quarto álbum, de 1987, traz Sarah Vaughan já experimentando uma descarada e deliciosa paixao com a MPB. Para todos esses álbuns, vale dizer, a cotaçao é uma só: cinco estrelas.

Tom Jobim: Stone Flower (Columbia Jazz, nacional) foi originalmente gravado em 1970 para o celebrado produtor Creed Taylor. É um CD que traz uma das raras parcerias de Tom com Eumir Deodato. Responsável pelo fantástico LP Inútil Paisagem, do selo Forma, nos anos 60, Deodato se transformou no Midas da música nos Estados Unidos com um arranjo do poema sinfônico Assim Falou Zaratustra, de Richard Strauss, popularizado no filme 2001, de Stanley Kubrick.

A gravaçao pega Eumir no momento em que ele começava a se ambientar por lá e eles estao ótimos pilotando teclados eletrônicos na Aquarela do Brasil, que aqui vira Brazil. Outros cobras como Urbie Green (trombone), Joe Farrell (sax-soprano) e os brasileiros Joao Palma e Airto Moreira brilham bastante.

Gravado em 1974, Wayne Shorter Featuring Milton Nascimento: Native Dancer (Columbia Jazz, nacional), é uma das mais bem-sucedidas parcerias entre o jazz e a música muito específica de Milton que, além disso, esbanja seus timbres e fraseados também muito característicos e belos por todo o CD. Em nove temas, Milton assina cinco. Nao é mero convidado, mas o dono da sessao de gravaçao. Nada contra o formidável saxofone de Shorter, músico maduro o suficiente para se deixar fertilizar pelo universo do compositor de clássicos da MPB como Ponta de Areia e Milagre dos Peixes.

Stan Getz: The Best of Two Worlds Featuring Joao Gilberto (Sony, nacional) é uma célebre gravaçao, realizada em maio de 1975. Infelizmente, o folheto interno nada informa sobre os participantes. Entao anote: Oscar Castro Neves no violao. No contrabaixo, Clint Houston e Steve Swallow se revezam, assim como Billy Hart e Grady Tate o fazem na bateria. Na percussao estao Airto Moreira, Rubens Bassini, Ray Armando e Sonny Carr. Heloísa Buarque de Hollanda, ou melhor, Miúcha, aparece no vocal em inglês e Joao Gilberto em português.

O álbum contém várias obras-primas em excelentes leituras. Além das previsíveis Aguas de Março, Ligia e Retrato em Branco e Preto, há boas surpresas como Isaura, de Herivelto Martins e Roberto Roberti, Falsa Baiana, de Geraldo Pereira, Joao Marcello, de Joao Gilberto, e a linda É Preciso Perdoar, de C. Coqueijo Costa e A. Luz. Tudo isso além do standard Just One of Those Things.

No CD Sarah Vaughan: Brazilian Romance (Sony, nacional), uma gravaçao de 1987, a voz abaritonada e emocionante de Sarah se junta a um bando de feras do jazz, como George Duke (teclados), Hubert Laws (flauta), Tom Scott e Ernie Watts (sax). Do lado brasileiro, Paulinho da Costa na percussao, Márcio Montarroyos no trompete e flugelhorn, e Dori Caymmi, no violao e assinando ainda todos os arranjos. Sarah adorava Milton Nascimento, e três de suas cançoes comparecem, assim como várias do próprio Dori.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;