O sindicalista Paulinho e seus pares na central agora trabalham para integrar os trabalhadores das bases da Força Sindical à política partidária. “Esse trabalho que vem aí de dois ou três meses já é bem expressivo dentro das fábricas. Acredito que em um ou dois anos teremos um grande partido no Estado”, prevê. Paulinho, cuja candidatura ganhou na sexta-feira o peso do apoio do ex-governador Leonel Brizola, entende que a participação dos trabalhadores não deve se restringir apenas ao que ele chamou de “carregar piano”, como colar cartazes ou pintar muros, mas para comandar o partido e o país.
DIÁRIO – Força Sindical ou CUT. De quem é o domínio no Grande ABC?
PAULO PEREIRA DA SILVA – Nós temos hoje uma grande Força Sindical no Grande ABC. Hoje, sem dúvida nenhuma, tem mais trabalhadores nos sindicatos ligados à Força do que ligados à CUT no ABC.
DIÁRIO – O sr. tem esses números?
PAULO PEREIRA – Temos hoje 19 sindicatos na região do Grande ABC e mais ou menos 320 mil trabalhadores nas bases desses sindicatos. Me parece que a CUT tem 12 ou 13 sindicatos, e que chega a 280 mil trabalhadores mais ou menos.
DIÁRIO – Como o sr. avalia o avanço da Força Sindical na região onde nasceu a CUT?
PAULO PEREIRA – A Força Sindical procurou fazer um trabalho de só falar mal quando necessário, mas também falava bem na hora que tinha de falar. E não ficamos só nisso, pois também desenvolvemos vários projetos com crianças de rua, com desempregados. Hoje nós temos o centro de atendimento ao desempregado no Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André; nós criamos um assentamento modelo de reforma agrária no interior. Criamos o Sindicato Nacional dos Aposentados. Então, saímos um pouco da corporação sindical e isso fez com que a gente crescesse, principalmente em áreas que o Brasil está crescendo, como no caso de serviços, comércio e mesmo na indústria. Boa parte das empresas que deixaram o Grande ABC foram para a base da Força Sindical, como Paraná, Bahia e Rio de Janeiro. Quando as novas montadoras vieram para o Brasil, foram para as bases da Força. Então, isso acabou fortalecendo muito a nossa central, não só em São Paulo como nos outros Estados. Mas no Grande ABC, hoje, com certeza nós somos maiores que a CUT.
DIÁRIO – Mas esse avanço da Força pode significar que a CUT se desviou um pouco do caminho?
PAULO PEREIRA – Sem dúvida nenhuma. Nossa relação com a CUT já foi muito ruim, mas agora está muito boa. Temos entendimento, mas vamos continuar disputando o movimento sindical com ela. Na medida em que pudermos ganhar um sindicato dela, vamos ganhar; isso também vai acontecer com eles. Na medida em que puderem ganhar de nós, vão ganhar. Então, vamos continuar disputando o movimento sindical com eles. Mas a CUT, hoje, digamos assim, é uma extensão do governo. A CUT bate palmas para quase tudo que o governo fala. Não estou dizendo toda a CUT, porque tem dirigente, o Marinho (Luiz Marinho, presidente), por exemplo, tem sido muito firme nas negociações que tenho tido com ele junto ao governo. O problema é que muitos dirigentes da CUT foram para dentro do poder federal. Acredito que a CUT terá grandes problemas no médio prazo, em termos de base sindical.
DIÁRIO – Essa ligação com o governo tira força política da CUT na forma de pressionar?
PAULO PEREIRA – Eu disse que a CUT terá grandes problemas. Acredito que muita gente abandonará a CUT. Ou por ser mais à esquerda ou gente que acreditava no projeto de independência da CUT, o que hoje já não é tão claro. A CUT vai ter problemas pela frente, mas nós estamos crescendo, agora também politicamente. Nós reorganizamos o PDT em todo o Grande ABC, por exemplo, assim como em toda a Grande São Paulo. No Estado, nossos sindicatos estão vindo para dentro do partido. Aqui em São Paulo a gente começou um trabalho de trazer não mais só o dirigente sindical, mas também o militante ligado ao sindicato para dentro do partido. O trabalho já começa a crescer muito dentro da fábrica, que é a organização dos núcleos de fábricas, esse trabalho que vem aí de dois ou três meses e já é bastante expressivo dentro das fábricas. Acho que dentro de um ano ou dois, nós teremos um grande partido no Estado.
DIÁRIO – O sr. não acha que pode confundir um pouco misturar o partido com o militante sindical?
PAULO PEREIRA – Eu acho que não porque, a cada dia, mais os trabalhadores vêem que muitos dos problemas que eles têm não estão sendo resolvidos mais na porta da fábrica. Antigamente a gente fazia uma greve e ficava ali até resolver o problema. Hoje, se você fizer uma greve, em alguns casos pode até quebrar a empresa, porque o problema não está mais ali, está passando pelas câmaras municipais, Câmara Federal, o ministério que não liberou o dinheiro. Tem crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), mas só para as grandes empresas. Por isso estamos cada vez mais convencidos de que os trabalhadores também têm de fazer política partidária mesmo, e não, digamos assim, para carregar o piano, para colar o cartaz, mas fazer política mandando no partido. Então, a nossa idéia é resgatar o trabalhismo do PDT histórico, mas resgatar com os trabalhadores mandando no partido.
DIÁRIO – O sr. falou que antes a greve resolvia. Se não me engano, a Força começou na frente o que se chamou de sindicalismo de resultados. O que, na verdade, era sentar e negociar, negociar, negociar. Os acordos alcançados em algumas negociações ajudaram a Força a crescer?
PAULO PEREIRA – Tinha um espaço no Brasil. Tinha o radicalismo da CUT contra tudo naquela época, e tinha uma parte do movimento sindical que achava que não era aquele o caminho, que primeiro tinha de negociar, esgotar o diálogo para depois fazer greve. E a Força Sindical cresceu exatamente aí, esse foi o princípio da Força: a greve seria o último instrumento. Primeiro você iria esgotar todo o processo de negociação e em último caso fazer greve. Esse também foi um modelo que o Brasil foi adotando. O Brasil foi se democratizando e nós, talvez, percebemos isso antes do que a CUT, e isso também foi um fator de crescimento da Força. Essa forma de fazer sindicalismo. Não um sindicalismo radical, mas responsável, de negociação e de conquistas. Nenhuma greve era para ganhar voto, para um ou outro deputado, ou para um ou outro prefeito, um ou outro candidato à Presidência da República. Era uma greve para ganhar para os trabalhadores.
DIÁRIO – E hoje, quando se parte para uma greve, ela é mais política ou realmente é por uma questão salarial? A recente greve da Polícia Federal, por exemplo.
PAULO PEREIRA – Eu acho que no setor público é uma coisa grave. Pegando o caso da Polícia Federal, sabemos que é greve de reivindicação salarial mesmo, de desesperança. Porque o governo do PT criou tanta expectativa que todos nós achávamos que o Lula ganhava a eleição e no dia seguinte todo mundo estava bem de vida, ia resolver o problema de moradia, de reforma agrária, funcionário público ia ter aumento, ia dobrar o salário mínimo. Enfim, tudo isso criou uma expectativa na população. No entanto, o governo Lula começa a não cumprir nenhuma das promessas. O setor público não tem aumento de salário. Tinha uma expectativa de que teria, e aí não tem. No primeiro momento a liderança do movimento dos funcionários públicos foi cooptada pelo governo, a maioria está no governo. Mas aqueles que ficaram seriam pressionados para enfrentar essa situação e vão ser mais pressionados, porque a situação não foi resolvida.
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