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Revelações da música querem manter efervescência
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30/12/2010 | 07:07
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Feito um balanço de como foi 2010 para cantores e compositores da nova geração de músicos que despontaram, sobretudo, na noite paulistana, o saldo é pra lá de positivo. Lançamento do primeiro CD, apresentações pelo País, shows no exterior, conquistas de prêmios, tudo isso reforça os planos dos expoentes dessa efervescência musical de que 2011 seja um ano de muito trabalho e de mais realizações. Ainda que não se reconheçam como parte de um movimento organizado, a característica comum é justamente essa diversidade sonora que dá a liga a esses jovens artistas que, certamente, darão muito o que falar - e se ouvir - no próximo ano.

"Vejo uma movimentação muito forte, mas cada um com sua ideia, e mesmo rolando muito essa historia de um tocar com o outro, todo mundo tocar junto em vários projetos diferentes, cada projeto mantém sua identidade. Acho isso o mais legal nessa historia", comenta a cantora Karina Buhr. Confira o que ela e Luisa Maita, Marcelo Jeneci, Tiê, Thiago Pethit e Tulipa Ruiz estão preparando para o ano que começa em breve.

KARINA BUHR - O ano novo não poderia começar de melhor jeito para Karina Buhr. A cantora, que nasceu na Bahia, cresceu em Pernambuco e agora vive em São Paulo, foi a vencedora do prêmio de revelação, na categoria música popular, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), anunciado no dia 14 de dezembro. No começo de 2010, Karina lançou seu primeiro trabalho solo, "Eu Menti pra Você", com pegada rock e espaço para experimentações nas 13 faixas de autoria dela mesma e com participação do guitarrista Edgar Scandurra. "Esse ano foi muito de plantar e acabou que já comecei a colher um monte de coisa legal também com o lançamento do disco, que teve uma repercussão que me deixou muito feliz", diz ela, em entrevista realizada antes do resultado da premiação.

Planos para 2011? Karina já quer pensar em trabalhar em um CD novo, mas sem pressa, para ser lançado no fim do ano. "Quando você termina de gravar um disco, começa uma nova historia, não que você abandone ele, mas tudo quanto é ideia que vem a partir daí começa a guardar e começa uma coisa nova", explica ela.

Mas até lá, o objetivo da cantora e compositora é fazer shows, principalmente em lugares onde ainda não passou em 2010. "Sinto muita falta disso, de fazer uma turnezona pelo Nordeste, pelo Sul também, acaba que fica muito no eixo Rio-SP." Por enquanto, estão acertados dois shows em São Paulo, em janeiro, junto com a banda Cidadão Instigado. A agenda dela também deve ter espaço para uma turnê internacional, result ado de contatos - ainda sem nada concreto - feitos durante a feira de música internacional Womex, em Copenhague, na Dinamarca. "O show foi legal, o público curtiu do mesmo jeito, mesmo sem entender as letras", diz ela.

Karina veio para São Paulo a convite do diretor José Celso Martinez Corrêa, do Teatro Oficina, onde integrou o elenco das peças "Bacantes" e "Os Sertões", já com a ideia de fazer o disco Ainda em Pernambuco, a partir de 1994, aos 20 anos, ela se envolveu com os carnavais de Recife e Olinda, ao mesmo tempo em que não perdia uma show de rock, e começou a participar de diversas bandas, como Eddie e Comadre Fulozinha.

A cantora aponta como influência na sua sonoridade justamente a falta de uma influência direta, ou melhor, uma bagunça que pode ir de Kraftwerk a Luiz Gonzaga, passando por Racionais Mcs. "Muitas vezes cai um pouco no clichê, tem um monte de gente que fica com essa ideia de que de repente saiu do Recife e veio para São Paulo e começou a fazer um som mais sujo, mas não é bem assim."

LUÍSA MAITA - Luísa Maita vai começar o ano de 2011 com a certeza de qual é a sua trilha a seguir na carreira musical. O amadurecimento da jovem cantora e compositora que aos 17 anos desistiu do cursinho pré-vestibular para se dedicar ao canto foi resultado de uma turnê de vinte dias seguidos por cidades dos Estados Unidos e do Canadá, começando por Nova York e passando por Washington, Montreal, Toronto, Boston, São Francisco e Los Angeles, entre outras, em novembro. "É como se eu evoluísse três anos em 18 shows", conta ela. As apresentações serviram para lançar seu primeiro CD, "Lero-Lero", no mercado internacional pela gravadora de world music Cumbancha. "Agora estou me sentindo preparada para fazer os shows no Brasil, assumir mais. Acho que está mais claro para mim o caminho, estava antes meio querendo entender."

Por aqui, o CD, lançado quase ao mesmo tempo que no exterior, mas pelo selo Oi Música, traz 11 canções, entre composições próprias e do namorado Rodrigo Campos com outros parceiros, com levadas de samba e MPB. "Esse disco é pro Brasil. Acho que ele faz muito sentido aqui, para as pessoas daqui", afirma Luísa.

Ainda que no ano que vem ela deva fazer novos shows no exterior, incluindo a Europa no roteiro, Luísa faz questão de trabalhar as músicas do seu repoertório em terras nacionais. "Eu sou muito apaixonada pelo Brasil, pelo brasileiro, então gostaria muito de cantar aqui, de fazer uma carreira aqui", diz. Confirmadas mesmo, estão as apresentações em São Paulo, no Estúdio SP, em 20 de janeiro e 3 de fevereiro, mas a cantora deve voltar ao Rio (onde já se apresentou neste ano), além de excursionar por Brasília, Bahia e Minas Gerais, em datas ainda indefinidas.

Criada em uma família musical - é filha do sambista Amado Maita e sobrinha do músico Daniel Taubkin -, começou a compor quando participava da Urbanda, no início dos anos 2000. Sua primeira música, "Madru gada", foi gravada pela cantora Virgínia Rosa. "Estava lendo um livro budista e fiz um samba meio inspirado nisso", lembra Luísa. Logo depois, Virgínio pediu outra composição para gravar. Desta vez, a encomenda resultou em "Amado Samba", homenagem ao pai que havia falecido recentemente

A vontade de gravar um disco solo, segundo a cantora de 28 anos, surgiu da necessidade de falar com a sua geração sobre a sua visão das coisas. E é ele, "Lero-Lero", que vai proporcionar a Luísa fazer o que mais quer no ano que logo mais se inicia: cantar.

MARCELO JENECI - Nem bem "Feito para Acabar" chegou às lojas - foi lançado em novembro -, o instrumentista, que agora assumiu para si os postos de cantor e compositor, Marcelo Jeneci, de 28 anos, já está pensando em fazer seu próximo CD para 2011. "Estou preocupado com o segundo disco, dedico algumas horas do dia como trabalho braçal mesmo, sem esperar uma inspiração que venha solucionar tudo", afirma ele, que diz, de uns tempos para cá, ter virado um workaholic.

O projeto do CD de estreia começou a se moldar há três anos, mas só chegou ao estúdio em janeiro, após ganhar um edital de patrocínio da Natura. Após um ciclo de dez anos de carreira como tecladista e sanfonista, acompanhando nomes de peso da MPB que viraram seus parceiros, como Chico César, Arnaldo Antunes e José Miguel Wisnik, Marcelo sentiu necessidade de criar suas próprias canções. "Eu sou músico desde os 15, profissionalmente, então, aos poucos, depois de tocar e ver muita gente pilotando grandes aviões, deu vontade de pilotar o meu próprio, montar a minha banda e fazer as minhas músicas."

Uma das primeiras composições dele foi em parceria com a cantora Vanessa da Mata. O resultado foi que "Amado" entrou para a trilha da novela "A Favorita". Outra música dele, feita com Arnaldo Antunes, "Longe", também foi tema de novela - "Paraíso" -, na voz de Leonardo. Esta última também está no CD.

Uma curiosidade é que em todas as faixas de "Feito pra Acabar", Marcelo divide os vocais com a cantora Laura Lavieri. "A participação dela nesse trabalho é muito importante, muito presente", afirma ele, que diz haver a possibilidade de que os dois assinem juntos o próximo disco, como uma dupla.

Outra vontade de Marcelo para 2011 é "botar a mochila nas costas e sair tocando" pelo Brasil. Em janeiro, deve se apresentar no Rio de Janeiro e em São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo. O desejo também é de poder se apresentar em Guaianases, bairro da zona leste de São Paulo onde cresceu e aprendeu a tocar instrumentos na convivência com músicos que frequentavam a oficina de conserto de sanfonas do pai. Um deles acabou indicando o garoto de 17 anos para tocar na banda de Chico César, quando tudo realmente começou.

Foi ali na periferia da capital que ele cresceu assistindo a novelas, acompanhando a programação do rádio e ouvindo músicas de Roberto e Erasmo Carlos e Alceu Valença e trilhas sonoras de filmes da Sessão da Tarde. "Quando terminei esse primeiro disco foi que caiu a ficha de que ele tem todas essas referências da minha infância", constata Marcelo.

TIÊ, THIAGO PETHIT E TULIPA RUIZ - Os 3 Ts da nova geração musical de São Paulo - Tiê, Thiago Pethit e Tulipa Ruiz - querem aproveitar o ano novo para fazer seus discos de estreia "renderem" em 2011. A exceção é Tiê, que lançou seu primeiro trabalho em 2009, o "Sweet Jardim", e prepara o sucessor, ainda sem nome, para março. O novo trabalho, diferentemente do anterior, calcado no folk, deve ter um clima mais alegre e incorpora mais instrumentos, como bateria, banjo e acordeon. "Não dá pra copiar a mesma formulinha, porque pra fazer outro disco com voz e violão em seguida não rolaria", diz Tiê, que, também ao contrário da estreia, em que fez todas as canções sozinha - fora a faixa bônus -, abriu-se para parcerias e até para covers de canções dos amigos Thiago e Tulipa.

Também em março, Tiê e Thiago partem para Austin, no Texas, já que foram selecionados para participar do festival South by Southwest, que será, para o cantor, uma forma de ele comemorar o aniversário de lançamento do CD "Berlim, Texas". Thiago está animado com a primeira apresentação internacional. "A princípio, sempre achei que talvez eu no exterior fosse me sentir só mais um, mas eu tenho tido a resposta de alguns gringos bem boa", diz o cantor, que neste ano ganhou o prêmio Aposta MTV no Video Music Brasil.

Na volta dos Estados Unidos, onde vai tentar esticar a temporada com algumas apresentações por lá, Tiê já emenda shows em São Paulo e, no segundo semestre, deve ir ao Uruguai e ao Chile com o novo trabalho na bagagem. "É um mercado bem legal. Eles são muito carinhosos com a língua portuguesa, com os brasileiros", diz a cantora.

"2011 é para trabalhar o disco que acabei de lançar", avisa Tulipa, que estreou com "Efêmera", em maio. Ela pretende viajar mais com o trabalho pelo Brasil, abrangendo lugares fora do eixo Rio-SP, e também tem um "namorinho" com Buenos Aires, mas ainda sem nenhuma data confirmada. "No fundo é isso, a gente faz disco para fazer show, não é o contrário", comenta Thiago.

Ainda em relação a planos para 2011, o trio deve participar, cada um com seu próprio show, no Rock'n Rio, num palco menor, negociação que está em vias de ser concluída. Em novembro passado, os três, mais os músicos Dudu Tsuda e Tatá Aeroplano, fizeram uma apresentação no festival Planeta Terra, em São Paulo, sob o nome de Novos Paulistas, repetindo o encontro que já tinha acontecido outra vez, no Sesc Vila Mariana.

Essa parceria não teve nenhuma pretensão de se formar um grupo, já que entre eles não há necessariamente uma unidade artística, ainda que se tenha afinidades. "Essa coisa de Novos Paulistas é o nome de um show que não foi nem pensado pela gente. A feliz coincidência é que somos muito amigos, mas não existe uma banda chamada Novos Paulistas", esclarece Tulipa. A questão da parceria funciona mais de forma prática, em pedir sugestão sobre se uma palavra funciona ou não em uma música, do que uma ideia romantizada ao molde dos compositores cariocas dos anos 60, explica Thiago.




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