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Sampaio diz que CPI da Petrobras afetará todas siglas

Deputado federal pelo PSDB afirma que não tem que trabalhos acusem correligionários

Beto Silva
Raphael Rocha
07/06/2014 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


Responsável pela coordenação jurídica da futura campanha presidencial do senador Aécio Neves (PSDB-MG), o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) é o único tucano na CPI da Petrobras e avisa que os trabalhos no Congresso Nacional vão atingir políticos de todos os partidos.

“Não estou preocupado com isso (em não atingir aliados). Estou preocupado em mostrar quem desviou dinheiro público, essa pessoa tem de ser presa e precisa devolver. Bandido não tem partido, precisa ser pego”, avalia o parlamentar, que tem base eleitoral em Campinas, no Interior, e que nesta semana visitou a sede do Diário, antes de ministrar palestra no diretório do PSDB de São Caetano.

A CPI da Petrobras tem como foco a compra da Refinaria de Pasadena, no Texas, Estados Unidos. Com aval da então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), a estatal pagou US$ 1,2 bilhão, em 2006. Um ano antes, a plataforma foi adquirida pela empresa belga Astra Oil por US$ 47 milhões.

Sampaio também revela que Aécio não classifica o ex-governador pernambucano Eduardo Campos (PSB) como adversário na corrida presidencial de outubro, vislumbrando, inclusive, aliança em eventual segundo turno contra Dilma, que busca a reeleição. “O Aécio pensa que existem dois estilos de renovação e de oposição ao governo que está aí. Ele não vai digladiar-se com o Eduardo Campos de maneira nenhuma.

O deputado federal também diz que o julgamento do Mensalão mineiro não irá afetar os trabalhos eleitorais de Aécio à Presidência e reclama da postura do PT de utilizar propaganda antecipada.

O sr. veio a São Caetano para ministrar palestra no diretório do PSDB. Qual mensagem o sr. pretende passar aos filiados?
A ideia é falar sobre conjuntura e meu papel enquanto líder do PSDB nacional que fui até fevereiro deste ano. No dia 10 de fevereiro assumi a coordenação jurídica nacional do Aécio. Corre-corre é grande, porque infelizmente o PT tem vocação para ingressar no campo da ilegalidade. A começar pela utilização de pronunciamento para fazer campanha política. A Constituição Federal é clara e diz que pronunciamento tem de ter caráter educativo, informativo, de interesse social. A gente não vê nada disso. Ela (Dilma) utiliza o pronunciamento do Dia dos Trabalhadores e desce a lenha na oposição, fala o que fez de bom no governo.

Quais medidas o PSDB tem adotado contra essa campanha petista?
São mais de 25 representações de ilegalidades do PT. É quase uma semanal. Ela adentra na ilegalidade com tranquilidade incomum. Fora a guerrilha virtual que é coisa nefasta e o PT faz de maneira assustadora. Saíram do campo cívico da disputa democrática e foram ao submundo da campanha suja. Quando quebramos os IPs (endereços eletrônicos na internet) dos que estavam liderando esses blogs, pegamos funcionário da Eletrobras, no Rio de Janeiro, e do outro lado da prefeitura de Guarulhos (comandada por Sebastião Almeida, do PT). É evidente que críticas, por mais severas que sejam, são bem-vindas no sentido político. Estou falando de instrumentalizar a máquina pública, utilizar a prefeitura para caluniar, difamar e injuriar o maior adversário, que é o Aécio Neves.

O sr. é integrante da CPI da Petrobras. Qual expectativa dos trabalhos às vésperas da eleição?
É CPI do Brasil, não da oposição. Sempre fui designado para posições importantes em CPIs importantes. Para quem fala que a CPI da Petrobras irá acabar em pizza, dou dois exemplos importantes. Na CPI do Mensalão, que era a CPI dos Correios, foi sub-relator de sistematização, os investigados e acusados por nós estão presos, estão na Papuda (complexo penitenciário em Brasília). No ano seguinte, em 2006, ano de eleição, criamos CPI totalmente desacreditada por ser em ano de eleição e, assim como essa, com maioria avassaladora do governo. Era a CPI dos Sanguessugas, de deputados que receberiam dinheiro de ambulâncias nas próprias contas. Como sub-relator de sistematização coube a mim fazer as provas. Apresentei no dia 26 de setembro de 2006 o pedido de cassação de 72 deputados, dos 513 da Casa. Foi a maior limpa que aconteceu no Congresso. Como conseguimos apresentar o relatório antes da eleição, desses 72 deputados, 67 não se reelegeram. Estou apostando que a CPI da Petrobras terá desfecho parecido. E que vai atingir indistintamente partidos e pessoas. Não estou preocupado com isso. Estou preocupado em mostrar quem desviou dinheiro público, essa pessoa tem de ser presa e precisa devolver. Bandido não tem partido, precisa ser pego.

Desta vez a CPI tem participação de um presidente da República. Isso pode mexer com cenário político?
Pode mexer e influenciar, sim. Só tenho receio que a investigação seja blindada para não chegar perto. O nível de envolvimento dela (Dilma) foi na irresponsabilidade de dizer ‘sim’ para, segundo ela, um resumo incompleto. Tirando essa atrocidade que ela cometeu, a presidente Dilma parece ser séria, apesar de compactuar com pessoas que não têm nenhuma credibilidade. Não sei se impactaria diretamente nela, mas no governo dela é bem provável. No governo do presidente Lula, bem provável.

Como o sr. enxerga pessoas dizendo que a CPI da Petrobras tem caráter estritamente político?
Investigação política? São fatos. Como pode empresa em 2006 ser comprada por belgas por US$ 47 milhões e num ano depois, por demanda judicial, pagarmos US$ 1,180 bilhão? Como pode a Petrobras antes ser a décima maior empresa do mundo e agora ser a 120ª? A Petrobras, tirando o sistema financeiro, é a empresa que mais deve no mundo. Onde está a oposição aí? Estamos cuidando da Petrobras, empresa pública.

Pesquisas eleitorais apontam altos índices de desejo de mudança no País. O Aécio representa essa mudança, mesmo tendo em seu arco políticos que figuravam ainda na gestão de Fernando Henrique Cardoso?
Esse novo é no sentido de novas ideias, não é no sentido de quem nunca governou. O Aécio é gestor preparadíssimo e fez com que Minas Gerais se transformasse no que é hoje. Se você perguntar no Ministério da Educação qual melhor Educação do País vão lhe falar que é em Minas. No Ministério da Saúde a mesma coisa. O governo federal fala. São índices do Aécio que são mantidos pelo (Antonio) Anastasia (governador de Minas pelo PSDB). São cabeças que estão junto com eles que são novas.

Mas o ex-governador Eduardo Campos também não representa essa renovação?
Também representa. Por isso que o Aécio não entrará no jogo de criticar um ao outro. O Aécio pensa que existem dois estilos de renovação e de oposição ao governo que está aí. Ele não vai digladiar-se com o Eduardo Campos de maneira nenhuma.

Então as candidaturas são ensaiadas?
Os dois querem ganhar. Vão ter acordo no segundo turno. Absoluta certeza, não tenho dúvida.

Não corre risco de haver divisão nos Estados caso haja essa aliança num eventual segundo turno?
É muito difícil. Quem vota em Eduardo ou Aécio não vota no PT. Pode até anular o voto no segundo turno, mas há inconformismo geral com o governo. Na minha cidade, Campinas, o prefeito Jonas Donizette (PSB) é Eduardo Campos. Mas aquele que for para o segundo turno ele entra de cabeça. Se for o Aécio, ele entra de cabeça no dia seguinte. Há sentimento que se não der com um vão com o outro. Ambos representam essa mudança.

O Lula vai pegar na mão de Dilma, assim como 2010, e andar pelo Brasil. Como neutralizar esse discurso?
Ele a apresentou como grande gerentona no País inteiro, o Brasil não conhecia. Agora o Brasil sabe que ela não é nada disso. Não há nenhum mote para apresentá-la. Obras a serem apresentadas? Tirando o porto de Cuba, não conheço nenhuma. A Transnordestina, a transposição do Rio São Francisco, o trem-bala de Campinas, São Paulo e Rio, todos não saíram do papel. As obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) estão todas paralisadas. E agora solta o PAC 3, é inacreditável. Antes colava que ela era a gerentona, a ‘mãe do PAC’. Agora não cola mais. O PAC não traz mais impacto. Todos sabem que anuncia e não acontece.

Como anda a discussão para indicação da vice do Aécio? O ex-governador de São Paulo José Serra é o favorito?
Falta o Aécio convidar e o Serra aceitar (risos). O resto está tudo indo bem. Não aconteceu isso (o convite). O nome do Serra é natural, é evidente. É uma das maiores cabeças do País. No Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná ele deu show na Dilma em votos. Ele é cara respeitado. É tido como um dos maiores gestores do País. O que temos de fazer é análise de outros Estados, partidos e nomes. Tem de ser pensado, não pode ser no achismo.

A rejeição dele ainda incomoda vocês?
Acho que não. A rejeição quando vem é no candidato, não no vice. A rejeição que Serra tem é de ter deixado a prefeitura para ser candidato ao governo, deixou o governo para ser candidato à Presidência. Você não ouve que o Serra foi mal para burro ou péssimo prefeito. Ao contrário. Todo mundo sabe que ele foi excelente prefeito e governador. É rejeição diferente.

Como o PSDB vai trabalhar para evitar que o julgamento do Mensalão mineiro não contamine a campanha de Aécio?
Não acredito em bomba atômica de críticas. Não adianta falar que é igual (ao Mensalão do PT) porque não é. A questão do caixa dois é bem provável. Cabe ao Azeredo responder sobre isso. Foi questão de usar dinheiro de agência de publicidade para a campanha do Azeredo, então candidato a governador. Mas tenho certeza que o Azeredo vai se safar no sentido de mostrar que não teve ligação direta para saber do assunto. O Azeredo se elegeu deputado federal no meio do turbilhão. E passa ao lado do Aécio.

Então o sr. acha que não irá atrapalhar, mesmo com outros candidatos explorando o assunto?
Nunca contaminou. Aécio elegeu seu sucessor facilmente, se elegeu senador com votação estupenda. (O episódio) Ficou personificado no Azeredo, que agiu corretamente ao se licenciar, mostrando desapego, diferentemente do PT, que até o último minuto quis continuar. Teve gente presa que quis continuar com o mandato. A partir da acusação do Ministério Público, em uma semana o Azeredo se licenciou do cargo para provar a inocência dele, foi muito corajoso.




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