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Operários do cinema
Por Luís Felipe Soares
Do Diário do Grande ABC
19/06/2011 | 07:00
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Todo projeto artístico tem como grande trunfo o trabalho em grupo. No cinema, nem só de astros sobrevivem os filmes. Hoje, quando se comemora o Dia do Cinema Brasileiro, deixamos de lado os figurões para apresentar alguns atores que, até o momento, não trabalharam como protagonistas em produções de destaque.
 
Esses ‘operários do cinema' têm em seus currículos ótimas participações como coadjuvantes e chegaram a ofuscar os personagens principais em muitos momentos. Apesar do talento, seus nomes não aparecem em letras garrafais nos cartazes espalhados pelas salas. Mas eles não parecem se importar com a situação.

"Vou lá e faço o meu. Às vezes há uma chance de fazer uma cena pequena e você acaba tornando-a bem interessante", explica Fabiula Nascimento. "Acho que esse tipo de trabalho é mais fácil do que protagonizar. O coadjuvante vai pela beirada e consegue cativar o público de uma maneira diferente."

Apesar de seu trabalho no cinema ser recente, a atriz demonstrou a que veio em longa-metragens como o sucesso "Bruna Surfistinha", onde contracenou com as estrelas Deborah Secco, Cássio Gabus Mendes e Drica Moraes. "Estamos em uma profissão egocêntrica e vaidosa", diz Fabiula.

Quem também não se incomoda por ocupar o segundo plano em alguns longas é Luís Miranda, que já esteve ao lado de Selton Mello, Paulo José e Vanessa Giácomo, entre outros nomes, e sempre buscou papéis que fossem representativos para seu repertório.

Quando as câmeras estão gravando, ele procura aproveitar todo o potencial do personagem. "Essa preocupação (de ser o protagonista) não é específica, mas busco me destacar quando apareço. Já diriam os maiores atores: ‘Não existem grandes nem pequenos papéis, mas bons e maus atores'. É a possibilidade de fazer uma coisa minúscula crescer", afirma.

O ator baiano relembra, por exemplo, passagem em "Meu Nome Não é Johnny" (2008), em que seu personagem, Alcides, entra na cela em que João (Selton Mello) está preso e causa estardalhaço na cadeia.
 
Parte do destaque dado a essas figuras também passa por diversos fatores, inclusive técnicos. A edição surge como arma poderosa na hora de elevar (ou destruir) a atuação.
 
A falta de oportunidade não é um problema com o qual esses ‘operários' precisem lidar. O ator Gero Camilo afirma que já rejeitou proposta para encabeçar um elenco. Segundo ele, "se trata mais de uma relação de projeto do que algo generalizado". Camilo se prepara para estar em cena mais uma vez em "Assalto ao Banco Central", que tem estreia prevista para 22 de julho. Suas participações mais marcantes são em filmes como "Bicho de Sete Cabeças" (2001) e "Carandiru" (2003).

Na opção dos trabalhos, a satisfação pessoal vem sempre em primeiro lugar. "Tenho vontade de ser o principal, mas o que me interessa com a arte é ser protagonista de mim mesmo." A opinião de Camilo simboliza o rumo da carreira de todo ator - principalmente desses carregadores de piano.


PADRÕES E PANELAS ATRAPALHAM

Apesar de não demonstrarem insatisfação por seus trabalhos de coadjuvantes, os artistas admitem que existe dificuldade para receber propostas de destaque.

“A visão elitista burguesa, mesmo contemporânea, ainda responde a arquétipos muito restritos e falidos. Há certas definições de padrões e quem deveria questionar isso é a mídia, não eu”, afirma o ator Gero Camilo.

Autor do "Dicionário Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro", o pesquisador Antonio Leão da Silva Neto, de São Bernardo, acredita que a questão estética acaba sendo levada em conta nas seleções de elenco. “Se você não é um galã, você não pega o papel principal. Dá para perceber quem tem talento. O desafio é encontrar o pacote completo.”
 
A busca por rostos mais conhecidos prejudica o surgimento de destaques da dramaturgia. “Como na TV, a indústria do cinema criou suas pequenas panelas. Você vê dez filmes protagonizados pelo mesmo ator com tantos outros bons no Brasil”, reclama Luís Miranda.

 




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