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Antidoping salvou Dinei das drogas
Por Lola Nicolas
Do Diário do Grande ABC
26/09/2010 | 07:07
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Ricardo Trida/DGABC


Até hoje ele é venerado por uma das maiores torcidas de futebol brasileiro. Tinha um gingado que encantava no campo, uma identificação plena com a massa e um discurso típico de torcedor fanático. Ovacionado nas arquibancadas, Claudinei Alexandre Pires, o Dinei, ostenta um dos principais troféus da vida: livrou-se das drogas.

Refeito do período tenebroso que quase o levou para a cova, Dinei, ex-jogador do Corinthians, manda um recado para os estudantes que estão participando do 4º Desafio de Redação do Diário, correalização da USCS e DAE de São Caetano, com apoio da Ecovias e patrocínio da Petrobras: "Sai dessa, meu camarada, jamais entre nessa. Ouça seus pais, apoie-se neles e curta o que melhor a vida lhe oferece, limpo, de cara lavada e de bem com a humanidade".

O tema Crack, Tô Fora!, proposto aos alunos das redes pública e privada, é considerado fundamental, segundo o jogador (hoje, ele ainda bate bola em torneios de showbol), para que a juventude fique por dentro de todos os malefícios que a droga causa. Principalmente o crack, que consome o seu dependente em poucos meses, levando-o à morte de maneira rápida e muito sofrida.

"Graças a Deus, fui pego no exame antidoping. Não sei onde estaria hoje se não fosse aquele teste", diz Dinei, relembrando o ano de 1996. Era titular do Coritiba FC e foi apanhado no exame antidoping, pelo uso de cocaína. Nessa ocasião, o jogador sentiu o mundo desabar sobre sua cabeça. As portas do clube se fecharam para ele de imediato. Diante das câmeras de TV, confessou o fato ao lado do médico do Coritiba, Marco Aurélio Cunha, hoje no São Paulo FC. "Estava envolvido com drogas desde os 14 anos. Qualquer alucinógeno valia. Cola, maconha, cocaína. O crack ainda não existia, mas, não tivesse sido flagrado no exame, quem sabe qual seria meu destino?"

Diz Dinei, atualmente exercendo a profissão de assessor parlamentar, que os jovens, principalmente da periferia, são presas fáceis dos traficantes, já que ficam muitas horas longe do olhar educador dos pais.

"Comigo foi assim. Meus pais trabalhavam e eu passava o dia inteiro sozinho com meu irmão, e na rua. Caí fácil nessa onda destruidora e, completamente viciado, não estava nem aí para a minha vida. Estava me destruindo e não me importava. Pouco ligava para a carreira no futebol. Como disse, felizmente o antidoping me pegou. E melhor ainda: as pessoas que gostavam de mim se aproximaram de tal maneira que tive todo o apoio possível para sair dessa. Sozinho, não conseguiria."

Livre do vício, Dinei passou a ministrar palestras em escolas, levando sua experiência para mostrar aos estudantes a bobagem que é cair nesse mundo. "A vida é maravilhosa, e você não pode jogar fora esse sopro que Deus lhe deu. Ser viciado é a maior tolice que uma pessoa faz", finalizou o corintiano.

Filhos ajudaram no processo de recuperação
O ex-jogador do Corinthians não disfarça a dor que carrega ao relembrar os tempos em que, flagrado com substâncias toxicológicas no organismo, após um jogo pelo Coritiba, viu seu mundo no futebol aparentemente ruir. O que mais o machucou não foi a vergonha de vir a público e admitir ser dependente químico, mas a destruição de sua família.

"Fiquei sem salário, afastado do campo, punido pela Justiça Desportiva, e vendo minha casa ruir. Não tinha mais dinheiro para nada. Minhas filhas, pequenas, tiveram de sair da escola particular, porque já não podia bancar a mensalidade. Quando isso aconteceu, me arrependi amargamente de ter colocado minha família nessa situação. Foi quando decidi, pra valer, que era hora de dar um basta nas drogas."

Dinei foi procurar o coronel Edson Ferrarini para iniciar a sua recuperação. Havia sido suspenso por um ano e dois meses de jogar futebol. Quatro meses após o início da punição, houve a reavaliação do julgamento na CBF.

O coronel PM Ferrarini, que também é advogado, foi ao Rio de Janeiro fazer a defesa oral de Dinei. Suas razões de defesa foram aceitas pelos juízes e a pena, reduzida. Na semana seguinte, o atleta voltou aos estádios. Foi vendido para o Guarani e posteriormente chegou ao Corinthians, onde foi responsável pela vitória do time no Campeonato Brasileiro de 1998.

Outro craque - Outro craque que conseguiu venceu a dependência química é Walter Casagrande Jr., hoje comentarista da TV Globo, que se destacou para o futebol jogando no Corinthians. Viciado em cocaína e heroína, ele foi internado em 2006 e, por conta dos atrapalhos da doença, separou-se da mulher, Mônica - com quem tem três filhos -, depois de 21 anos de casamento.

Em 2008, voltou a se internar e, após oito meses em uma clínica de recuperação, falou ao programa Altas Horas: "Me afastei de todas as pessoas, até da família. Estava usando muita droga. Comecei a ter dificuldade para trabalhar, mas achava que estava tudo bem. Achei que não era um doente". Teve quatro overdoses.

Casagrande sempre foi considerado um dos jogadores mais esclarecidos, mas isto não o impediu de se afundar no submundo das drogas. Hoje está recuperado. "Não quero mais passar por isso. Não quero que meu filho diga que preferia me ver morto. Tenho de tomar cuidado porque eu sou doente, sou dependente químico", enfatizou.




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