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Seminários sobre a Modernidade superam expectativa
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
10/12/2005 | 08:20
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Imagem é tudo. Com esse pressuposto, seria inviável dissociar cultura da interpretação do mundo contemporâneo, inclusive de fatores e atores políticos. Essa é uma das conclusões a que o professor e escritor Ricardo Lísias deve chegar no debate de sábado, encerrando o projeto Seminários Avançados sobre a Modernidade – Literatura e Filosofia do Século XX na Casa da Palavra, às 15h. Último, mas não o derradeiro. Ano que vem, o evento ligado à Escola Livre de Literatura de Santo André retorna tendo como cenário a modernidade na América Latina. Para o palestrante e o público presente, foi um sucesso, para usar uma expressão da sociedade do espetáculo.

Neste sábado, o autor em discussão é o filósofo norte-americano Fredric Jameson, 71 anos, e seus conceitos de modernidade e de pós-modernismo. Para ele, o pensamento contemporâneo precisa enfrentar a realidade criada pelo capitalismo tardio (ou a banalizada globalização). Segundo Jameson, tudo se torna, em pouco tempo, mercadoria de consumo. Uma manifestação artística, uma mercadoria. Seria essa a característica mais forte da pós-modernidade.

Imagem e ação, portanto, estarão em debate. "O deputado Roberto Jefferson foi visto em seu desempenho como ator, como grande orador. Uma coisa impressionante. Porque poucas vezes observava-se o conteúdo de sua fala. Me lembro do dia do primeiro depoimento do José Dirceu. As ruas estavam completamente vazias. Parecia a Copa do Mundo. Uma das questões em debate era se ele sairia publicamente na performance tão bem quanto o outro. Foi o dia em que Jefferson disse que Dirceu lhe despertava os instintos mais primitivos. Isso é completamente pós-moderno. Sob a luz do Jameson, fica fácil entender o que se passou, porque imagem é tudo na sociedade do espetáculo", disse Lísias.

Durante 16 sábados, os seminários nunca tiveram menos de 100 pessoas assinando a lista de presença na Casa da Palavra, passando de 200 na palestra sobre Franz Kafka. Lísias elencou filósofos e escritores do século XX para apresentar conceitos de modernidade e pós-modernidade, segundo ele, mal-compreendidas. "Ou as pessoas não lhe viam coerência, ou não entendiam o processo. Propus esses 16 encontros para tentar achar essa coerência. Não imaginei que teria esse sucesso sob nenhuma hipótese", afirmou.

A artista plástica Cristina Serafim, 29 anos, foi ao 13º seminário, sobre o poeta Dylan Thomas. "Não vim apenas por gostar de literatura, mas também porque o seminário abrange muito mais coisas". Como ela, a também artista plástica, 24 anos, destaca a universalidade dos temas debatidos. "O principal motivo de freqüentar os seminários é que eles abrangem todas as áreas do conhecimento. Estou pensando em ler algumas das coisas indicadas". O estudante Carlos Eduardo Santos, 19 anos, elogia o caráter inédito e as palestras em geral. "Acho interessante o modo como ele fala de literatura contemporânea. Não é o intelectual chato. É um cara normal que quer passar coisas interessantes. Estou procurando alguns dos livros citados para me aprofundar".

A participação maciça do público faz Lísias refletir sobre cultura erudita para massas. "Eu acho que tudo tem de ser dirigido para melhoria do nível. Deve-se evitar a democracia do mau gosto. A gente discutiu muito nos seminários essa questão de arte de massas. Afirmar, por exemplo, que ninguém está interessado em Kafka acho um discurso instalado. No seminário sobre ele tinha gente na janela! Esse discurso subestima as pessoas, que todo mundo é tonto. Acho que boa parte passa fome, mas isso é outro problema".

Os Seminários Avançados sobre a Modernidade – Literatura e Filosofia do Século XX são uma iniciativa conjunta da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Santo André, da Escola Livre de Literatura, da Casa da Palavra e da Fundação Santo André, com apoio do Diário. O texto de apoio está no site do Diário (www.dgabc.com.br). (Colaborou Ana Carolina Rodrigues)

Seminários Avançados sobre a Modernidade – Literatura e Filosofia do Século XX – Neste sábado, às 15h. Na Casa da Palavra – praça do Carmo, 171, Santo André. Tel.: 4992-7218. Entrada franca. Último dia.




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