Quando a tal fala é ouvida, já está apresentado o trio de protagonistas do filme: dois amigos, um pobre e um rico, e a mulher do primo de um deles. São inseparáveis esses dois camaradas – no entanto, o rico, quando utiliza o banheiro da casa do outro, não toca no assento do vaso sanitário; o pobre, por sua vez, acende o cigarro para disfarçar possíveis odores.
Uma omissão que se mostra progressivamente mais aguda, especialmente no que concerne à vida sexual de ambos. A deslealdade entre um e outro revela-se simultaneamente à descoberta da infidelidade das respectivas namoradas, que os abandonaram.
Ocorre a ruptura do que acreditava-se inquebrantável, uma cumplicidade que a dupla transformou em confraria, com mandamentos próprios (respeitar a mulher do outro, acreditar que o pop matou a poesia e não casar com nenhuma virgem).
A singularidade desse filme e de sua observação da ignorância eleva-se à cena política do México. Os personagens de Gael Garcia Bernal, Diego Luna e Maribel Verdu rumam para um paraíso litorâneo. Pelo vidro do carro, numa viagem que serve de prelúdio para o hedonismo ao qual se entregará o trio, breves testemunhos da repressão policial, da miséria e de motivações anarquistas nesse México varrido pela corrupção. Custa a crer que o autor de um filme assim foi convocado para dirigir a adaptação de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, prometida para 2004.
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