As consultas de empresas para a solicitação de financiamento no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em julho mostram que as decisões de investimentos no Brasil estão concentradas em alguns segmentos. Das nove atividades industriais listadas pelo banco, três elevaram as consultas em julho deste ano ante igual mês do ano passado: material de transporte, mecânica e metalurgia. No que diz respeito à infraestrutura, também três dos nove segmentos pesquisados aumentaram as consultas à instituição de fomento no período.

Mas houve queda no que diz respeito à agropecuária (-35% no total de consultas, passando de um total de R$ 430 milhões em julho do ano passado para R$ 279 milhões em igual mês deste ano) e aos setores de comércio e serviços (contabilizados em conjunto pelo banco e com recuo de 18,4% nas consultas, caindo de R$ 4,6 bilhões para R$ 3,7 bilhões).

O gerente da área de planejamento do BNDES, Felipe Lobo, avalia que as quedas apontadas em julho no comércio e no setor agrícola podem ser pontuais, já que ambos os setores apresentam crescimento nas consultas no acumulado de janeiro a julho deste ano, respectivamente de 2% e de 12%. Porém, a economista da coordenação de assuntos econômicos da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), Rosemeire Santos, acredita que a intenção de investimentos no setor agropecuário continuará em queda no médio prazo, sobretudo no que diz respeito à compra de máquinas agrícolas.

Segundo ela, os produtores investiram muito em máquinas entre 2002 e 2004, com juros elevados, e hoje a inadimplência atinge 32% dos financiamentos tomados naquele período.

Além disso, a economista observa que o cenário é de incerteza em relação ao patamar dos preços agrícolas no início da comercialização da safra, nos primeiros meses de 2009 e isso desestimula os produtores que se mantêm capitalizados.

No lado positivo, o destaque na indústria é o segmento de metalurgia, com uma alta de 332% no número de consultas em julho. No caso de material de transporte, o aumento é de 142%, enquanto a indústria mecânica elevou o número de consultas em 65,6% ante julho do ano passado. Lobo explica que o crescimento registrado em material de transporte reflete a demanda de investimentos para exportação de aeronaves e nos segmentos de ônibus e autopeças, enquanto na metalurgia são demandas de grandes grupos para a realização de investimentos em siderurgia que ainda serão anunciados.

Por outro lado, ainda no setor industrial, a maior queda ocorreu em têxtil e vestuário (-44%), mas houve recuos também em alimentos e bebidas (-12%) e celulose e papel (-13%). Na infraestrutura, os segmentos que mostram crescimento no total de consultas exibem números superlativos, como construção (1.587,9%) e transporte ferroviário (1.460%).