Esportes Titulo Santo André
Longe da torcida, Ramalhão
trava luta contra queda

Equipe se inspira no passado para fugir de rebaixamento
inédito para a Terceirona; vitória é única opção da equipe

Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
01/04/2012 | 07:00
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O Santo André luta para não ter de escrever um dos capítulos mais tristes de sua história. Às 10h, recebe o União Barbarense no Bruno Daniel, com portões fechados, e a vitória é imprescindível para se livrar de inédita participação no Campeonato Paulista da Série A-3 em 2013. A queda seria a situação mais crítica já alcançada pelo clube no Estadual.

O Ramalhão já passou por momentos difíceis nos quase 45 anos de existência. Crises financeiras, administrativas, políticas, paralisações e outros problemas já assolaram o clube. O rebaixamento significaria o quinto no intervalo de quatro anos (dois no Brasileiro e o terceiro no Paulista) e dentro de campo seria o mais extenso período de insucessos - apesar do vice-estadual de 2010.

Tal cenário não poderia ser pior para equipe que há cinco anos conquistou justamente o título da A-2 e o acesso para a elite do Brasileiro com o vice da Série B. Três personagens daquele período fazem parte do clube, casos do lateral-esquerdo Arthur, do volante Juninho e do supervisor de futebol Alexandre Todoverto, ainda jogador à época - além do massagista Maurício Ferreira e do roupeiro Eliezer de Jesus.

O Diário levou à concentração andreense o pôster do time que conquistou o acesso para a Série A do Brasileiro - de Neneca, Cesinha, Cicinho, Willians, Marcelinho Carioca, Jeferson, Elton e companhia - para ver suas reações e traçar comparativo entre uma equipe comprovadamente vencedora e a atual, que necessita como nunca de um resultado positivo para fugir da degola.

"São momentos diferentes, o elenco é outro. Ali havia jogadores mais rodados. Pelo menos sete estavam acima dos 30 anos e isso conta bastante em momento decisivo. Hoje também temos atletas experientes, mas a equipe é bastante jovem. Uns assimilam melhor momentos como esse, outros não conseguem", comparou o agora cartola Alexandre.

"O que dá para levar daquele time para este é que eram 28 jogadores que gostavam um do outro. Eu, o Alexandre e o Arthur sempre comentamos sobre isso com esse grupo. De todos os times que passei, esse foi sem dúvida o melhor", atestou Juninho, que parecia se perder em histórias boas do passado ao contemplar o pôster.

O técnico Ruy Scarpino, mesmo que rapidamente, também viu o time de 2009 e falou sobre a fuga do rebaixamento e o peso da camisa andreense. "Ninguém aqui pensa em chegar a uma condição de Série A-3. Querem a vitória para permanecer na A-2. Todos sabem que é um clube de camisa, que sempre faz boas campanhas, campeão da Copa do Brasil. Eles têm de se orgulhar dessa história e tradição e se inspirarem para dar o melhor em campo", disse o comandante.

Sem desanimar, Scarpino visualiza até classificação para a Copa Paulista. Para que isso aconteça, é necessário que Rio Claro, São Carlos, Palmeiras B e São José percam seus compromissos e o Ramalhão vença o Barbarense. "Neste momento temos de pensar em tudo que seja positivo. O futebol reserva situações inesperadas, mas sempre temos de contar com o melhor."

Ruy Scarpino cobra lucidez e equilíbrio

Atitude. É isso que se espera dos 11 andreenses que serão escalados para salvar o time do inédito rebaixamento para a Série A-3. Contra o União Barbarense, o técnico Ruy Scarpino exige postura diferente da mostrada pela equipe na semana passada, quando perdeu para o já rebaixado União São João por 2 a 0, em Araras.

"Foi atípico ver a equipe inerte, sem atitude, contra adversário desfalcado que jogou como quis enquanto a gente esteve sem reação. Ficamos preocupados e, por isso, pedimos para trabalhar à parte", afirmou o técnico Ruy Scarpino ao se referir à semana de treinos e concentração em Jacutinga, no interior de Minas. "É preciso ser ativo, jogar com agressividade e não passividade", recomendou.

Tanto diante da Ferroviária como contra o União São João o Ramalhão teve atletas expulsos precocemente (Asprilla e Renato Dias, respectivamente). Segundo o treinador, o time necessita de lucidez. "Temos de saber da importância do jogo decisivo, mas não pode criar expectativa muito grande porque senão entra afoito e desesperado. Tivemos dois expulsos por desequilíbrio momentâneo. Então, precisamos ter lucidez, dinâmica e agressividade pela vitória."

O volante Juninho, criado na base andreense, comparou a salvação com uma conquista. "Para mim, que já obtive acessos pelo clube, seria como ganhar um título", disse. "O rebaixamento nem passa pela cabeça. Não tem pessoa mais triste com essa situação do que eu, porque sou criado na cidade, da base do clube", lamentou.

COMBINAÇÕES
São diversas as possibilidades para que quatro das sete equipes escapem da Série A-3. O Ramalhão, mesmo se vencer, pode cair se Rio Claro, São Carlos, Palmeiras B e São José vencerem e o Santacruzense golear por dois gols a mais que o Santo André.

BARBARENSE
O técnico Claudemir Peixoto vai escalar time misto. Já classificado para a segunda fase, contará com apenas três titulares, o zagueiro Juliano, o volante Dias e o veterano atacante Tuta. Os demais não jogam por estarem pendurados ou porque serão poupados. O volante Cláudio Brito está suspenso.

Capitão Júnior Paulista é vetado para o jogo

No jogo mais importante da temporada para o Santo André, seu líder em campo não poderá estar dentro das quatro linhas. O zagueiro e capitão Júnior Paulista teve constatada ruptura muscular na coxa esquerda e ficará cerca de 15 dias afastado. Assim, terá de se contentar em ver a partida das tribunas do Bruno Daniel.

"Vai ser sofrido, vou me sentir impotente. Não vou poder ter a atitude que estou acostumado. Mas como capitão e um dos mais experientes, quero estar o tempo todo junto. Por isso fiz questão de viajar para Jacutinga, concentrar junto e passar algo positivo", disse o jogador.

Dessa forma, o time perde a principal voz ativa dentro de campo, que durante o campeonato surtiu efeito em alguns jogos, mas em outros teve efeito contrário. "Tenho essa característica, mas não por imposição. É parte da minha personalidade. Às vezes alguns levam para o bem, outros para o mal. Mas esse sou eu", explicou o zagueiro, que tem contrato vigente somente até maio.

Pela primeira vez em muito tempo, time joga sem Esquerdinha

O Ramalhão entra em campo sem a presença da torcida nas arquibancadas, em razão da interdição parcial do Bruno Daniel. Mas a ausência sentida será de uma figura que bate cartão nos jogos da equipe desde 1972 e que desde segunda-feira prometeu não ir mais ao estádio: o torcedor-símbolo Esquerdinha.

Seja das cadeiras, da arquibancada, de cima do muro ou até sobre árvores, ele sempre esteve ali, com suas fantasias, cartazes e apoio. No início da semana, porém, acusou o diretor de futebol Sérgio do Prado de expulsá-lo do Brunão após cobrar mais postura dos jogadores. O cartola não comentou o assunto. E o resultado foi a mágoa e o afastamento do quase folclórico personagem.

"Não recordo o último jogo que deixei de assistir em Santo André. Vou até fora, como não iria aqui? Estou muito magoado e ferido, o pessoal da torcida veio aqui em casa, me ligou, mas não volto atrás. Vou deixar muita gente magoada, mas muitas outras felizes por não ter mais um fiscal ali no pé deles, todo dia", afirmou Esquerdinha, que ontem completou 50 anos.




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