Economia Titulo Negócios
Centralização é um dos males mais comuns nas empresas do Grande ABC

Empreendedores não delegam, não planejam e não têm indicadores de eficiência

Andréa Ciaffone
do Diário do Grande ABC
11/11/2013 | 07:07
Compartilhar notícia


Instinto, adrenalina e uma ideia na cabeça que rapidamente se transforma em um produto vendido na garagem. É assim que muitos empreendedores começam seus negócios no Grande ABC. No começo, essa combinação é perfeita mas, conforme a empresa cresce, esses elementos deixam de ser os únicos capazes de garantir o sucesso. Planejar, delegar tarefas e criar indicadores de produtividade estão entre as lições que o treinamento proposto pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) realizou com 11 empresários de diversos setores da região.

“Sempre fiz tudo por impulso, vivia apagando incêndio”, confessa Andréa Salvaia, fundadora da marca de moda praia Joaninha Brasil, de Santo André. “Foram 11 anos assim. A empresa cresceu, é verdade, mas percebi que estava patinando e eu não entendia o que estava errado. Foi preciso fazer contato com o treinamento do Sebrae para perceber que faltava planejamento. Lá, eu descobri que o que é planejado só se faz uma vez.”

Enquanto os biquínis da Joaninha iam para as praias e piscinas do Brasil e do mundo, a calma de Andréa ia para o ralo. “Vivia estressada. E isso tira o foco que a gente tem de ter para gerir o negócio. As aulas me mostraram que a primeira coisa que eu tinha de fazer era aprender a delegar”, diz a empresária.

“Ser centralizador é um dos efeitos colaterais mais comuns de quem começou fazendo tudo sozinho na empresa”, diz o consultor do escritório regional do Sebrae no Grande ABC José Augusto Ferreira Couto, responsável pela aplicação do treinamento Sebrae Mais na turma em que Andréa participou. “Todos os 11 empreendedores me disseram a mesma coisa: que quando eles faziam, saía mais benfeito”, conta o consultor. “Foi preciso dar exemplos de grandes empresários que fizeram seus negócios crescerem justamente porque não ficaram fazendo tudo pessoalmente, e pontuar que quando eles centralizam, eles subutilizam a capacidade das pessoas que contrataram”, diz Couto.

Andréa ouviu tudo direitinho. Promoveu funcionárias nas áreas de produção e comercial e criou um departamento de marketing. O resultado veio rápido. No mês de setembro, antes mesmo do curso terminar, o seu faturamento aumentou 6% e sua presença no Facebook saltou de 50 visualizações por dia para mais de 2.000. Na área de produção, a empresária passou um pente fino e descobriu 40 tarefas para melhorar o desempenho. “Já resolvi dez desta lista e a produção cresceu 15%. Foi imediato, mas só pude perceber porque passei a ter indicadores na empresa”, diz a nova fã dos processos, do planejamento e da delegação de tarefas.

Um dos diferenciais mais interessantes desse curso avançado de gestão empresarial é que, durante três meses, os empresários fazem uma imersão em propostas de soluções práticas para aplicar imediatamente em seu negócio. “O que alguns sentiram foi a dificuldade de sensibilizar os sócios ou colaboradores a embarcarem nas propostas”, diz Couto. “Teve sócio que começou achando que tudo era uma grande perda de tempo, mas depois aderiu e se entusiasmou com os resultados”, conta Couto.

Para Alcides Cerqueira dos Anjos, um dos cinco sócios da Voxxel Consultoria de Sistemas, a empresa, que está há 25 anos no mercado, estava em uma zona de conforto e precisava de um estímulo para sair da inércia. “Nós percebemos que tínhamos muito mais a fazer do que achávamos. Hoje estamos mais acelerados”, diz Cerqueira dos Anjos.

O empresário já viveu emoções fortes. Numa segunda-feira, dia 6 de fevereiro de 2012, o prédio onde ficava a sede da empresa, no Centro de São Bernardo, desabou parcialmente. Os sócios correram para superar o prejuízo. Alugaram uma sala e fizeram a montagem do novo escritório em tempo recorde. “Os clientes nem perceberam”, lembra Alcides, que reconhece a capacidade de mobilização dos seus colaboradores, uma das lições que aprendeu.


Diferentes setores, problemas semelhantes

O consultor do escritório regional do Sebrae no Grande ABC José Augusto Couto afirma que a maior parte dos empresários da região tem grande capacidade de responder aos desafios que vêm de fora, seja por situações do mercado ou motivos de força maior, mas têm dificuldade em perceber os problemas da porta para dentro. “A falta de indicadores atrapalha muito. Fica difícil ter uma visão clara do problema sem métricas que indiquem os problemas”, adverte.

Almir de Carvalho, da empresa Reabilita, de Santo André, que oferece aulas de ioga on-line, admite que não media nada. “Não estava claro para nós. Os indicadores ajudaram a entender melhor onde a empresa está e onde ela pode chegar”, diz o empresário, que fez uma reunião com a sua equipe e colheu dezenas de sugestões de melhorias para seu espaço e seus processos.

“Ideias muito boas brotaram e ele percebeu que sua equipe estava mais envolvida do que ele imaginava”, avalia o consultor do Sebrae.

Entretanto, Couto reconhece que existe um aspecto subjetivo para essa aparente desorganização dos empresários: o medo da frustração por não ter atingido metas autoimpostas. “Outro problema recorrente é que falta vontade de se comprometer em seguir um plano. Quando ele pensa que, se fizer um planejamento vai ter que segui-lo, ele se sente preso. É totalmente subjetivo, não tem lógica, mas essa sensação, essa síndrome do ‘vou ter’ acaba atrapalhando”, diz o consultor.

O curso Sebrae Mais tem como foco implementar modelos avançados de gestão empresarial, ampliar a rede de contatos, oferecer estratégias de inovação, analisar aspectos fundamentais da gestão financeira e melhorar o processo de tomada de decisões gerenciais. O programa inclui consultoria, workshops, capacitação e palestras. “Não importa de que setor o empresário seja, as dificuldades são as mesmas numa confecção ou numa empresa metalmecânica”, assegura Couto.
 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;