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ONG usa skate para promover cidadania

Entidade criada em 2006 beneficia crianças e jovens do Jardim Calux e região em São Bernardo

Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
03/11/2013 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


Com a tarefa de mostrar que o skate pode ser instrumento de transformação social, além de ensinar noções de cidadania a crianças e jovens, a ONG Skate Solidário desenvolve atividades desde 2006. Instalada em comunidade carente de São Bernardo, a entidade oferece desde aulas do esporte radical até inglês, musicalização e arte e capoeira gratuitamente.

“Percebi que tinha que fazer algo para mudar o cenário problemático. O esporte mostra alternativas para as crianças”, destaca o fundador do projeto, Marcelo Carlos Soares de Azevedo, o Marcelo Índio.

Atualmente, a ONG oferece 140 vagas a crianças da comunidade e tem fila de espera de cerca de 30 pessoas. Para auxiliar nos trabalhos, são 30 voluntários e quatro monitores de atividades que recebem bolsa-auxílio.

A manutenção da entidade é feita quase que totalmente pelo fundador, que também é paisagista e decorador. O restante é angariado com eventos e venda de produtos relacionados à modalidade. “Temos poucas parcerias e doações”, diz Marcelo Índio.

Para participar das atividades, é preciso ter entre 8 e 16 anos, morar nas imediações dos jardins Calux, Beatriz e Planalto e estudar na rede pública de ensino. Outra condição é não faltar às aulas.

REFLEXOS

Segundo Marcelo Índio, o trabalho com a comunidade já apresenta reflexos positivos, como a postura das crianças. Os participantes da ONG e seus familiares geralmente cuidam dos espaços utilizados para as aulas, como é o caso da pista de skate do Jardim Calux, fruto de reivindicação local. “Eles não jogam lixo no espaço, não depredam”, destaca.

Além de conseguir desvencilhar o skate da ideia de marginalização, Marcelo Índio acredita que o esporte traz benefícios para as crianças ao incentivar hábitos como determinação, companheirismo, autoconfiança e foco. “A gente prepara cidadãos, mas é claro que vai sair um ou outro profissional daqui. Quando a gente identifica, encaminha e ajuda a evoluir.”

EXPANSÃO

Além de desenvolver atividades em São Bernardo, a ONG também tem trabalho com crianças e jovens na comunidade do Paraisópolis e na Zona Leste, em São Paulo. “Nossa meta é expandir para outros locais. Agora, por exemplo, teremos o apoio da Fundação ArcelorMittal Brasil e da Nestlé para manutenção de projetos na Capital”, afirma.

Aula desperta sonho de profissionalização

Incentivado pelo irmão mais velho, o estudante Maicol Leite Conceição, 10 anos, participa das aulas de skate proporcionadas pela ONG desde o início do ano. O menino lembra que sempre gostou do esporte, mas só andava em casa. “Meu irmão improvisava um corrimão no quintal para a gente brincar”, afirma.
Apesar do pouco tempo de prática, o gosto pelas manobras faz com que o garoto sonhe com uma carreira profissional no esporte. “Gosto mais da modalidade street (rua) e ainda quero aprender bastante”, destaca o dedicado aluno.

Empolgado com a oportunidade de descobrir novas formas de se divertir no esporte e tirar dúvidas com o professor toda semana, Maicol também procura treinar todos os dias em seu tempo livre. “É uma lição de casa”, brinca.

MENINAS

As aulas de skate são democráticas e também atraem meninas. Apesar de ser minoria, as garotas não deixam a desejar. Caso da estudante Camille Caetano, 9.

No contraturno escolar, uma vez por semana a aluna participa da aula em busca de aprender novas manobras. “Sempre andei em casa com o skate emprestado pelo meu irmão, mas queria aprender a andar na rampa e, por isso, resolvi entrar na escolinha”, diz.

Segundo ela, o medo de cair e se machucar não supera a vontade de aprender e a diversão de acertar uma manobra.

Trabalho social muda a vida de monitor

Foi graças ao trabalho da ONG que a vida do estudante de Educação Física Carlos Eduardo de Castro Campos, 27 anos, mudou.

O morador da comunidade do Jardim Calux comemora o fato de ter trocado o trabalho em empresa metalúrgica pela monitoria em aulas de skate para crianças e jovens há seis anos. “Aquele trabalho era uma prisão. Não fazia o que gostava e não tinha tempo para me divertir.”

Parte da renda familiar do estudante de Educação Física vem do skate atualmente. Porém, não foi sempre assim. O esporte, que faz parte da vida do jovem desde os 7 anos, fez com que sentisse dentro de casa o significado da palavra preconceito durante a adolescência. “Minha família nunca apoiou porque é aquela história: todo mundo acha que skate é coisa de marginal só pela aparência”, lamenta Carlos Eduardo. Segundo ele, a mãe e a irmã escondiam o skate para tentar impedir que ele andasse, o que não surtiu efeito.

Apaixonado pelo trabalho realizado em dois projetos diferentes, Carlos Eduardo destaca que a energia e a felicidade que as crianças passam para o orientador a cada manobra aprendida são surpreendentes. “O skate ensina a pensar positivo e a ter autoconfiança. Ao mesmo tempo pode ser uma forma de distrair a cabeça e fazer amizades”, explica. Para o futuro, o jovem projeta evoluir na profissão e, quem sabe, conduzir a criançada nas competições do esporte. 




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