Brickmann Titulo
O Tom e os Jerrys

A Constituição proíbe, mas a cada instante surge uma nova forma de censura à imprensa.

Por Carlos Brickmann
29/06/2008 | 00:00
Compartilhar notícia


A Constituição proíbe, mas a cada instante surge uma nova forma de censura à imprensa. É importante lembrar que o direito à informação livre de censura não pertence aos meios de comunicação, nem aos jornalistas: pertence ao leitor, ao ouvinte, ao telespectador, ao internauta. O direito de ser informado é do cidadão.

A censura atingiu agora o grupo O Estado de S. Paulo, impedido de publicar reportagem sobre irregularidades de que é acusado o Conselho Regional de Medicina paulista, investigadas pelo TCU. O juiz-substituto da 10ª Vara Cível, por liminar, proibiu a publicação, a pedido do CRM. A explicação é que não há censura, porque o juiz não decidiu o mérito. A publicação, portanto, não está proibida, apenas suspensa. Ah!!!

Cabe à imprensa reagir com imaginação ao desafio da censura. Nos EUA, quando o governo tentou proibir a divulgação dos documentos do Pentágono sobre a Guerra do Vietnã, o jornal que fez as reportagens cedeu-as à concorrência. No primeiro dia, saiu no jornal A; o Pentágono impediu que o jornal A continuasse a publicá-la. No dia seguinte, saiu no jornal B; impedido de continuar, passou o terceiro capítulo ao jornal C, até que tudo saiu. Neste jogo em que o gato Tom, apoiado pelos tribunais, perseguiu os vários Jerrys, sem conseguir devorar nenhum, garantiu-se à opinião pública seu direito à informação - que consta, aliás, da 1º emenda à Constituição americana.

É hora de reagir: se o Estado não pode, que a Folha publique. Se a Folha não pode, que saia no Globo. Se o Globo não pode, que saia no Diário do Grande ABC, no Correio Popular, no Correio Braziliense, em Zero Hora.

A PALAVRA DO LEITOR
O jornalista Álfio Beccari, leitor desta coluna, se solidariza com o leitor João Alkimin, que propõe processar, além dos torturadores, também os promotores que sabiam das torturas e mesmo assim fizeram as acusações, e o juiz-auditor que mandou frei Tito de volta à tortura.

"Concordo com Alkimin", diz Beccari, "e acrescento: incluam-se também os nomes de médicos que acompanharam as torturas e os legistas que davam como causa-mortis o atropelamento".


PERIGO À VISTA
Há dois problemas nas propostas de Alkimin e Álfio Beccari: primeiro, a Lei da Anistia; segundo, a amplitude dos julgamentos. O coronel Brilhante Ustra, acusado de torturador, diz que o hoje senador Romeu Tuma (PTB-SP) sabia de todas as ações contra presos políticos, e promete incluí-lo entre as testemunhas de defesa. Pede-se a Ustra, em processo, que devolva à União o que gastou em indenização a presos que teriam sido torturados por ele.

O CAMINHO CERTO
O presidente do CRM diz que as denúncias não se sustentam, que fazem parte da campanha eleitoral da entidade (há eleições em agosto). Promete processar quem as publicar. Ótimo: é a medida correta, caso se sinta atingido. Mas, se as denúncias não se sustentam, por que não respondê-las, em vez de pedir censura?

DANDO PARA TRÁS
A propósito, depois de verificar a péssima repercussão do pedido de censura (e, provavelmente, depois de perceber que a luta pela não-publicação pode indicar que não tem resposta às acusações), o presidente do CRM disse que vai retirar o processo da Justiça. Fará bem; mas, se o fizer, terá feito tarde demais.

RUTH CARDOSO
Mesmo não sendo da família, estamos todos órfãos.

EM BOCA FECHADA
Ciro Gomes prometeu disputar sua última eleição em 2010. Os ouvidos do distinto público agradecem: como candidato, disse que a principal função de sua esposa na campanha era dormir com ele; agora, mesmo sem ser candidato, falou de novo, para dizer que Fortaleza, sob a gestão da petista Luizianne Lins, virou um prostíbulo a céu aberto - e prostíbulo, aliás, não foi a palavra que ele usou na TV. Detalhe: o partido de Ciro, o PSB, está na coalizão que apóia Luizianne, mas ele prefere apoiar sua ex-esposa, Patrícia Saboya, do PDT - o partido de Paulinho da Força, processado pela Comissão de Ética, e de Carlos Luppi.

MEU PAIPAI
São 13 partidos: PSDB, PSB, PDT, PR, PSC, PRB, PSDC, PMN, PRTB, PP, PTC, PSL e PHS formam a sopa de letrinhas que lançou a candidatura de José Bernardo Ortiz Jr. à Prefeitura de Taubaté, SP. E quem é o vice? José Bernardo Ortiz - sim, o pai do candidato. A candidatura não terá problema de paitrocínio.

BOA NOTÍCIA
A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, conseguiu encontrar tempo, no meio da tempestade política, para uma excelente iniciativa: sancionou a lei que proíbe a exibição de animais em circos. A partir de 1º de janeiro, acabam-se as jaulas minúsculas, a alimentação inadequada, o mau tratamento aos animais. Yeda segue o exemplo pioneiro de São Bernardo do Campo, SP: os circos sem animais continuam atraindo o público sem maltratar bicho nenhum.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;