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Morrer no Haiti

Quando o astrônomo Galileu Galilei, para sobreviver à Inquisição, renegou suas teorias, um discípulo o criticou

Por Carlos Brickmann
17/01/2010 | 00:00
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Quando o astrônomo Galileu Galilei, para sobreviver à Inquisição, renegou suas teorias, um discípulo o criticou: "Pobre do povo que não tem heróis!" E Galileu, segundo Brecht, o corrigiu: "Pobre do povo que precisa de heróis".

O Haiti não tinha heróis e foi preciso importá-los. Importou os militares brasileiros, que cumpriram seu dever de manter a ordem com eficiência e sem violência; que morreram no terremoto, ao lado dos haitianos; e que, mesmo tendo de enterrar seus mortos, lançaram-se à tarefa da salvação dos sobreviventes.

E dona Zilda Arns. Ela morreu como gostava de viver: trabalhando, dando o exemplo, esquecida do cansaço e da idade. Aos 75 anos, viúva, mãe de cinco filhos e avó de oito netos, o anjo que cuidou de tantas outras crianças e idosos achou tempo e forças para viajar ao Haiti e mostrar suas experiências a um povo que delas muito necessitava. A Pastoral da Criança e a Pastoral do Idoso, que criou, são referências internacionais, justo orgulho da Igreja Católica e do Brasil.

O Haiti precisava de heróis. Foi encontrá-los entre soldados brasileiros muito jovens e uma santa brasileira de avançada idade e inesgotável boa-vontade.

Um ramo místico do Judaísmo conta a história de 36 pessoas santificadas, os Justos. Há no mundo, sempre, 36 justos; pessoas que fazem o bem, que anonimamente se sacrificam pelos outros. Por sua simples existência, justificam perante Deus a sobrevivência da Humanidade, que sem eles seria aniquilada.

Perdemos Zilda Arns, sem dúvida uma dos justos. Haverá como substituí-la?

LICITAÇÃO PARA QUÊ?
Enquanto boa parte da imprensa ataca pesadamente o banqueiro Daniel Dantas, do Grupo Opportunity, suas atividades continuam a pleno vapor, sem merecer muito noticiário. A Santos-Brasil, do Opportunity, maior empresa portuária do país, inaugura nesta semana seu novo terminal de contêineres num terreno público de 100 mil metros quadrados, na margem esquerda do Porto de Santos, que teve a honra de receber gratuitamente, sem aquelas chatíssimas formalidades de licitação, embora houvesse pelo menos duas outras empresas interessadas.

OPERAÇÃO POSTE
O que falta decidir é o de sempre (e, sendo tucanos os principais envolvidos, decisão é um processo naturalmente doloroso): se o governador mineiro Aécio Neves será ou não seu companheiro de chapa. Neste momento, Aécio diz que está preocupado apenas em eleger o vice Antonio Anastasia para o Governo mineiro. Anastasia tem 13% das intenções de voto, abaixo do peemedebista Hélio Costa e do candidato que for lançado pelo PT. Aécio quer levá-lo a 30% - curiosamente, a mesma meta de outro administrador bem avaliado que quer eleger um poste para sua sucessão. A propósito, qual será o feminino de "poste"?

É LER E GOSTAR
Para conhecer melhor a história dos 36 Justos, há um excelente livro do francês André Schwartz-Bart. Prêmio Goncourt de 1959: O Último Justo, Editora Europa-América. Se for difícil encontrá-lo, recorra à Internet, que lista ótimas lojas de livros usados. É leitura pesada, triste, instrutiva; e muito boa.

A VOZ DE ZILDA ARNS
A última entrevista de dona Zilda a uma emissora brasileira será reprisada hoje, às nove da noite, no programa FrenteVerso, de Marco Lacerda. Ouça pela Rádio Inconfidência FM de Belo Horizonte, 100,9; ou, pela Internet, no endereço www.inconfidência.com.br. Zilda Arns morreu, mas sua palavra está viva.

BRASIL POTÊNCIA
A rápida mobilização do auxílio brasileiro ao Haiti colocou o Brasil na linha de frente das principais nações: hoje, fala-se num grupo formado por Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Brasil. Em termos de projeção nacional, a ajuda ao Haiti foi muito mais efetiva do que o apoio a candidatos inviáveis a cargos internacionais e à compra de caças por preços estratosféricos. Ponto para Lula.

BRASIL IMPOTÊNCIA
Mas, se no caso haitiano o Governo brasileiro agiu rápido, nas tragédias locais o ritmo é bem diferente. Até agora, não saiu nada do governo federal, nem um real sequer, para Angra dos Reis, atingida por desmoronamentos que mataram mais de 50 pessoas. Há R$ 80 milhões prometidos. Só prometidos.

O SALTO DE SERRA
O governador paulista José Serra continua se articulando, buscando novas alianças para sua candidatura à Presidência da República pelo PSDB. E continua negando que já tenha decidido ser candidato. Serra não vê sentido em expor-se antes da hora ao tiroteio que certamente receberá do grupo governista.

TUDO LEGAL
O terreno foi entregue à Santos-Brasil pela Codesp, estatal que cuida do Porto de Santos; a Receita Federal autorizou a movimentação de mercadorias; e a Antaq, Agência Nacional de Transportes Aquaviários autorizou o início das operações. A Santos-Brasil não discute a licitação: informa apenas (e, o que é pior, é verdade) que a operação foi autorizada pelas autoridades competentes.




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