Os 1.200 soldados brasileiros no Haiti fazem um trabalho heróico, um trabalho competente, um trabalho brilhante; parecem multiplicar-se no atendimento aos feridos, na distribuição de alimentos e água, na busca a sobreviventes.
O governo brasileiro, com ciúmes dos Estados Unidos, é a face feia que mostramos no Exterior. Em vez de preocupar-se com vidas, reclama da entrada dos norte-americanos na operação de socorro. E não há como concorrer com eles: cada navio-hospital norte-americano transporta mais gente do que o Brasil tem por lá. O correto é colaborar (e, se houver reclamações, deixá-las para depois que passar o pior da crise).
O problema é o ciúme de homem, que dizem ser o pior dos ciúmes. E nem chega bem a ser ciúme de homem, já que a chanceler norte-americana é mulher.
Muitos países estão fazendo o que podem, e aceitam, como solução mais adequada, o controle dos aeroportos pelos norte-americanos. França, Alemanha, Canadá, Israel, Holanda até agora não se preocuparam com filigranas diplomáticas no gigantesco trabalho de ajuda às vítimas do terremoto.
Este papel ficou para o Brasil - exatamente o país que mais se engrandeceu com o trabalho de suas equipes, um trabalho muito acima de suas possibilidades, mas que ameaça ser sufocado, em termos de imagem internacional, pelos enciumadinhos de Brasília.

Nas áreas mais radicais, já surgiram suspeitas de que foram os Estados Unidos, com mísseis, que causaram o terremoto. É mais um problema que só países ricos podem resolver: quem mais poderia fornecer rapidamente as camisas de força?

EL HERMANO SUPREMO
Um dos críticos mais contundentes da ação norte-americana no Haiti é o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Chávez já chegou a vender petróleo mais barato para comunidades carentes dos Estados Unidos, para aliviar seus problemas de aquecimento. No caso do Haiti, por que não se terão ainda aberto os cofres venezuelanos?

NINGUÉM TASCA
É fantástica a notícia de que o governador de São Paulo, José Serra, estaria pensando em desistir de candidatar-se à Presidência da República, assustado pelo avassalador crescimento da candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A notícia não é verdadeira, nem pode ser:
1 - O sonho de Serra é ser presidente da República. E sua grande oportunidade é agora, quando tem 67 anos, não em alguma data no futuro longínquo;
2 - Serra lidera as pesquisas com folga, mesmo sem se declarar candidato;
3 - Embora pendurada em Lula há um ano, inaugurando até pedra fundamental, Dilma Rousseff cresceu pouco. Hoje, perderia no primeiro turno. O ‘crescimento avassalador' de Dilma é como ‘o sucesso espantoso' do filme sobre Lula.
4 - O presidente Lula tem excelente avaliação. Michele Bachelet, a presidente do Chile cujo candidato acaba de perder as eleições, também tinha.